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A arte contemporânea é usada para refrescar texturas, cores e materiais que, juntos, contam uma história. Não é uma história qualquer, é o Alentejo apresentado sobre o branco deste pequeno espaço, com a configuração de uma montra voltada para a rua. Marie de Carvalho, nascida em Paris e filha de pai português, passou os últimos anos a decorar a sua nova casa em Lisboa, tarefa que a fez mergulhar num caldeirão de artesãos regionais, jovens artistas e matérias-primas autóctones.
Finalizados os interiores, numa obra projectada por Manuel Aires Mateus, a vontade de coleccionar novas peças extravasou as paredes de casa. A Ojo (da palavra espanhola para olho) nasceu desse impulso de pôr pés a caminho e conhecer os ofícios e artes tradicionais portuguesas pelas lentes de jovens criativos. Uma viagem que começou pelo Alentejo.
“Quando comprei a minha casa, só queria artistas portugueses nas paredes. Comecei a procurar e encontrei muitos jovens autores. O Edgar foi o primeiro”, introduz Marie, enquanto apresenta o novo espaço. Fala de Edgar Costa, o autor da tela amarelada que vemos numa das paredes brancas. Resulta de um trabalho moroso — uma impressão de madeira de eucalipto, com tinta natural de argila vermelha e óleo de linhaça, sobre tecido cru tingido com café e argila.
As mini-tapeçarias de Alice Albergaria Borges, posteriormente emolduradas por Marie, ocupam outra das paredes. Do tear para o processo de tingimento natural do linho e do algodão, estas peças exibem os tons da terra e resultam do processo criativo da jovem autora e da própria galerista.
A tela de Mariana Torres, a cerâmica de Vânia Gonçalves, os talheres decorativos em arame e ráfia de Cyril Maisonnave ou a fotografia do francês Laurent Gravier, onde quase conseguimos sentir as texturas da paisagem alentejana — uma selecção que se quer “para todos os bolsos”, com preços que vão dos 40€ aos 3900€. A amostra é sobretudo portuguesa, embora haja talento francês debaixo do mesmo tecto.
“Quero que esta galeria seja uma família de artistas”, admite. O espaço não é grande, mas a proprietária já planeia animados serões à volta da mesa. Marie quer pôr criativos à conversa, até porque Portugal tem muitas outras regiões por descobrir. Depois das planícies a sul do Tejo, aponta o Douro como próxima incursão. Nomes também não lhe faltam. A Ojo abre as portas esta terça-feira e já existe uma lista de artistas interessados em colaborar. A casa pode não ser grande, mas há sempre espaço para mais um.
Rua de São Bernardo, 9 A e B. 93 328 9072. Ter-Sex 11.00-13.00 e 15.00-19.00 (outros horários por marcação).
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