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O objectivo traçado pelo executivo de Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), é que a rede de bicicletas partilhadas Gira chegue às 24 freguesias do município até ao final do mandato, em 2025. Não é certo que assim aconteça, mas nesta quinta-feira, 17 de Outubro, as Gira chegaram à 22.ª freguesia da cidade, Marvila, com duas novas estações: na Praça David Leandro da Silva (22 docas), em frente ao Clube Oriental de Lisboa e ao 8 Marvila; e no Parque Ribeirinho do Oriente (26 docas).
Ficam a faltar Santa Clara e a Ajuda. "Fechámos hoje o plano da Ajuda, mas acreditamos que ainda é possível concretizar o plano", avançou Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da autarquia, em declarações à Time Out à margem da cerimónia que marcou esta expansão na zona oriental da cidade.
No dia em que também se inaugurou a obra da Ciclovia Ribeirinha Oriental, tornando completo o eixo entre o Terreiro do Paço e a foz do Trancão, ainda há muito por fazer para cobrir a cidade de Gira e de ciclovias, mas Carlos Silva, presidente da EMEL, acredita que o primeiro grande passo está dado. "Estamos em pontos focais ainda curtos da cidade. É preciso expandir a rede, chegar a locais como universidades, serviços de saúde, zonas de escritórios. Aqui em Marvila há uma progressão que tem de ser feita até à zona do [agrupamento de escolas] Dom Dinis [na zona norte da freguesia]... Não faz sentido que a cobertura do território seja limitada", afirma o presidente. Mas perspectiva-se que, até Setembro de 2025, Lisboa esteja servida por 193 estações Gira (com a inauguração das de Marvila, contam-se 162 estações activas).
Olhando para o mapa da rede de bicicletas partilhadas (e criando uma excepção para o Parque Florestal de Monsanto), alguns dos maiores vazios são nas zonas interiores de Marvila e do Beato, no eixo entre Campo de Ourique e Alcântara, bem como nas freguesias em falta de Santa Clara e Ajuda. Para a Ajuda estão planeadas cinco estações Gira, quatro das quais junto ao pólo universitário, e em Santa Clara está já a avançar a implementação de uma estação junto à Estrada do Desvio, onde foi recentemente concluído um troço de ciclovia.
Beato queixa-se de desequilíbrio na distribuição
Como em qualquer operação política, também na expansão da malha ciclável e da rede Gira há críticas. Num comunicado por escrito enviado a 20 de Setembro para a vice-presidência da CML, a que a Time Out teve acesso, um grupo de moradores do Beato expunha as suas preocupações sobre a alegada "falta de distribuição das estações Gira na freguesia" e "áreas circundantes". "Existem apenas duas estações, localizadas a cerca de 100 metros uma da outra, sendo evidente que estas estações foram instaladas principalmente para servir o Hub Criativo do Beato, negligenciando as necessidades mais amplas da comunidade local", pode ler-se. Numa zona da cidade em desvantagem quanto à cobertura por transportes públicos – não há metro, nem todos os comboios param no apeadeiro de Marvila e o de Chelas foi encerrado em 2015 – a implementação de estações Gira "melhoraria significativamente a mobilidade urbana".
Tanto a EMEL como a CML reconhecem que a rede actual não chega a todo o lado. "Há que complementar o que existe do ponto de vista da conectividade, também. Mas é preciso lembrar que o projecto inicial das Gira cingia-se ao eixo central da cidade e que houve, entretanto, toda esta expansão", dá nota Carlos Silva, questionado pela Time Out. Em Setembro, num balanço dos sete anos das Gira na cidade, o presidente da EMEL declarava, num comunicado enviado às redacções, que com a chegada da rede às 24 freguesias, o objectivo é que cada cidadão esteja "a menos de 10 minutos a pé de uma estação". Mesmo antes de se consumar esta meta, "já ninguém pode dizer que não anda de bicicleta por não ter uma estação por perto", na visão do responsável, defendendo que Lisboa não precisa de "uma estação em cada esquina".
Para já, há diferentes locais onde é preciso caminhar bem mais do que 10 minutos para se chegar a uma estação, como em Marvila (veja-se o trajecto entre o metro de Chelas e a Praça David Leandro da Silva, por exemplo, que é de cerca de 25 minutos). Mas a rede está a avançar e, segundo o presidente da EMEL, não há atrasos a registar. "Estamos alinhados com o plano."
"Não são as Gira que vão tirar 370 mil carros por dia de Lisboa"
Sobre a expansão da rede ciclável, por sua vez, a prioridade é "resolver as falhas nas conexões" que hoje existem, aponta o presidente da EMEL. "Mas também tem de haver zonas 30+bici [vias partilhadas entre automóveis e bicicletas, em que a velocidade máxima permitida é de 30 km/h]. As ciclovias segregadas são importantes para a percepção de segurança, mas há zonas, na parte histórica, sobretudo, onde é impossível mexer", defende.
Com a inauguração do troço entre Marvila e o Parque das Nações, para completar a Ciclovia Ribeirinha Oriental (que no futuro se quererá ligada do concelho de Oeiras a Vila Franca de Xira), preencheu-se "um missing link, mas agora o trabalho é muito mais na cidade", antevê Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da CML, com o pelouro da mobilidade. "Estamos a trabalhar muito mais dentro da cidade do que na zona ribeirinha", afirma, confrontado pela Time Out com as críticas dos moradores do Beato.
Sobre a auditoria à rede ciclável realizada pela empresa dinamarquesa Copenhagenize, cujo relatório foi disponibilizado pela CML em Maio, Anacoreta Correia mantém a posição de que a responsabilidade da CML "não é apenas para com os utilizadores da ciclovia", mas para com todo o ecossistema da cidade. "Aproveitámos algumas conclusões da auditoria, mas adaptámos. E estamos a trabalhar nas ligações à rede de transportes públicos, às escolas. Mas não nos podemos esquecer que Lisboa foi uma das dez cidades distinguidas pelo programa da Bloomberg [o BICI – Bloomberg Initiative for Cycling Infrastructure, em 2023]", frisa o vice-presidente. A distinção valeu ao município 400 mil euros, sobretudo para financiar a ligação entre escolas e ciclovias segregadas.
Apresentado o plano até 2025 para a rede ciclável de Lisboa, a autarquia tem "uma proposta praticamente fechada" para o futuro, que será "apresentada no início do próximo ano", refere Anacoreta Correia, para quem "a grande aposta deste executivo é no transporte público e na rede ciclável", com a implementação de medidas como os passes gratuitos para jovens estudantes e maiores de 65, a gratuitidade das Gira para os utilizadores do passe Navegante ou a criação de cinco parques de estacionamento dissuasores nos limites da cidade. Outras preocupações se colocam numa lista longa, como a conexão intermunicipal da rede ciclável e do sistema de bicicletas partilhadas, uma vontade sinalizada pelos municípios de Oeiras e da Amadora.
"Agora, é com este plano [de mobilidade suave] que vamos conseguir reduzir a pegada? Não são as Gira que vão tirar 370 mil carros por dia de Lisboa", assume Carlos Silva, da EMEL, apontando para a importância da educação e da mudança de mentalidades relativamente ao uso massivo do automóvel.
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