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Este passeio não é para meninos

Escrito por
Clara Silva
Parque Eduardo VII
Fotografia: Inês FélixEstátua do Cutileiro
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Desde 2016 que a Associação Mulheres Sem Fronteiras organiza a Rota Lisboa Feminista. O passeio, do Parque Eduardo VII aos Restauradores, dura três horas e destaca acontecimentos e mulheres importantes na cidade.

O dia não está para meninos , ora faz chuva, ora faz sol, e nas redes sociais alguém comenta que “este tempo titubeante se assemelha muito ao sexo feminino”. É, portanto, o sábado perfeito para fazer “a rota Lisboa feminista”, um passeio que, segundo o evento de Facebook, quer sublinhar as lutas e conquistas das mulheres e “reescrever a história da cidade”.

O encontro acontece no Parque Eduardo VII e o grupo, no meio de alguns turistas resistentes à intempérie, distingue-se ao longe: só mulheres. Algumas são estudantes brasileiras que querem saber mais sobre o feminismo em Portugal, outras são portuguesas que também trabalham como guias locais e estão curiosas com a rota.

A guia é Alexandra Alves Luís, da Associação Mulheres sem Fronteiras, que dinamiza as rotas regularmente desde 2016 – também há uma versão em inglês e outra em castelhano – e outras actividades como visitas a museus, passeios de arte urbana, debates e exposições.

A Rota Feminista acontece uma vez por mês, segue normalmente o mesmo percurso e não é uma chuvada que há-de deitá-la abaixo. O local escolhido para o início é curioso: ao lado da estátua fálica de Cutileiro. Porquê? Porque foi aqui que aconteceu a primeira manifestação feminista na cidade, a 13 de Janeiro de 1975, duas décadas antes desta escultura que parece celebrar os medicamentos para a disfunção eréctil.

É aqui que a associação quer que exista um outro monumento, de homenagem aos movimentos feministas, num projecto que está agora a votos no Orçamento Participativo da câmara. Em 1975, a manif, descrita no jornal Expresso como um “striptease contra a censura”, foi praticamente boicotada pelos três mil homens que apareceram entusiasmados com a notícia, ensina a guia.

“Mas não se queimaram soutiens aqui, ao contrário do que se diz”, explica Alexandra. A rota desce a Avenida da Liberdade com alguns desvios e muitas explicações pelo caminho. Há algumas paragens para falar, por exemplo, da primeira mulher com carteira de jornalista, Manuela Azevedo; ou de Amélia Santos, capa de A Capital em 1910 e uma das figuras da revolução republicana. A escritora e activista Maria Lamas, Celeste Caeiro, que distribuiu os cravos no 25 de Abril, ou Beatriz Costa, que viveu no Hotel Tivoli, são outros nomes que vêm à baila durante o percurso.

Ao todo, são mais de três horas de caminhada, curiosidades históricas sobre mulheres de várias áreas e uma longa e inesperada interrupção em frente à Sociedade de Belas Artes. “Sou mal-educado mas vou interromper”, apresenta-se Rafael Silva, nascido em 1939 “na Maternidade Alfredo da Costa”. “Vejo este grupo de mulheres e quero dizer que a mulher é a coisa mais transcendente que existe. Não há nada que um homem pense que uma mulher não tenha pensado primeiro.”

Próximas datas do passeio: 25 de Abril e 4 de Maio. 10€/pessoa, 5€ para estudantes. Inscrições: rotas.mulheres.sem.fronteiras@gmail.com

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