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Entre a nostalgia e o futuro, a carne não entra na Tasca Zebras

Era um restaurante tradicional, uma tasca em fim de vida. Márcio Duarte do Machimbombo recuperou-o, sem que se perdesse a história do espaço.

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
Tasca Zebras
Francisco Romão Pereira
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Quem conheceu o Zebras do Combro reconhecerá o espaço e o esforço que Márcio Duarte, proprietário também do Machimbombo praticamente ao lado, fez para que a alma da tasca não se perdesse. Mantêm-se os azulejos em tons brancos e azuis, talvez o traço mais memorável dessa vida antiga. No entanto, o restaurante que decidiu comprar para que não desaparecesse está hoje mais luminoso – o espelho no tecto muito ajuda para que assim seja, mas não só. É palpável a esperança de uma nova vida.

Aos comandos do Machimbombo, em plena Calçada do Combro, Márcio acabou muitas vezes por comer neste Zebras do Combro, criando uma ligação com a família que geria o espaço. “O Henrique, o ex-proprietário, disse que via em mim a energia que tinha há muitos anos e começámos a dialogar. Ele estava aqui em apuros, já não conseguia fazer isto, estava tudo cheio de remendos, já não tinha energia para fazer nada e o negócio estava a morrer”, começa por contar. Márcio soube logo o que queria fazer. 

Tasca Zebras
Francisco Romão Pereira

À dificuldade cada vez maior de encontrar boas tascas, decidiu recriar uma. “Em Lisboa, o crescimento foi abrupto nos últimos anos. Lisboa deu salto e de repente parece que só há fine cuisine. Nós queremos ser fun, queremos uma cozinha portuguesa, confeccionada com amor. Queremos agarrar nos pratos portugueses e fazê-los bem feitos”, continua o responsável, que mudou o nome do restaurante para Tasca Zebras, mas fez questão de manter na cozinha a equipa que ali trabalhava. “A Anabela está cá desde 1983 e é ela quem faz tudo. Faz uns pastéis de bacalhau que são qualquer coisa”, revela.

Tasca Zebras
Francisco Romão Pereira

Há, contudo, uma excepção que Márcio estabeleceu e que foge à regra habitual deste tipo de restaurantes: a carne não entra. “Para ter carne teria de ter a melhor carne que existe. Não vou entrar nesse negócio”, defende, revelando não comer esta proteína há já 18 anos.

Tasca Zebras
Francisco Romão PereiraCaldo verde com broa

Não é um ponto fraco da carta, mas um ponto forte, acredita. “A nossa comida é estrondosa. Basicamente, fui buscar todos os pratos de todos os restaurantes a que eu ia e que estava farto de comer mal. Não consigo comer um polvo à lagareiro a nadar em alho e azeite a ferver. Não consigo comer um caldo verde que não seja só água e batata. Não faz sentido”, explica, contando que para o desenvolvimento do menu contou com a ajuda do chef João Saloio, do Mãe Cozinha com Amor. “O João esteve três meses e meio connosco a lidar com a cozinha, a tirar vícios. Além disso, ele trabalha muito esta linha tradicional, despretensiosa.”

Nas entradas, sem surpresa, há assim um caldo verde com broa (4,50€), sem chouriço, já se sabe, e o pastel de bacalhau de Anabela (1,80€), mas também umas pataniscas de bacalhau ou legumes (6€), uns peixinhos da horta (7€) e um rissol de camarão (1,80€). 

Tasca Zebras
Francisco Romão PereiraPica pau do mar

Nos pratos, tanto há petiscos como camarão ao alho (13€) e salada de polvo (13€), como propostas mais arrojadas no caso do pica pau do mar (14€), com polvo, camarão e dourada no lugar da carne. O polvo à lagareiro acompanha com espinafre e batata assada (17€) e o bacalhau está no menu à Brás (13€) e à lagareiro (17€). 

Tasca Zebras
Francisco Romão PereiraPrego de atum

Márcio não se coíbe, ainda assim, de elogiar o prego de atum (13€). “É atum fresco dos Açores, são 150 gramas”, afirma. Já nos acompanhamentos, Márcio destaca as batatas fritas caseiras (4,50€) e o arroz de tomate malandrinho (5€). Tudo sempre servido em tachos que já não se encontram em todo o lado e nas clássicas travessas de inox. E nas sobremesas a mousse de chocolate é já a favorita (6€). Para beber, Márcio apostou numa carta de vinhos ecléctica, assente em pequenos produtores. 

Tasca Zebras
Francisco Romão PereiraMousse de chocolate

“O Machimbombo foi um parto forçado. Surgiu acidentalmente na minha vida e depois acabei por ficar com tudo. Levei muita pancada, tivemos o incêndio, stress com vizinhos… Já este projecto eu escolhi-o e isso dá-me esse prazer”, confidencia Márcio, com a ambição de que a Tasca Zebras se torne numa paragem incontornável da cidade. “O meu sonho era um dia ter tanto sucesso que as pessoas esperassem lá fora sentadas nos degraus a beber um copo de vinho. Esse é o meu objectivo.”

Calçada do Combro 51 (Bairro Alto). 21 584 3731. Qui-Ter 12.00-00.00, Qua 17.00-12.00

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