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Uma águia-imperial-ibérica foi esta quarta-feira, 27 de Março, devolvida à natureza na Serra de Alcaria Ruiva, no concelho de Mértola. Foi também na zona raiana, em Corte Gafo, que a ave de rapina foi resgatada, numa situação de grande debilidade, pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), antes de ser reencaminhada para o LxCRAS – Centro de Recuperação de Animais Silvestres da Câmara Municipal de Lisboa. Admitida em Janeiro, estava apática e sem conseguir voar, por suspeita de electrocussão ou colisão com cabos, duas das grandes ameaças que a espécie enfrenta.
“O LxCRAS pertence à rede de Centros de Recuperação para a Fauna Selvagem e encontra-se licenciado pelo ICNF. A equipa deste centro demonstra elevada competência e apresenta muitos casos de sucesso”, justifica o gabinete de assessoria e comunicação do ICNF, em resposta à Time Out sobre a razão para o tratamento da águia resgatada decorrer em Lisboa.
O processo de reabilitação envolveu desde exames de diagnóstico e avaliações biológicas e comportamentais até terapêutica farmacológica e uma dieta adequada. “Sendo uma espécie muito sensível, foi também imprescindível assegurar a máxima tranquilidade e reduzir a manipulação ao indispensável”, lê-se em comunicado da autarquia lisboeta, que menciona também “ausência de fracturas ou lesões traumáticas”.
Foram ainda accionados os meios cinotécnicos do Serviço de Protecção da Natureza do Ambiente, mas não se encontraram evidências de veneno na área investigada, apesar das análises sanguíneas realizadas mostrarem “alguns sinais compatíveis com intoxicação por chumbo ou outro contaminante que poderia ter causado a morte desta ave se não tivesse sido resgatada atempadamente”.
Já depois de um período sob tratamento e vigilância clínica, a águia-imperial-ibérica foi estabilizada e alojada no túnel de voo do LxCRAS, que tem a dimensão adequada para uma ave de grande porte, que pode atingir até 2,20 metros de envergadura, 85 centímetros de comprimento e um peso entre os 2,5 e os 5 quilos. Aí, nesse local, “pôde exercitar-se e alimentar-se tranquilamente, recuperando gradualmente a condição física, a capacidade de voo e o ânimo”.
Em preparação para a sua libertação, em pleno Parque Natural do Vale do Guadiana, integrado na zona de protecção especial, que tem vindo a consolidar-se como a principal área de ocorrência em Portugal desta espécie ameaçada, a águia foi equipada pelo ICNF com um emissor com tecnologia que permitirá acompanhar os seus movimentos de dispersão e adaptação em tempo real, para que seja possível actuar em caso de necessidade.
A águia-imperial-ibérica Aquila adalberti é uma espécie ameaçada, com o estatuto de conservação de “Criticamente em Perigo”, que ocorre exclusivamente na Península Ibérica e sofreu um declínicio acentuado até ao desaparecimento da população reprodutora no nosso país entre finais da década de 1970 e inícios da década de 1980. Só em 2003, a espécie monogâmica voltou a nidificar em território nacional, estando actualmente presente sobretudo no Tejo Internacional e no Alentejo, muito condicionada à presença de coelho-bravo, a sua presa preferencial.