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Maria Ana Silva Vieira escreveu um livro sobre a história do chá no mundo e em Portugal e os seis tipos de chá existentes. E tem Receitas à Volta do Chá.
Maria Ana era o tipo de cliente que corrige quem responde à pergunta “que chás tem?” com “camomila e cidreira”. Isto são infusões, chá é outra coisa e é preciso respeitá-lo, diz numa rápida conversa telefónica sobre a bebida que um imperador chinês descobriu quando caíram folhas de uma árvore na sua chávena de água quente, conta a lenda. Por isso escreveu um livro só dedicado ao chá, à sua história, às variedades, e juntou a isso uma data de receitas com chá e a forma ideal de preparar cada tipo de chá.
“Os nossos filhos talvez conheçam melhor o cheiro de um computador a sobreaquecer [do que do chá]”, brinca Maria Ana Silva Vieira. Há sete anos interrompeu a carreira na área da educação para cuidar da família, e ao ir na direcção de uma alimentação mais saudável, apercebeu-se que o chá que tinha o hábito de beber estava afinal cheio de propriedades e, mais do que isso, cheio de história. “Temos de começar a respeitá-lo, até por toda a influência portuguesa na história do chá”, diz Maria, lembrando que o gosto português se focou nas infusões, por serem mais acessíveis do que a camellia sinensis (ou o chazeiro), a planta do chá. “São necessários três a cinco anos para a primeira colheita e a planta é delicada. É uma questão de paciência, o retorno económico não é imediato”, explica sobre a razão por que tentativas de plantações de chá em Portugal continental e na Madeira não vingaram. Sintra, Ponte de Lima e algumas zonas do Alentejo podiam ter hoje as suas plantações de chá desde o século XVIII, mas não houve paciência nem investimento para isso, e só agora surgiu a primeira plantação de chá no continente, em Vila do Conde, o Chá Camélia.
Estas histórias estão no Receitas à Volta do Chá, editado pela Leya, que também passa revista aos seis tipos — chá branco, verde, amarelo, preto, oolong e vermelho — e à forma perfeita de se preparar cada um. Demasiado tempo para folhas muito pequenas amarga os sabores e deixa na boca uma sensação adstringente; pouco tempo pode não retirar todo o potencial de um chá; para alguém que nunca bebeu chá é aconselhado um tempo de infusão, para os que gostam de chá, outro, explica a autora e tea blender.
Ao longo de 200 páginas há ainda receitas que podem ir das aromatizações — como o peito de frango marinado com chá preto — aos bolos e batidos em que o chá (muitas vezes o matcha, muito presente em todo o livro) é a estrela.
Para lá da moda do matcha e da comida saudável — muito presente também neste livro através dos smoothies, de algumas sementes como a chia, da recusa de açúcares refinados ou de alternativas vegetais ao leite, por exemplo — o chá aparece aqui como um momento ritual “de comunhão com a natureza”, numa referência às cerimónias do chá orientais. “O chá é uma bebida totalmente natural, sem aditivos, e até pela história da sua descoberta é impossível não pensar na natureza. No Japão e na China as cerimónias do chá têm como objectivo a aproximação do homem à natureza”, diz Maria Ana, que prepara a abertura de uma loja online dedicada ao chá e a tudo o que lhe diz respeito. “O chá lembra-nos constantemente da pureza das coisas. Quando preparo um chá para mim é o único momento do dia em que o tempo demora a passar porque estamos à espera que passe, permite a introspecção”.