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Em patins ou sobre tábuas, eles andam pela cidade a dançar

Fogem das colinas lisboetas para os espaços mais planos e contagiam quem os vê passar. Fomos conhecer quem faz de Lisboa uma pista de dança.

Joana Moreira
Escrito por
Joana Moreira
Jornalista
patins
Mariana Valle Lima
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“I just can't / I just can't / I just can't control my feet”. Os versos de The Jackson 5 saem de uma coluna portátil no chão da Doca do Espanhol, em Alcântara, e contagiam um grupo de patinadores, homens e mulheres, que rolam pelo asfalto com patins coloridos e vestes condizentes. “Foi um bocado pela covid”, culpa Elsa Campaoré, 28 anos, designer. “Vi um vídeo de roller dancing e como já gostava de dançar…”. Além disso, “encontrar pessoas fora do trabalho e começar relações do zero tem sido bom depois destes dois anos, que foram muito solitários".

É quarta-feira, fim de dia, e os patinadores movem-se livremente, cada um ao seu ritmo, mas unem-se na hora da coreografia. Diana Ross, rainha da disco, dá-lhes o mote: “Upside down / Boy, you turn me”. “Estava a passear no Martim Moniz e vi um poster muito fixe de uma menina a fazer assim [faz pose], que dizia ‘inscreve-te em aulas de roller dance’”, recorda Katarzyna Strauchmann, 29, analista financeira polaca a viver em Lisboa há cinco anos. “Vir aqui ajuda-me a descontrair, a relaxar. No trabalho não sinto que estou em Portugal, posso estar em qualquer outro sítio, é um escritório, mas ao fim da tarde sinto-me aqui, em Lisboa, com os meus amigos.”

patins
Mariana Valle Lima

O cenário, à beira-rio e perto da Ponte 25 de Abril, não foi escolhido ao acaso. Mais do que a vista, o motivo está no chão: o piso é liso e a área extensa. A responsável pela desenvoltura com que o grupo se move sobre patins de quatro rodas é Madalena Brandão Pereira, 27, @mad_rollerdance no Instagram. A jovem de Torres Vedras tem um passado ligado à patinagem artística – foi atleta dos sete aos 18 anos – e, já adulta, impôs-se a missão de tirar os patins do contexto desportivo e trazê-los para a rua.

“A cultura de roller disco, apesar de retratada nos ecrãs associada à mulher branca, tem origem na comunidade afro-americana e na sua segregação social. Patinei com a comunidade de LA e São Francisco e voltei da viagem com ainda mais vontade e a certeza de que Lisboa precisa desta energia”, conta Madalena à Time Out, lembrando que em outras cidades europeias, como Londres, Paris ou Amesterdão, “esta cultura já tem um longo percurso e grande expressão”. Por cá, dá aulas de roller dancing a miúdos e graúdos e organiza encontros semanais e mensais, que vai divulgando nas redes sociais. Confirma que a pandemia aumentou o interesse pela área e que hoje tem “uma comunidade bastante multicultural, internacional e intergeracional”. 

Ainda assim, não faz questão de parar (a saber: os patins de quatro rodas têm um travão à frente, basta inclinar um dos pés com a ponta dos dedos para baixo). “Em Lisboa espero que ganhemos cada vez mais impacto e que se criem mais estruturas dedicadas aos rollerdancers.” Em 2021, Madalena viu aprovada a sua proposta para o Orçamento Participativo de Lisboa para “um novo roller skate circle, um espaço ao ar livre dedicado a patinadores, um espaço mais seguro, lisinho, porque aqui nas Docas há todo o tipo de actividades”. No site da CML, a proposta, com um orçamento estimado de 150 mil euros, encontra-se em estudo.

Longboard dancing
Mariana Valle LimaGiu Alfeo

Em cima de um skate também se dança

"Era super-medrosa com cenas de rodas, mas pus isto na cabeça."  O “isto” é acabar o dia em cima de uma longboard, uma tábua mais longa do que o clássico skate. Beatriz Boavida, 23, terminou mais uma aula. É a quarta e está a evoluir, conta à Time Out. A lisboeta trabalha numa consultora e passa os fins de tarde de sábado no Terminal de Cruzeiros. Primeiro é aquela sensação de ‘o chão anda?’, mas depois é incrível, é uma sensação de liberdade.

Uma rapariga aproxima-se e descreve, orgulhosa, como construiu a sua nova tábua seguindo um tutorial no Youtube. A partir das 18.00, Giu Alfeo orienta todos os que ali se juntam. Com 28 anos, veio da Alemanha para Portugal definitivamente em Novembro e está, desde o início do ano, atrás da Dock Session Lisbon, uma página no Instagram dedicada a promover o longboarding em Lisboa. É longboard dancer, ensina (dá aulas particulares antes dos encontros), faz publicidade. A todas as sessões, gratuitas, adiciona uma camada de dificuldade: a dança. “Tento fazer esta fusão entre skating e dancing, a cena longboard dancing ainda é bastante recente”, diz Alfeo. “O meu foco é criar uma comunidade aqui.” Traz sempre tábuas a mais para que todos possam experimentar, e recebe qualquer um com um sorriso. “É fixe criar um espaço confortável e seguro para que qualquer pessoa, independentemente da idade, do género, ou de que origem possa vir.”

@docksessionlisbon

Este artigo foi originalmente publicado na revista Time Out Lisboa, edição 659 — Outono 2022.

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