Notícias

‘Emília’ e ‘Capitães do Açúcar’ estreiam na RTP1 a 1 de Maio

As novas séries da RTP, ‘Emília’ e ‘Capitães do Açúcar’, são duas histórias bem distintas, mas em comum espelham algumas das realidades da geração millennial. Estreiam a 1 de Maio na RTP 1 e RTP Play.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Emília
©DRBeatriz Maia, em 'Emília'
Publicidade

O audiovisual português tem uma nova geração de criadores que está a pôr as suas cartas sobre a mesa. Desta vez, com duas novas produções apoiadas pela RTP: Emília, uma história sobre a coragem de arriscar e com algum humor à mistura, escrita e realizada por Filipa Amaro, também autora de Frágil, disponível na RTP Play; e Capitães do Açúcar, realizada por Ricardo Leite, que desenvolveu o argumento com Tiago Sarmento e Tiago Correia, uma aventura que foca um grupo de amigos que cozinham uma nova e misteriosa substância psicotrópica, em busca da liberdade. Sentámo-nos a conversar com os autores nos escritórios da Maria & Mayer, a produtora por detrás de ambos os projectos.

Coragem para tentar

Há três anos, Filipa Amaro estreou o seu primeiro projecto em episódios na RTP Play, mas esta é a primeira vez que chega a um canal linear com uma série. Depois de Frágil, uma tragicomédia que acompanha três raparigas que lutam por encontrar o seu caminho em Lisboa, Filipa criou Emília. Interpretada pela Beatriz Maia, a protagonista que dá nome à série sonha desde pequena em ser bailarina, mas nunca fez nada para concretizar o desejo. Até que aos 25 anos, e nas redes sociais, descobre que vai acontecer uma audição numa companhia de dança contemporânea, altura em que surge o conflito: ir e ser possivelmente rejeitada ou enfrentar a possibilidade de poder mudar a sua vida para sempre. 

A história, que conta ainda com as interpretações de Catarina Rebelo, Ivo Canelas, Igor Regalla, Maria Emília Correia, entre outros, é mais uma comédia regada a tragédia (ou vice-versa), onde o tema das redes sociais ocupa o seu espaço no argumento. “É como se houvesse este palco digital em que uma pessoa está super exposta desde o início. Imagina nós termos os nossos primeiros erros gravados para sempre e publicados. É assustador. E depois o nível de comparação é muito maior do que era antes. Ganhar coragem para tentar é interessante, porque essa é a ideia universal da série. Se não tentares também não podes falhar e é um lugar seguro para estar”, explica a realizadora que, aos 30 anos, acredita pertencer a uma geração “que tem muito medo”.

Emília
©DREmília

Filipa confessa não ter esperado que a série fosse financiada porque "é uma série baseada em coisas pequeninas", "aquelas coisas que se calhar parecem um bocadinho insignificantes, mas vistas de dentro são enormes." A autora sente-se ela própria vulnerável ao ter outras pessoas a ler e a criticar a série “ou a não perceber o tom”, que, nas suas palavras “parece super trágico, mas no fundo é aí que se encontra o humor.” 

Como espectadora, Filipa Amaro tem como grandes referências comédias como Fleabag, Atlanta, Louie ou DAVE, “séries com personagens que estão a tentar fazer alguma coisa, estão-se a pôr vulneráveis, estão-se a levar extremamente a sério, mas de fora conseguimos perceber que as situações são ridículas. Revemo-nos nelas e eu acho que só me rio quando me consigo rever no personagem”, defende. E desenvolve: “Quais são as contradições de que somos feitos? Acho que há humor nisso. Por outro lado, é a escrita mais difícil de fazer, porque o humor tem uma resposta muito imediata, ou rio ou não me rio. E é uma escrita que devia ser levada mais a sério, é mais complexa de conseguir fazer bem, não só pela resposta ser imediata, mas também porque é feita de muitas camadas e contradições. Feita de pessoas que por dentro estão a levar aquilo tão a sério que de fora tem graça. Não são pessoas a tentar fazer piadas, não é esse tipo de humor que eu sou espectadora.”

