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Já teve várias vidas, mas nunca como hotel de cinco estrelas. Em quase três séculos, começou por ser casa do arquitecto que lhe dá nome, João Frederico Ludovice (1673-1752), resistiu ao terramoto de 1755 e tornou-se modelo para o Marquês de Pombal. Também foi quartel-general da polícia e mais recentemente tornou-se no pouso do Solar do Vinho do Porto. Este era, aliás, um dos segredos mal guardados da cidade: umas portas que pareciam não convidar muito a entrar e que acolhiam uma verdadeira embaixada do vinho do Porto em Lisboa. Agora, e depois de um investimento milionário – 26 milhões de euros com a compra do edifício –, abre portas no Miradouro de São Pedro de Alcântara o Palácio Ludovice Wine Experience Hotel.
O edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público, está mais luminoso. O entra e sai pela porta principal denunciam a nova vida. Quase sem se anunciar, as reservas foram chegando. Lisboa retoma o seu lugar na preferência dos turistas, mas nem só para hóspedes vive o Ludovice. Pelo contrário, o hotel quer ser ponto de encontro também para quem vive na cidade. Seja pelo loja e day spa da Caudalie, seja pelo Solar do Vinho do Porto que continuará de portas abertas e a promover provas de vinhos, seja ainda pelo bar e restaurante, Federico.
O restaurante, que tem porta directa pelas traseiras do hotel, em pleno Bairro Alto, tem uma pinta cosmopolita. Destaca-se o grande balcão vermelho, mas é no pátio interior, onde ficam as mesas, que se está melhor. É bonito e luminoso, graças à claraboia cuidadosamente escolhida para ali. Na cozinha, está o chef Ricardo Simões, com experiência em hotéis como o Pestana Palace, o Sheraton ou o Verride Palácio de Santa Catarina. A proposta aqui centra-se na cozinha tradicional portuguesa com pratos como a chanfana de cabra velha, puré de batata e grelos (25€) ou o arroz de tamboril e camarão (28€).
Sendo o vinho um dos focos do hotel, no Federico há mais de 300 referências portuguesas. Quando abrir a loja do Solar do Vinho do Porto – o que deverá acontecer nos próximos dias –, a experiência completa-se com provas e outras iniciativas. Não é por acaso que o hotel leva no nome “Wine Experience”.
Jacques Chahine e Miguel Câncio Martins são os nomes por detrás desta transformação. Foram eles que compraram o edifício e tiveram a ideia de o tornar numa unidade hoteleira. Miguel Câncio Martins não é novo nisto. É dele também a Quinta da Comporta.
“Eu queria ter um hotel em Lisboa, não estava com muita pressa, mas depois quando vi esta oportunidade…”, começa por contar o arquitecto que assina também o projecto de reabilitação. “Não há melhor sítio do que este em Lisboa, com estas vistas desafogadas”, continua, explicando que foi feito um esforço para manter tudo o que fosse possível manter. Para isso, mergulharam na história e nos arquivos. O que nos últimos anos estava fechado foi aberto, as paredes foram restauradas. “Tudo o que conseguimos conservar, conservámos”, diz. “A DGPC [Direcção-Geral do Património Cultural] gostou muito, diz que foi uma das melhores renovações que viram.”
Precisamente por ser um edifício classificado, há regras a seguir. O resultado são 61 quartos, todos eles diferentes entre si. Criaram-se novas tipologias, com preços a começar nos 220€. Há um quarto que nos tempos de João Frederico Ludovice era uma cozinha comunitária, outro que pelo tamanho e pela impossibilidade de se dividir é maior que todos os outros – a solução aqui foi fazer a casa de banho dentro de uma box a meio do quarto. Há andares com o pé direito mais alto que outros, paredes de azulejos azuis e brancos de diferentes períodos, uma capela com símbolos maçónicos e inscrições hebraicas que é hoje sítio de passagem para o quartos, várias zonas de descanso longe dos olhares e uma escadaria majestosa.
Com o tempo, é provável que o Ludovice se torne numa paragem frequente na cidade. Há muitas salas vazias que podem receber uma agenda, de pop-ups a iniciativas culturais – quase sempre regadas a vinho.
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