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Aos 65 anos, a norte-americana Bonnie Garmus – que durante décadas trabalhou como copywriter – publicou o seu primeiro livro. Chegou às prateleiras em Abril de 2022 e foi um sucesso de vendas. Hoje, está traduzido em 40 línguas (português incluído) e foi adaptado para uma linguagem diferente, a do audiovisual. Falamos de Lições de Química, a nova série da Apple TV+, que acompanha a química Elizabeth Zott (Brie Larson) e o seu sinuoso caminho num mundo – profissional e social – dominado por homens. Ambientada nos anos 50 do século passado, início dos 60, a história segue Zott, cujo sonho de ser cientista é suspenso por uma sociedade patriarcal.
Com uma inteligência acima da média, Zott é contratada como técnica de laboratório pelo Instituto de Pesquisa Hastings, que dela apenas espera apoio aos verdadeiros cientistas (todos homens, pois claro). Aí, diz a personagem a certa altura, serve “café excelente a químicos medíocres”, enquanto, às escondidas, tenta desenvolver uma investigação relacionada com arqueobactérias. Pelo meio, é acusada de ser snob e obrigada a participar num concurso de beleza da empresa. Resumindo e baralhando, é despedida e acaba por aceitar o desafio de apresentar um programa de culinária na televisão, chamado Supper at Six, no qual não só alia a química à culinária, como começa a ensinar muito mais do que receitas a uma nação de donas de casa colocadas em segundo plano. Uma série em oito episódios, com estreia marcada para 13 de Outubro.
No papel, e pelo menos nas chamadas sociedades ocidentais, as mulheres têm os mesmos direitos que os homens. No entanto, chegados a 2023, a luta pela igualdade ainda é um tema que acende discussões. Agora imaginemos uma América dos anos 1950, uma época em que, embora mais mulheres tivessem mais empregos, estas tinham ao mesmo tempo de cumprir com os estereótipos definidos para seu género. Tivessem ou não a aspiração de cumprir com as tarefas e também posturas impostas pela cultura vigente, centrada no papel da mulher como fada do lar. E por isso é também importante saber o que levou Bonnie Garmus a imaginar uma heroína de há 70 anos. Numa entrevista que a autora deu ao programa Sunday Morning, da CBS, aprendemos que já tinha escrito um primeiro livro, rejeitado pelas editoras 98 vezes. Esse livro ficou de lado, mas desistir não estava em cima da mesa. Até que um dia, no trabalho, um colega ficou com os louros de uma das suas ideias, motivando-a a começar a escrever Lições de Química. “Agora chamo a isso raiva construtiva”, disse na entrevista. “Conseguia ouvi-la [Zott] na minha cabeça, sabia que me queria dizer que a década dela era ainda pior”, recorda. Foram precisos cinco anos até Garmus terminar este seu primeiro romance, ou não tivesse de dividir o tempo entre a família e o seu outro trabalho a tempo inteiro. Pelo meio, foi aprendendo química (e quase que incendiou a casa) com a ajuda do livro The Golden Book of Chemistry Experiments, publicado em 1960 por Harry Lazarus. Ao contrário da sua primeira tentativa de publicação, desta vez as editoras fizeram fila para serem a chancela de Lições de Química. Ganhou a Doubleday, hoje parte do grupo editorial Penguin Random House.
Brie Larson (Quarto), também produtora executiva, lidera um elenco que conta com a prestação de Lewis Pullman (Top Gun: Maverick), no papel de Calvin Evans, outro cientista brilhante que reconhece as capacidades de Zott. Entre os dois acaba por florescer uma química especial. Destaque ainda para a participação dos actores Kevin Sussman (A Teoria do Big Bang) como Walter Pine, o produtor do canal KCTV que convida Zott para o programa de televisão; Rainn Wilson (O Escritório) no papel do produtor executivo machista Phil Lebensmal; Aja Naomi King (Como Defender um Assassino) na pele de Harriet Sloane, a vizinha que leva para o enredo o tema dos direitos civis na América; ou mesmo o multipremiado Beau Bridges (Os Fabulosos Irmãos Baker) como Wilson, uma figura do passado de Evans.
Com produção da Aggregate Films (Ozark), a adaptação de Lições de Química tem como criador Lee Eisenberg, um dos argumentistas da versão americana de O Escritório, em dupla com Gene Stupnitsky, ambos criadores da série Jury Duty, actualmente nomeada para quatro Emmys (a data para estreia desta em Portugal ainda não foi revelada).
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