E para encontrar o tom certo, era importante encontrar a Emília certa. “A Beatriz Maia tinha uma particularidade que é: eu não queria bailarinos que também representassem um bocadinho. Queria excelentes actores que tivessem qualidade de movimento, que estivessem à vontade com o corpo. Depois já tinha a Emília e não conseguia encontrar a Rosa [Catarina Rebelo]. Quando fizeram o casting juntas, já no final, encontraram o humor numa cena que eu tinha. As outras pessoas iam para o lado super trágico, condicionadas por anos e anos de guiões trágicos. E elas tiveram uma interpretação muito inteligente sobre o texto”, recorda. Para a realizadora, o objectivo passou por criar uma boa série de entretenimento. “Que não seja um trabalho de casa, uma lição de moral. Acho que isso é muito aborrecido.”

Arte e psicotrópicos

Também muito pouco aborrecida é a produção realizada por Ricardo Leite, que tem actualmente um curta-metragem a circular pelo circuito festivaleiro: 2020: Odisseia no 3º Esquerdo. Mas foi Tiago Sarmento, actor e dramaturgo, que lhe vendeu a ideia destes Capitães do Açúcar, um grupo de amigos que convidam um estudante de ciências farmacêuticas para cozinhar uma nova droga chamada açúcar (e vendida em pacotinhos de açúcar).

“Vi um espectáculo do Victor Hugo Pontes sobre o Capitães de Areia, do Jorge Amado. E fiquei muito interessado nesta ideia do grupo de miúdos de rua que roubam para sobreviver. [Em Capitães do Acúcar], o objectivo final é subsistir da arte, que é quase utópico em Portugal. Queríamos retratar a crise financeira das artes plásticas, mas também mostrar o sonho. E para isso foi necessário alguma ventura, daí fazermos quase uma analogia aos Capitães da Areia. Porque para nós a substância psicotrópica não é apenas para festas, diversão e criação artística, mas é também um manifesto artístico”, explica Tiago Sarmento. Foi das suas mãos que nasceu o episódio piloto, que apresentou ao Ricardo. Juntos, criaram o embrião desse primeiro argumento – e depois Tiago Correia juntou-se à equipa para o desenvolver.

Capitães do Açúcar
©DRCapitães do Açúcar

Tiago Sarmento e os actores Diana Sousa Lara, Vicente Wallenstein, Igor Regalla e José Mata formam o grupo  dos Capitães do Açúcar. “O nosso objectivo é que as personagens pudessem ser reais. É muito difícil criarmos esse universo credível sobre substâncias psicotrópicas. A partir do momento que começamos a ter ensaios, e ensaios com consultora científica, a conhecer a equipa criativa, toda a gente nos falava que o universo era muito especial”, lembra Tiago Sarmento, para quem é urgente olhares mais íntimos sobre a sua geração. “Sentíamos falta de narrativas que nos representassem e falassem de coisas que para nós são importantes.”

São ambos do Porto. Tiago Sarmento acabou por vir morar para Lisboa por motivos profissionais, mas Ricardo Leite não quer abandonar a sua terra pelas mesmas razões. “O sítio onde estou não tem de definir se consigo ou não consigo continuar a fazer cinema, audiovisual e continuar a contar as minhas histórias”, diz. Sim, é uma série com sotaque, dentro, mas grande parte destes capitães é da capital. No entanto, continua Ricardo, “a própria biografia dos personagens levou-os a todos ao Porto”, ou seja, não há personagens do Porto com sotaques mal amanhados. Já o restante elenco é composto por muitos actores do Norte, e o mesmo acontece com elementos da equipa técnica desta produção.

A prova de fogo para as duas produções começa no feriado de 1 de Maio, com a estreia dos primeiros episódios de Emília, às 22.30, e Capitães do Açúcar, às 23.00. No mesmo dia, todos os episódios de cada série ficam disponíveis na RTP Play. Nas palavras de José Fragoso, director da RTP1, “o que temos são dois conteúdos muito frescos, no sentido da frescura original de conteúdos que têm preocupações novas, não muito tratadas na ficção portuguesa. Têm guiões e realizações inteligentes, as pessoas que acompanharem as duas séries vão ficar até surpreendidas.”

RTP1. Emília 22.30; Capitães do Açúcar 23.00. Estreia a 1 de Maio

+ Nova produtora portuguesa de animação estreia série no YouTube

+ Netflix adapta a minissérie romance histórico vencedor do Prémio Pulitzer

Últimas notícias

    Publicidade