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"Escape at Dannemora": aqui não há heróis

Cláudia Lima Carvalho
Editora de Comer & Beber, Time Out Lisboa
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Nem Hollywood se lembrou de uma fuga da prisão com os contornos desta que aconteceu há três anos. Estivemos ao telefone com os protagonistas de Escape at Dannemora, que se estreia este domingo à noite.

7 de Junho de 2015. O inesperado aconteceu quando dois presos conseguiram fugir da prisão de alta segurança de Clinton, deixando até um post-it com um boneco a desejar um bom dia aos polícias. A fuga, que durou três semanas, fez títulos de jornais em todo o mundo e não faltaram as comparações com a ficção. Três anos passados, a história chega à televisão pelas mãos de Ben Stiller, que se estreia na realização de um drama, com Patricia Arquette, Benicio Del Toro e Paul Dano nos papéis principais. Já tinha havido um filme, mas nada que se compare a Escape at Dannemora, que em sete episódios nos dá um retrato real e cruel não apenas da fuga, mas da vida atrás das grades.

Foram horas de directos, capas e páginas de jornais e muitos gráficos que tentavam explicar a fuga épica que tinha acontecido. Como é que dois homens tinham conseguido fugir de uma prisão de segurança máxima? A mesma onde está Renato Seabra, condenado pelo homicídio do cronista social Carlos Castro.

Richard Matt, condenado a 23 anos de cadeia, e David Sweat, a cumprir pena de prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, tinham sido ajudados por Joyce Mitchell, uma mulher que trabalhava na prisão e com quem se tinham envolvido.

Mas se Benicio Del Toro e Paul Dano quiseram falar com David Sweat para entrarem na história, Patricia Arquette não quis nada com a mulher também conhecida por Tilly. “Não acho que fosse ganhar alguma coisa”, diz a actriz, numa conversa ao telefone com jornalistas europeus. “Acho que ela poderia tentar manipular a série e por isso não achei que houvesse interesse”, continua, explicando que preferiu ouvir quem trabalhou e esteve lá quando tudo aconteceu.

Mas a frieza de Arquette, que surge quase irreconhecível na série, é apenas aparente: “Eu tentei realmente perceber o que os motivou, o que sentiram em cada momento”. “O ser humano é muito complexo. Acho que todos nos conseguimos relacionar com qualquer pessoa se nos conseguirmos pôr num lugar capaz de perceber o que essa pessoa sente para fazer as escolhas que fez, mesmo que eu nunca as fizesse”, esclarece.

“No fundo, tens de perceber o lado negro das pessoas. Não tens de concordar, mas como actor tens de perceber”, acrescenta Del Toro, repetindo várias vezes que “Richard Matt é um assassino e o que fez é terrível” – sequestrou, torturou e assassinou um homem em 1997. Matt acabou morto pela polícia 20 dias depois da fuga. “Não acho que a série glorifique o Richard, o David ou a Joyce. Nunca foi a nossa intenção. Eles não são heróis”, deixa claro.

Mas Dano relembra: “Quando eu e o Benicio fomos conhecer o David, achei difícil estabelecer contacto com o ser humano porque a imagem que temos de alguém que matou uma pessoa e está na prisão é muito unidimensional. Três horas depois percebemos que é inteligente, tem sentido de humor”. “Claro que ele estava ciente de que estávamos a fazer uma série e podia escolher focar certas coisas, mas foi incrivelmente importante chegar ao interior do ser humano e ter detalhes da fuga”, continua o actor, que acredita que se o passado de David Sweat tivesse sido outro, “talvez tudo tivesse sido diferente”. Sweat cresceu em lares, foi sendo preso por crimes menores até que em 2002 matou um xerife.

“A prisão é um sítio mesmo difícil, uma vez lá é complicado deixar isso para trás. Ver seres humanos em jaulas é doloroso”, defende Dano, para quem o sistema prisional está a falhar na reabilitação. “Estou curioso para perceber o que é que o público vai sentir em relação a estes personagens.”

TvSéries. Dom 23.00.

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