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José Jorge Letria é autor de dezenas e dezenas de livros infanto-juvenis. Tem tido uma vida preenchida, inclusive no que a alfabetos diz respeito, e é com destreza que conta histórias aos mais novos a partir da sequência das letras do abecedário. As crianças gostam, os educadores agradecem, em casa e na escola. Em O Alfabeto das Cidades, editado este Verão pela Oficina do Livro, os miúdos são convidados a correr mundo e a conhecer diferentes terras, gentes e costumes – uma cidade por letra. “Era uma realidade que já queria abordar há muito na escrita para os mais jovens. E é, para além de um processo criativo, o resultado da minha experiência como viajante”, explica.
Antigamente o contacto com a leitura e a escrita começava precisamente com a cantilena do alfabeto: A, B, C, D e por aí fora. Mas para uma criança, na idade de aprender a ler e a escrever, uma letra é só um símbolo abstracto. Já uma palavra é um retrato em texto de uma coisa concreta – o “gato” da vizinha e o “panda” da televisão – ou de um conceito mais ou menos familiar – como o “amor”, que são os abraços dos pais ou dos avós num dia mais triste.
Da palavra à letra, ou da letra à sílaba e depois à palavra, ou das histórias que conduzem à letra, há vários métodos de ensino, mas José Jorge Letria, que também é avô (os netos mais velhos ouvem-se uma ou outra vez como ruído de fundo na conversa por telefone com a Time Out), não tem dúvidas sobre o papel e a importância dos actuais abecedários ilustrados na educação. “A associação de letras a palavras e frases estimula a imaginação e o gosto pela leitura”, defende.
Neste novo abecedário ilustrado (parte de uma colecção em que se incluem O Alfabeto dos Bichos e até O Alfabeto do Corpo Humano), o “A” é de Atenas, a cidade onde “o grande Platão” filosofava; o “D” é de Díli, embora o autor confesse logo no início ter pensado “em Dublin,/ berço de escritores,/ verde capital/ da verde Irlanda”; e o “L” não é de Lisboa, “por questão de cortesia”. “Respeitei a sequência das letras, mas fui mudando o modo de escrita e de organização de cada texto”, revela. “Rimam todos, porque acho que a rima valoriza o aspecto cantante e musical da própria escrita e facilita a adesão dos pequenos leitores.”
Se os versos e as rimas permitem às crianças trabalhar a sonoridade da língua, as ilustrações – neste caso de Hélder Teixeira Peleja – contribuem para fazer do livro um objecto de descoberta visual. “A curiosidade move as crianças e as ilustrações são muito apelativas e ajudam a marcar a heterogeneidade que caracteriza as grandes cidades do mundo”, diz. “Ainda não confrontei os meus netos com este novo livro, mas vou naturalmente fazê-lo, até porque tenho muitos netos, os mais velhos já adolescentes, e os mais novos, com um e seis anos, que vão ainda passar pela sua primeira experiência com a leitura.”
O autor deseja que, acompanhando a cadência e o ritmo das letras, com a ajuda dos pais ou já sozinhos, os leitores viajem através do retrato que fez da “profunda diversidade das cidades, que até agora se vê, na forma tão diferente como, embora unidos no mesmo drama, lidamos com o estado do mundo”. Melhor do que fazer os miúdos viajar através da sua obra, só desejar que esses miúdos venham a descobrir, “já grandes, as cidades que leram neste livro”. “Espero ouvir dizer ‘ora cá está uma cidade que eu estou a conhecer e a descobrir agora, mas sobre a qual li pela primeira vez num livro do José Jorge Letria, chamado O Alfabeto das Cidades’.”
Oficina do Livro. 48 pp. 13,90€.