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A vida de Vincent van Gogh é um livro aberto dentro de uma tenda em Belém. Contamos-lhe o que pode esperar da exposição imersiva sobre o pintor.
Conhecem o nome, mas não conhecem a história. Ou melhor, conhecem as obras, associam-nas a um nome, mas não sabem quem é realmente o pintor holandês Vincent van Gogh. “Meet Vincent van Gogh” é uma produção do Vincent van Gogh Museum, em Amesterdão, em parceria com a UAU, que depois de Pequim, Barcelona e Seul chega a Lisboa esta quinta, 27, para ocupar o recinto do Terreiro das Missas, em Belém. A exposição é uma máquina do tempo multissensorial que convida o visitante a entrar e a remexer nos sentimentos, angústias, amores e pensamentos do artista.
Em mais uma prova de narcisismo do pintor – que só conheceu a fama depois da morte –, agora promovido de uma forma educativa e de entretenimento, esta exposição gira à volta da sua vida. “Isto é uma exposição sobre ele, enquanto artista, não é sobre as obras”, explica Paulo Dias, director da UAU, produtora que já trouxe grandes exposições a Lisboa como “Star Wars – The Exhibition” no Museu da Electricidade, em 2007, ou “A Viagem de Darwin” no Parque dos Poetas, em 2015.
Em Amesterdão, a coisa tem outra dimensão. A receber mais de dois milhões de visitantes por ano, o Vincent van Gogh Museum tem a maior colecção de obras do pintor holandês, entre elas algumas das mais conhecidas, como Os Comedores de Batatas, Doze Girassóis numa Jarra, Quarto em Arles ou o Auto-retrato. “A nossa missão é levar o legado que Van Gogh nos deixou ao maior número de pessoas possível”, explica Arnold van de Water, do museu nos Países Baixos. “O cultivo desse legado fazemo-lo não só aqui, mas também através do nosso centro de pesquisas, online e numa dimensão internacional – como é o caso desta exposição”.
O código de conduta dos museus e exposições está sempre cheio de avisos e sinaléticas que gritam coisas como “É proibido fotografar”, “É proibido filmar”, “Por favor, não pise esta linha” ou “É proibido tocar”. Aqui não. Em “Meet Vincent van Gogh” o que era proibido passa a ser obrigatório. “É uma exposição pensada para quebrar as regras, e que convida o espectador a interagir com o que vê, a tocar, a filmar, a envolver-se no que está à sua volta”, afirma Paulo Dias.
Ao longo do percurso, dividido por galerias temáticas, os visitantes vão tropeçando nos principais locais da vida do pintor. No Campo de Trigo, o som de um tiro ecoa no ar onde Vincent disparou sobre si próprio, enquanto há uma projecção imersiva com flashbacks dos seus primeiros anos de vida. Na secção Artistas Emergentes, pode passear na ruralidade dos Países Baixos ou nas ruas de Paris, sentar-se à mesa do Café Tambourin, em Montmartre, e simular o quadro Os Comedores de Batatas.
O espaço muda rapidamente para as cores e paisagem da Provença, que simulam a passagem de Van Gogh por Arles. Outro dos espaços da exposição é O Quarto, uma recriação em tamanho real do quarto do pintor, onde pode até tirar fotografias sentado ou deitado na sua cama. Dentro da Casa Amarela está o estúdio de Vincent na Place Lamartine, em Arles. Lá dentro há uma instalação artística e um jogo de sombras em que se vê o pintor em diálogo com Gauguin. Na galeria Doença e Criatividade, cada visitante pode percorrer os corredores do asilo, explorando a luta de Vincent pela sua recuperação. Através da projecção e do som são conduzidos para St. Remy e, depois, de volta aos campos de trigo, como se a história de Van Gogh completasse um ciclo.
A beleza desta exposição, diz Arnold van de Water, está na simplicidade da coisa, de não ser necessário ninguém ser um especialista em arte para conseguir entender e apreciar. “Nós vamos além do que fica bem no Instagram. É uma mostra que desperta os sentidos todos, não é um circo, é uma experiência imersiva e completamente diferente da do Van Gogh Museum – aqui a informação vem ter connosco”, descreve.
E se habitualmente o audioguia é um daqueles detalhes que fica pendurado na bilheteira dos museus, ora por ser caro, ora por ser aborrecido, aqui as coisas mudam de figura. O audioguia está incluído no preço do bilhete e será essencial para guiar os visitantes através de cada sala da exposição. As histórias são narradas na primeira pessoa e pelos familiares e amigos mais próximos do pintor, e baseadas nas suas cartas pessoais, que fazem parte de uma colecção exclusiva do Van Gogh Museum.
“Uma coisa interessante no Vincent van Gogh é que ele além de pintor era também um grande escritor”, repara Arnold. “Conseguimos aceder ao que ele pensava não só através das obras de arte, mas também através do que escrevia sobre ele próprio e sobre a vida. É uma narrativa que nos coloca na cabeça do pintor.”
A pensar na miudagem, há um audioguia numa versão infantil, e outro para os adultos, para que todas as faixas etárias tenham uma “storyline própria e uma perspectiva sobre aquilo que viram, ouviram e sentiram”, remata.
Terreiro das Missas (Belém). Seg-Qui e Dom 10.00-19.00, Sex-Sáb 10.00-20.00. 11€-33€.