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A “nova realidade” pode já não ser assim tão nova, mas o coronavírus continua a ser uma preocupação e é normal as crianças ficarem confusas e nervosas com tantas mudanças nas suas rotinas diárias. “Escrevi esta história agora, porque só agora o meu filho mais velho começou a mostrar sinais de ansiedade. E tenho a certeza de que continua a ser preciso falar disto com todas as crianças”, assegura Carmen Garcia, que por videochamada nos fala do Era Uma Vez… Um Vírus, um livro que é também uma ferramenta de educação para a saúde e já está disponível gratuitamente em formato digital.
Enfermeira e mãe, Carmen está tão familiarizada com a situação epidemiológica do país como com a importância de descomplicar a pandemia em família. Por isso mesmo, para desmistificar o assunto e sossegar os seus dois filhos, criou uma história acerca do coronavírus, “que vivia muito infeliz e passava o tempo a sonhar com uma casa-nariz”. “O mais velho foi forçado a fazer o teste duas vezes, depois de dois casos positivos na sua creche”, recorda-se. “A certa altura apercebi-me que ele estava em pânico, porque passava os dias a perguntar-me se tinha o vírus, se o irmão tinha, se eu tenho. Muitas vezes eles vão para a escola e estranham serem os únicos. Então, ele também me pergunta se os amigos estão doentes em casa.”
A primeira vez que contou a história do coronavírus, que “à boleia entre narizes completou a volta ao mundo”, foi em sua casa à hora da sopa, mas também a partilha com outras crianças no centro de testagem Covid-19, onde faz algumas horas. Conta-nos que são raros os miúdos que não vão com medo e que, depois de perceberem melhor o que é “isto do corona” e como podem lidar com ele, todos fazem perguntas. “É importante proporcionar-lhes a oportunidade de expôr as suas dúvidas e inquietações”, sugere. “Por isso, quando percebi que podia abrir a porta ao diálogo entre pais e filhos, falei com o Tiago Leal, da Ego Editora, com quem já tinha trabalhado, e disse-lhe que precisava que ele fizesse as ilustrações de graça. E ele fez, porque também sempre foi da opinião de que não se cobra por uma ferramenta de educação para a saúde deste tipo.”
A ideia era contar com o apoio da Direcção-Geral da Saúde na impressão e distribuição, para que chegasse a todas as crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo. Sem qualquer resposta aos contactos realizados, Carmen e Tiago avançaram na mesma e decidiram fazer um e-book, para colocar numa plataforma digital, onde pudesse ser descarregado de forma gratuita.
Cronista no Público, com crónicas semanais publicadas no suplemento P2, a enfermeira acabou por ver o jornal associar-se à iniciativa, juntamente com a Multicare. “Conseguimos o que queríamos, que era pôr o livro na ‘rua’ a custo zero. Agora, estou a trabalhar na produção de uma série de televisão, já gravámos o episódio-piloto e a ideia é apresentar uma espécie de Rua Sésamo do século XXI com vários blocos, incluindo um de educação para a saúde”, revela. “Queremos muito ensinar coisas como a reanimação cardiorespiratória, porque o suporte de vida pode e deve-se aprender desde cedo. A comunicação de ciência é-me muito querida e tenho pena que comuniquemos tão pouco para as crianças.”
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