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Este Cordel une os pontos da música de raiz lusófona

Hugo Torres
Escrito por
Hugo Torres
Director-adjunto, Time Out Portugal
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Edu Mundo e João Pires fiaram um projecto e um disco de uma íntima cumplicidade, apesar do oceano que os separa: Cordel. Quisemos saber mais sobre a dupla antes do concerto no Teatro da Trindade.

As relações à distância são difíceis, de sucesso improvável, mas não impossíveis. Edu Mundo, que vive no Porto, e João Pires, lisboeta que há uma década se mudou para o Brasil, são disso prova. Conheceram-se por insistência de Francesco Valente, um amigo e colaborador comum, que sentia que os dois cantautores trilhavam caminhos musicais semelhantes. Dois anos depois, com o Skype e muito WhatsApp a facilitar a viagem de ideias entre as duas margens do Atlântico, é lançado o primeiro disco, que partilha o nome com o projecto: Cordel. São dez canções rendilhadas a partir da música de raiz portuguesa.

Encontraram-se fisicamente em algumas “imersões” – em Marrocos, na Guarda e no Porto – que serviram para lhes mostrar que tinham “uma forma de tocar”, em complemento um do outro, e “ideias de ritmo” que valiam a pena explorar. Apontaram ao coração: a herança musical partilhada por Portugal, Brasil e Cabo Verde. “Temos uma matriz. Que começa pela língua e acaba em formas melódicas e rítmicas parecidas. Mudam os sotaques e na música é igual”, garante João Pires, dando o exemplo da chula: “É uma das maiores inspirações de Gilberto Gil e Caetano. A obra destes dois colossos está repleta de referências à chula”.

Não é um exemplo ao acaso: o tinido típico do baião nordestino que se ouve em “Digo que devo continuar” vem daí. De resto, as influências da música brasileira e africana vão se revelando por entre as vozes e as guitarras, através de instrumentos de sopro e percussão, dos arranjos que pintam as melodias inspiradas nas paisagens do Minho, do Douro e da Beira. “Procurámos neste primeiro álbum a simplicidade”, diz João, que continua a usar as canções para regressar a casa, após o terceiro disco em nome próprio, Lisboando (2016). “Contamos histórias, sentimentos que os ouvintes já sabem, nós só lançamos a isca dessa consciência. Os afectos, uma viagem, um prato que se gosta, sonhos…”

“É tentar aproximar as nossas memórias musicais, mexer naquela caixinha que a avó disse para não mexer, e contar a história que está lá dentro à nossa maneira”, acrescenta Edu Mundo, alter-ego de Márcio Silva, que conhecemos de Terrakota e Souls of Fire. “O que nos propomos fazer é usar estes ritmos e dar-lhes o mesmo valor e destaque que um blues ou o rock, o samba ou o semba.” É com esse propósito que sobem ao palco do Teatro da Trindade, na terça-feira, tendo como convidados Tiago Nacarato, que os acompanha quase desde o início, Sara Tavares (que no álbum de 2017, Fitxadu, tem um tema de Edu Mundo, "Ter Peito e Espaço", que em Cordel ganha novos contornos e um outro título, "Manual da Canção") e o cantor brasileiro Pedro Luís, que vai continuar a meada: “Temos conversado bastante e será uma parceria para o futuro”, adianta João. O segundo disco de uma anunciada trilogia está bem encaminhado. Diferenças? “Quiçá, mais electricidade.”

Teatro da Trindade. Ter 21.00, 10-60€.

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