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Era uma vez uma Sara, um Francisco e uma paixão em comum pela música que haveria de os juntar. Tudo começou no Verão de 2003, numa aldeia em Trás-os-Montes. Foi aí que se conheceram, por entre canções bonitas e bandas de garagem, e daí que partiram para o mundo. Primeiro para a universidade em Coimbra, depois para Londres e Paris e, por fim, para Lausanne, na Suíça, onde vivem com os seus três filhos e um podcast com menos de três meses. Chama-se Só Mais Uma História e foi muito desejado. É que os podcasts de histórias para a infância são sempre o ponto alto das viagens que fazem em família. E, «porque não?» pensaram, fazer nascer um em português, que outros adultos e outras crianças pudessem ouvir e ver de olhos fechados. A primeira temporada já está disponível em streaming – são oito episódios para descobrir no Spotify, na Apple ou no Youtube, juntamente com as ilustrações de Teresa Torres, que os acompanham – e a segunda chega lá para Março.
“Fazemos viagens de caravana pela Europa e tentamos não usar ecrãs para entreter os miúdos, porque eles ficam mais agitados. Normalmente fazemos jogos e ouvimos canções ou podcasts infantis, porque o mercado francófono é fértil em projectos do género. Mas, quando decidimos procurar em português, porque falamos em português com os miúdos, não encontrámos nada que gostássemos tanto. Eventualmente surgiu a ideia de fazermos nós qualquer coisa, que incluísse também música”, conta-nos Francisco Alves, que é gestor de projectos IT quando não está a escrever, a realizar ou a produzir Só Mais Uma História. Os episódios, que começaram a ser lançados em Dezembro, têm entre 6 e 10 minutos e a narração é feita pela mulher, Sara, que é investigadora na área das Ciências da Vida, mas podia ter feito carreira a dobrar desenhos animados. “Não queríamos estar a ler histórias, queríamos dar-lhes vida.”
Basta carregar no play para percebermos o que querem dizer. Desde os efeitos sonoros à forma como Sara alterna entre o papel de narrador e as vozes de quase todas as personagens, Só Mais Uma História tem tudo para nos agarrar ao primeiro ouvido. O episódio de estreia, “Martim e a Fada dos Dentes”, conta com a participação especial dos seus filhos Tomé e Tadeu e – ao genérico orelhudo, que nos fica na cabeça em loop – junta outras duas músicas originais, “Incidental” e “Dorme bem (a música da fada)”. “Para a restante banda sonora, por causa dos direitos de autor e porque não queríamos recorrer a músicas infantis infantilizadas, que se fazem porque se acha que as crianças não percebem, decidi usar música clássica”, desvenda Francisco, que assim tem dado a conhecer aos mais novos nomes como Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart e Edvard Grieg, todos escolhidos a dedo a pensar no ambiente da acção.
O número de ouvintes, dizem-nos, ainda não é digno de nota, mas têm recebido muitas mensagens que os fazem acreditar que estão no caminho certo. O segredo tem sido, parece-lhes e nós confirmamos, nem ser condescente nem descurar a qualidade e, claro, o investimento no ritmo e na acção, que desperta e estimula a imaginação e a criatividade dos mais novos. “A Sara interpreta os personagens e faz vozes diferentes e, quem está a ouvir, não só reconhece a dedicação, como se sente dentro da história. Fazemos a pensar nos mais novos, mas esperamos que os mais velhos também gostem. A última história que contámos, que está dividida em dois episódios e encerra a primeira temporada, passa-se nos Açores, no Algar do Carvão, e nós decidimos enviar e-mail para a equipa que lá faz visitas guiadas. Responderam-nos a dizer ‘já tínhamos ouvido, adorámos e queríamos pôr aqui um QR code dentro do vulcão’. Claro que ficámos contentes.”
A segunda temporada já está a ser pensada e produzida – ainda não há data para o lançamento do primeiro episódio, mas está previsto para o próximo mês de Março. A missão, essa, continuará a mesma. Por um lado, entreter. Por outro, desafiar. Afinal, num mundo em que os ecrãs estão por todo o lado e a oferta é mais que muita e está disponível 24/7, faz muita falta parar e escutar. “Esperemos que chegue a muitas casas e muitos carros portugueses”, diz-nos Sara. “Espero contribuir para promover momentos em família, para que haja uma opção para além de Netflix’s e companhias, durante o qual também se possa aprender um bocadinho sem que se dê por isso, ou mesmo só para se dar umas gargalhadas.”
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