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Este é ‘O Ponto Em Que Estamos’. E agora?

O novo lançamento do Planeta Tangerina fala-nos do estado do mundo, e desafia-nos a mudar, para melhor, a paisagem.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
O Ponto Em Que Estamos
© Planeta TangerinaO Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração)
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Isabel Minhós Martins e Bernardo P. Carvalho voltaram a fazer das suas. No seu mais recente álbum ilustrado, desafiam-nos – com provocações várias e um sentido de humor apurado – a reflectir sobre o estado do mundo. Este é O Ponto Em Que Estamos, dizem-nos. Num mundo de “florestas de preços baixos”, “planícies de asfalto a perder de vista” e “constelações de betão, empreendimentos e pavimentos”, é difícil negar como a pegada ecológica gigante que estamos a deixar no planeta está a transformá-lo de tal maneira que as paisagens naturais se confundem com as humanas. Mas, se isso nos incomoda, se calhar está na hora de pôr mãos à obra e descobrir como podemos mudar, para melhor.

“O gatilho [para este livro] foi uma campanha de publicidade que vi na rua este Verão, que tinha uma frase do género ‘montanhas de promoções’ e me lembrou um outro texto que comecei a escrever sobre esta coisa da grandeza dos oceanos e das montanhas e da quantidade de matérias-primas que lá vamos tirar. Este também tem a ver com recursos, mas talvez mais com a ideia do desperdício e pronto, depois parti da mensagem desse cartaz e o livro começa com esse tom publicitário, a referir saldos e promoções”, diz-nos a fundadora do Planeta Tangerina, a editora e autora Isabel Minhós Martins, que faz questão de dar vida a álbuns ilustrados que promovam o diálogo entre gerações e convoquem à acção.

As ilustrações são de Bernardo P. Carvalho, com quem Isabel tem tido uma colaboração frutífera – são exemplo títulos como Tudo Tão Grande, Um Ano Inteiro e Apanhar Ar, Apanhar Sol. “Sempre que recebo um texto para um livro novo, começo a experimentar várias formas de o ilustrar. Para este, comecei por desenhar só a lápis de cor, mas depois de os mostrar à Isabel e conversarmos um bocadinho, chegámos à conclusão que, se calhar, eram demasiado óbvios, então continuei a experimentar até chegar a esta solução com colagens em folhas pintadas com tintas acrílicas, que incluem ilustrações com lápis de cor”, revela-nos Bernardo.

Que paisagem vem a seguir?

Pleno de sentidos, muitos dos quais escondidos entre traços coloridos, à espera de serem caçados por grandes e pequenos, O Ponto Em Que Estamos puxa-nos para um “ambiente de feira popular, com luzes a piscar, numa espécie de ironia”, sugere a própria Isabel, antes de destacar a importância da componente visual na experiência de leitura. “No álbum ilustrado, o texto pode ser um fio e as imagens as contas que formam o colar, ou seja, a escrita dá o mote para as ilustrações. Pelo menos no meu caso é assim. O texto raramente funciona sozinho; escrevo já a pensar nas imagens e nas histórias que elas podem acrescentar à história.”

O Ponto Em Que Estamos
© Planeta TangerinaO Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração)

Aqui a história é a emergência que vivemos, e que tem sido causada por seres humanos obcecados por “desertos infinitos de oportunidades” e “telemóveis de novíssima geração”. E, se nos parece óbvio que se trata de uma história triste, também é verdade que a esperança é a última a morrer. Quanto mais tempo deixarmos passar, mais difícil será, mas se não a queremos perder de vez, não temos outra hipótese senão ver as coisas como elas são. É esse o aviso que Isabel e Bernardo estampam nas páginas deste livro, que evoca o Antropoceno, uma nova época geológica, ainda sem estatuto oficial, que representa o impacto que a humanidade tem no planeta Terra. E que tem resultado em menos zonas verdes e mais poluição.

“A mania que temos, de que somos muito inteligentes, tem-nos conduzido a este ponto em que estamos, a rebentar pelas costuras, com o sistema climático feito num oito”, lamenta Isabel. “Aparentemente pode não haver esperança, mas eu acho que a única forma de ter esperança agora é ser realista.” Bernardo concorda e confessa que, quando leu o texto pela primeira vez, também deu por si a pensar no que poderia fazer melhor. “Quando penso neste livro, por acaso não penso nele como um livro triste, penso mais nele como se fosse um grito pela atenção ao planeta”, explica-nos o ilustrador, que tentou fazer um contraponto entre os desenhos vibrantes e as temáticas “cinzentas”. “Muitas das coisas que fiz nas ilustrações têm a ver com a natureza e a nossa relação com o mundo, que é uma problemática que gosto sempre de trabalhar.” Como artista, claro; mas sobretudo como cidadão.

Na próxima sexta-feira, 8 de Dezembro, o Planeta Tangerina promove uma Festa de Natal, a partir das 16.00, na nova Casa do Comum, no Bairro Alto. A programação inclui a inauguração de uma exposição de originais de O Ponto Em Que Estamos. Além disso, Bernardo P. Carvalho e a restante equipa prometem oficinas “para pequenos, médios e grandes”, bem como um mercado de posters, serigrafias e livros com defeito. Para os mais esfomeados, haverá comes e bebes. 

O Ponto Em Que Estamos, de Isabel Minhós Martins (texto) e Bernardo P. Carvalho (ilustração). 32 pp. Para toda a família. 13,90€ | Casa do Comum (Bairro Alto). 8 Dez, Sex 16.00-20.00. Entrada livre

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