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A primeira pergunta que assola quem lê a carta minimalista do novo Cotovia. — Cotovia, ponto — vai ser, provavelmente, o que é uma galerida? Estão listados os ingredientes (gin, flor de sabugueiro, lavanda, manjericão, lima), dá para ficar com uma ideia do sabor, mas que raio de palavra é aquela? “É uma subespécie de cotovia”, desvenda Manuel Sant’Ana, o criador da receita e um dos proprietários. Da lista, figuram mais quatro cocktails de autor, baptizados em honra de outras tantas cotovias: botha’s, cape clapper, scalter’s e dusky red.
Nem Manuel nem os sócios, Tiago Costa e Miguel Oliveira, são ornitófilos empedernidos, contudo. O nome do bar, aberto em Setembro na Praça das Flores, e dos cocktails deve-se à antiga toponímia da zona. “Mal encontrámos este espaço, fui pesquisar coisas sobre a praça – uma vizinha nossa, a Dona Generosa, até me emprestou um livro antigo, da Junta Freguesia. E descobri que, antes do terramoto, isto era o Largo da Cotovia. Por isso é que escolhi este nome para o bar. Depois, no primeiro menu, brinquei com as subespécies.”
Antes de se instalar na Praça das Flores, Manuel passou cinco anos em Warrington, uma localidade do norte de Inglaterra, a meio caminho entre Liverpool e Manchester. “Trabalhava num bar que era o Bold Street House. Estive lá como bartender dois anos e depois como gerente nos últimos três. No último ano também ajudei a abrir um restaurante dos mesmos donos, que era o Vandal”, conta. “Fui lá para aprender, mas o objectivo sempre foi voltar a Lisboa e abrir o meu bar. E consegui convencer o Miguel e o Tiago a fazer esta maluqueira.”
“Já nos conhecemos há muitos anos, e ele sempre disse que queria abrir um bar um dia”, corrobora Miguel Oliveira. “Quando se sentiu preparado, voltou. Na altura, eu também estava a regressar da Austrália, onde vivia, e começámos à procura de um espaço. Este foi o terceiro que vimos, se não me engano.” Perceberam logo que era o sítio certo. Com meia dúzia de mesas e mais alguns lugares ao balcão, de costas para uma parede despida, é um bar acolhedor e luminoso, propositadamente desleixado.
“Isto estava bastante degradado, então começámos por remover tudo. E havia uma alcatifa na parede, que ficou esburacada. Como houve quem adorasse, acabámos apenas por envernizá-la e deixá-la assim”, exemplifica Miguel. “Tudo o que é decoração foi feito por nós os três, com bastante ajuda dos nossos amigos. Todos tiveram algum input – fosse na decoração, fosse nas bebidas, ou só mesmo dando ideias.” Este mês, esses amigos também vão começar a fazer pop-ups “de alimentação e de moda”, no Cotovia. Mas não só. “Estamos abertos a tudo.”
Uma carta maior do que parece
A lista de bebidas cabe numa pequena folha. De um lado, estão cinco cocktails de autor, os tais com nomes de cotovias, e um sexto que muda todos os meses – em Outubro era o es(pear)to, com bourbon, pêra, limão, xarope de ácer e canela. Do outro, estão 13 vinhos, “naturais, produzidos em Portugal, de pequenos fornecedores, pequenas famílias, pequenas colheitas”, incluindo quatro servidos a copo – um branco, um tinto, um rosé e um orange wine. Fim. Há uma máquina de imperiais, mas não encontramos a dita na lista.
Calma. “A nossa carta é muito simples de propósito. O nosso objectivo nem era ter os vinhos descritos aqui; era só ter mesmo os cocktails. Só que, quando temos a casa cheia, acaba por facilitar tê-los descritos. Por mais que quiséssemos ter o menu o mais clean possível, logisticamente não fazia sentido.” Servem, no entanto, muitas outras bebidas. Incluindo outros cocktails, mais familiares. O Moscow mule, por exemplo, é o mais pedido. “Isso e imperial”, assume Manuel Sant’Ana. “Toda a gente bebe muita imperial e vinho branco.”
Não obstante, a aposta nos cocktails de autor é para manter. Tanto que já estão a preparar uma nova carta para os meses frios. “Os cinco especiais da casa vão variar de acordo com as estações”, adianta Miguel. “Estamos quase a mudá-los.” E, segundo Manuel Sant’Ana, no Inverno os cocktails já não vão confundir-se com passáros: “Vou dar nomes de pessoas que conheci aqui na Praça das Flores e que eu acho que são importantes para esta zona.” Quem sabe se as aves não voltam na Primavera.
Praça das Flores, 46 (Príncipe Real). Ter-Dom 18.00-02.00.
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