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Tudo começou no início deste ano, com um levantamento antropológico feito pela Africandé ao Bairro do Condado, em Chelas. Depois de concluir que cerca de 80% dos habitantes da zona não tem o ensino obrigatório completo, o que resulta em menor estabilidade económica e menor mobilidade social, a associação – que nasceu na Zona J, em memória do actor Bruno Candé, morto em 2021, vítima de um crime de ódio racial – juntou-se à Sociedade das Primas para contar as histórias dessas famílias e reflectir sobre a ideia de casa. O resultado é Nha Casa Nha Bairro, um projecto cultural, que também é uma peça e um documentário, e que procura valorizar o bairro e a heterogeneidade das pessoas que o habitam.
Trata-se de “uma resposta artística comunitária”, que tem procurado empoderar uma comunidade que “vive com o peso de décadas de ostracização sistémica”, esclarece em comunicado a Sociedade das Primas, que criou um grupo de teatro para crianças e jovens, com o intuito de incentivar narrativas próprias que promovam o orgulho e a confiança entre os participantes. “Queremos fomentar a aceitação mútua e combater a exclusão e o preconceito.”
O primeiro passo foi, contudo, o levantamento antropológico, que surgiu da vontade de identificar e avaliar os problemas sociais que se fazem sentir na antiga Zona J de Chelas. “Acreditamos que existe um motivo para qualquer problema e, por isso, uma solução”, diz à Time Out Martinho Filipe, que partilha a direcção artística do projecto com Beatriz Teodósio, da Sociedade das Primas, e Ivânia Vera-Cruz, da Africandé.
Por agora, o projecto resulta numa peça de teatro sobre a multiculturalidade do tecido social do bairro, que parte das memórias recolhidas junto da comunidade ao longo dos últimos meses. Com texto original de Ivânia Vera-Cruz e Beatriz Teodósio, que assina a encenação, o espectáculo estreia a 26 de Outubro, às 15.00, no Auditório da Biblioteca Municipal de Marvila. Segue-se, em 2025, o lançamento de uma longa-metragem documental sobre a história e as personalidades de Chelas. A realização é de Martinho Filipe.
“[O espectáculo e o documentário] são formas de trabalhar directamente com as diferentes gerações que compõem o tecido social de Chelas”, esclarece Martinho. “Se no grupo de teatro trabalhamos directamente com as crianças, no documentário precisamos do auxílio de membros adultos, que nos apontam a direcção certa: com quem falar para recolher as memórias, abrem-nos as vias de contacto. É no contacto com os idosos onde tudo converge, a sua memória serve de base ao texto do grupo de teatro e aos nossos debates com as crianças e é o sumo do documentário, servindo de guia para a narrativa que ainda está a ser desenvolvida.”
Quanto ao futuro, a intenção é dar continuidade. “Mas ainda é tudo um pouco incerto”, admite o realizador. “Estamos a falar de duas associações culturais bastante jovens e dependemos de apoios.” Foi o caso deste projecto, apoiado pelo programa +Cultura, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.
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