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Entre a política e a pornografia, a Festa do Cinema Italiano atinge a maioridade

Aos 18 anos, a Festa do Cinema Italiano apresenta uma programação que arranca com política e encerra com pornografia, entre 9 e 17 de Abril. Mas a festa ocupa mais dias no calendário.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Diva Futura - Cicciolina e a Revolução do Desejo
©Cortesia Festa do Cinema Italiano | 'Diva Futura - Cicciolina e a Revolução do Desejo'
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“Um jovem, quando chega à maturidade, pode fazer várias coisas. Pode votar e ter um papel importante no mundo da política. E depois a idade representa uma liberdade na expressão sexual. Por isso, a nossa ideia é abrir e fechar o festival com dois filmes paradigmáticos desse conceito.” Stefano Savio, director da Festa do Cinema Italiano, inaugurou assim a apresentação que decorreu na manhã desta terça-feira no restaurante Mano a Mano, em Lisboa. Uma introdução que não foi a despropósito e se referia aos 18 anos desta festa que tem dado a conhecer o cinema italiano contemporâneo e não só. O Cinema São Jorge é o ponto nevrálgico da programação.

Será a política a dominar a sessão de abertura, a 9 de Abril, com o filme A Grande Ambição, de Andrea Segre. Uma longa-metragem que recorda a vida de Enrico Berlinguer, antigo secretário-geral do Partido Comunista Italiano, “num filme muito actual que mostra como na política o caminho certo é o do compromisso”, descreveu Stefanio Savio, recordando a forma como Stefano “queria fundamentalmente encontrar um consenso”, tentando juntar adversários políticos à mesa para alcançarem “uma linha política comum”.

Andrea Segre
©Cortesia Festa do Cinema Italiano'A Grande Ambição', de Andrea Segre

Na outra ponta da programação, a sessão de encerramento conta com Diva Futura – Cicciolina e a Revolução do Desejo, de Giulia Steigerwalt, filme estreado na última edição do Festival de Cinema de Veneza, sobre a agência italiana de actrizes porno, de seu nome Diva Futura, onde Cicciolina era a grande estrela das agenciadas. “Não é um filme pornográfico, mas mostra uma altura de grande libertação”, destaca o director da Festa do Cinema Italiano, num enredo que percorre as décadas de 1980 e 1990. Pelo meio, entre a política e a pornografia, há mais antestreias para ver, entre elas Loucamente, de Paolo Genovese, uma versão para adultos de Divertida-mente, e Marcello Mio, de Christophe Honoré, filme francês e uma comédia surreal com Chiara Mastroianni a vestir a pele do seu pai.

Marcello Mastroianni será uma das figuras em destaque nesta edição do festival, a propósito do centenário do seu nascimento. O foco será, nas palavras de Stefanio Savio, o “Mastroianni português”, num conjunto de obras que marca a sua passagem pelo cinema português. Foi por cá que terminou a sua carreira, com o filme Viagem ao Princípio do Mundo (1997), de Manoel de Oliveira, estreado dois anos após outra produção com selo nacional: Afirma Pereira, de Roberto Faenza, baseado no romance de Antonio Tabucchi. E por ocasião do 30.º aniversário desta produção, a Festa do Cinema Italiano será a casa da estreia mundial de um documentário, chamado Sostiene Pereira, 30.º Aniversário, feito para assinalar a efeméride, realizado por Antonio Pelliccia, que revela os bastidores do filme e conta com testemunhos de alguns participantes. A programação reservou ainda espaço para Mi ricordo, sì, io mi ricordo (1997), “um testamento espiritual e artístico que Mastroianni filmou em Portugal pela sua companheira da altura”, diz Stefanio Savio, referindo-se à realizadora Anna Maria Tatò.

Roberto Faenza
©Cortesia Festa do Cinema Italiano'Afirma Pereira', de Roberto Faenza

Além desta viagem ao passado com uma ligação especial a Portugal, a Cinemateca Portuguesa acolhe uma retrospectiva especial, em parceria com a Festa do Cinema Italiano, e cujo calendário antecede e sucede o do festival. Entre 1 e 23 de Abril, será dada a conhecer a obra integral de um cineasta italiano menos conhecido: Antonio Pietrangeli. “Daqueles autores que não são tão conhecidos talvez seja o mais extraordinário de todos”, defende Nuno Sena, subdirector da Cinemateca, que lamenta a “amnésia colectiva sobre uma obra que é absolutamente extraordinária e que passou a ser valorizada à medida que os filmes foram sendo restaurados”. Realizou treze filmes entre os anos 1953 e 1969 e a morte prematura de Pietrangeli poderá ter ditado o esquecimento deste autor “tão importante como os gigantes do cinema italiano desses anos, com uma obra mais curta que muitos deles, porque foi interrompida precocemente”. Nuno Sena define-o como um “cineasta dos sentimentos e da condição humana”, especialmente no que às mulheres diz respeito, retratando “grandes personagens femininas”.

A programação completa da Festa do Cinema Italiano pode ser consultada no site do festival e há mais do que cinema para descobrir, num programa que também inclui música, gastronomia ou comédia stand-up e que não se esgota na cidade de Lisboa.

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