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A criatividade, ao contrário do que alguns adultos possam pensar, não está reservada aos seres mais talentosos. Talvez seja por isso que, livres da maior parte das amarras sociais, quase todos os miúdos gostam de pôr as mãos na massa, quer seja a desenhar ou a construir um foguetão de cartolina. É que a arte como auto-expressão, além de não ter idade, permite-nos comunicar com os outros e com o mundo de uma forma mais natural e afectiva. São vários os especialistas a defendê-lo – e Margarida Seruya Santos aplica-o no terreno, como facilitadora do projecto psico-educativo Darte, que agora funciona à distância, com workshops online e festas de aniversário personalizadas.
“Estamos já num bom caminho, nomeadamente com o Plano Nacional das Artes, mas no geral as escolas investem muito pouco na criatividade, que é uma ferramenta muito importante para o desenvolvimento integral das crianças, sobretudo para as que sentem que não são capazes de acompanhar os currículos como eles são ensinados”, diz-nos Margarida por videochamada, antes de revelar como começou a trabalhar a arte como terapia. “Por volta dos 15 anos, quando nos forçam a escolher uma área, segui Economia. Na altura pareceu-me fazer sentido, mas na universidade, já a estudar gestão, saía tudo em esforço e decidi, ao mesmo tempo, nutrir mais o meu lado artístico. Fiz História da Arte, tive aulas de aguarela, completei um curso de arte-terapia no Metàfora, em Barcelona, e candidatei-me a um mestrado em Madrid, onde não fui aceite. E, ainda bem, porque acabei por ir para Inglaterra.”
Foi em Oxford, num programa onde foi voluntária em troca de formação, que aprendeu sobre a metodologia inglesa “The Art Room”, na qual se inspira o projecto Darte, que lançou em Portugal em 2013, e que agora, por causa da pandemia, chega a casa de todas as famílias em formato online.
Margarida usa a criação artística plástica como um instrumento de desenvolvimento de capacidades que facilitam a reabilitação e educação. Nas doses e no espaço certo, imaginar, inventar e criar abre as portas ao melhor de cada um. A proposta é simples: uma a duas horas para explorar e criar coisas novas, longe das rotinas diárias e dos momentos de avaliação formal, que muitas vezes causam ansiedade e frustração. Numa espécie de regresso à primeira infância, que é uma época de descobertas e aventuras, crianças e jovens entre os cinco e os 16 anos têm a oportunidade de, em grupos de até dez alunos, “ganhar auto-confiança, aprender a lidar com o erro e até a integrarem-se no contexto escolar de uma maneira mais positiva”.
Os projectos artísticos são sempre planeados tendo em conta as necessidades e as capacidades individuais dos participantes. “Se o grupo é muito inquieto, podemos trabalhar cerâmica ou tecido, que requer foco e precisão manual. Se, pelo contrário, o objectivo for incentivar uma maior socialização, fazemos qualquer coisa mais interactiva”, exemplifica. “Agora online é ligeiramente diferente, porque os materiais têm de ser coisas que temos em casa, mas continuo a personalizar as festas de aniversário, que comecei a fazer depois da mãe de uma aluna ter pedido.” Só fica a faltar o lanche, que antes do mundo virar do avesso era um dos pontos altos das sessões Darte. “Mas tem corrido bem e faz todo o sentido ajudar a fazer frente à pressão que as famílias vivem agora com uma sessão de criatividade e promoção de saúde mental.”
Próximos workshops online: Sex (26 Fev e 5 de Mar), Ter (2 Mar) e Qui (4 Mar) 11.00-12.00 e 15.00-16.00. Inscrições por e-mail (ola@projectodarte.pt). 10€.
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