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Quem conheceu o Zebras do Combro reconhecerá o espaço e o esforço que Márcio Duarte, proprietário também do Machimbombo praticamente ao lado, fez para que a alma da tasca não se perdesse. Mantêm-se os azulejos em tons brancos e azuis, talvez o traço mais memorável dessa vida antiga. No entanto, o restaurante que decidiu comprar para que não desaparecesse está hoje mais luminoso – o espelho no tecto muito ajuda para que assim seja, mas não só. É palpável a esperança de uma nova vida.
Aos comandos do Machimbombo, em plena Calçada do Combro, Márcio acabou muitas vezes por comer neste Zebras do Combro, criando uma ligação com a família que geria o espaço. “O Henrique, o ex-proprietário, disse que via em mim a energia que tinha há muitos anos e começámos a dialogar. Ele estava aqui em apuros, já não conseguia fazer isto, estava tudo cheio de remendos, já não tinha energia para fazer nada e o negócio estava a morrer”, começa por contar. Márcio soube logo o que queria fazer.
À dificuldade cada vez maior de encontrar boas tascas, decidiu recriar uma. “Em Lisboa, o crescimento foi abrupto nos últimos anos. Lisboa deu salto e de repente parece que só há fine cuisine. Nós queremos ser fun, queremos uma cozinha portuguesa, confeccionada com amor. Queremos agarrar nos pratos portugueses e fazê-los bem feitos”, continua o responsável, que mudou o nome do restaurante para Tasca Zebras, mas fez questão de manter na cozinha a equipa que ali trabalhava. “A Anabela está cá desde 1983 e é ela quem faz tudo. Faz uns pastéis de bacalhau que são qualquer coisa”, revela.
Há, contudo, uma excepção que Márcio estabeleceu e que foge à regra habitual deste tipo de restaurantes: a carne não entra. “Para ter carne teria de ter a melhor carne que existe. Não vou entrar nesse negócio”, defende, revelando não comer esta proteína há já 18 anos.
Não é um ponto fraco da carta, mas um ponto forte, acredita. “A nossa comida é estrondosa. Basicamente, fui buscar todos os pratos de todos os restaurantes a que eu ia e que estava farto de comer mal. Não consigo comer um polvo à lagareiro a nadar em alho e azeite a ferver. Não consigo comer um caldo verde que não seja só água e batata. Não faz sentido”, explica, contando que para o desenvolvimento do menu contou com a ajuda do chef João Saloio, do Mãe Cozinha com Amor. “O João esteve três meses e meio connosco a lidar com a cozinha, a tirar vícios. Além disso, ele trabalha muito esta linha tradicional, despretensiosa.”
Nas entradas, sem surpresa, há assim um caldo verde com broa (4,50€), sem chouriço, já se sabe, e o pastel de bacalhau de Anabela (1,80€), mas também umas pataniscas de bacalhau ou legumes (6€), uns peixinhos da horta (7€) e um rissol de camarão (1,80€).
Nos pratos, tanto há petiscos como camarão ao alho (13€) e salada de polvo (13€), como propostas mais arrojadas no caso do pica pau do mar (14€), com polvo, camarão e dourada no lugar da carne. O polvo à lagareiro acompanha com espinafre e batata assada (17€) e o bacalhau está no menu à Brás (13€) e à lagareiro (17€).
Márcio não se coíbe, ainda assim, de elogiar o prego de atum (13€). “É atum fresco dos Açores, são 150 gramas”, afirma. Já nos acompanhamentos, Márcio destaca as batatas fritas caseiras (4,50€) e o arroz de tomate malandrinho (5€). Tudo sempre servido em tachos que já não se encontram em todo o lado e nas clássicas travessas de inox. E nas sobremesas a mousse de chocolate é já a favorita (6€). Para beber, Márcio apostou numa carta de vinhos ecléctica, assente em pequenos produtores.
“O Machimbombo foi um parto forçado. Surgiu acidentalmente na minha vida e depois acabei por ficar com tudo. Levei muita pancada, tivemos o incêndio, stress com vizinhos… Já este projecto eu escolhi-o e isso dá-me esse prazer”, confidencia Márcio, com a ambição de que a Tasca Zebras se torne numa paragem incontornável da cidade. “O meu sonho era um dia ter tanto sucesso que as pessoas esperassem lá fora sentadas nos degraus a beber um copo de vinho. Esse é o meu objectivo.”
Calçada do Combro 51 (Bairro Alto). 21 584 3731. Qui-Ter 12.00-00.00, Qua 17.00-12.00
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