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O The New York Times Book Review, o suplemento literário do principal jornal norte-americano e uma das publicações de críticas de livros mais influentes do sector, decidiu celebrar os primeiros 25 anos do século XXI com um “projecto ambicioso: tentar determinar os livros mais importantes e influentes da época”. Para isso, contou com a ajuda de 503 votantes, entre romancistas, escritores de não ficção, académicos, editores, jornalistas, críticos, poetas, tradutores, livreiros e bibliotecários, incluindo, por exemplo, Stephen King e Bonnie Garmus. E A Amiga Genial, o volume inaugural da tetralogia da enigmática Elena Ferrante, acabou a encabeçar a lista.
A par de George Saunder – que surge em 18.º com Lincoln no Bardo, em 54.º lugar com Dez de Dezembro, e em 85.º com Pastoralia –, Elena Ferrante é um dos dois únicos autores com três livros entre os 100 melhores. História da Menina Perdida, o volume que encerra a saga napolitana, ficou em 80.º lugar, e o romance Dias de Abandono (que não pertence à tetralogia) em 92.º. Além disso, a italiana é das poucas autoras traduzidas numa lista claramente dominada por autores anglo-saxónicos. Neste sentido, destacam-se também o chileno Roberto Bolaño, que ocupa a 6.ª posição graças ao seu romance 2666; e o alemão W.G. Sebald, em 8.º lugar, com Austerlitz.
Já em 2.º lugar, quebrando outra hegemonia (a do romance), surge The Warmth of Other Suns, de Isabel Wilkerson, que procura reconstituir a migração dos afro-americanos do Sul para o Norte e o Oeste dos EUA. O livro ainda não tem tradução portuguesa, mas a Cultura Editora lançou recentemente uma outra obra da mesma autora, Castas. As Origens do Nosso Descontentamento, que analisa os sistemas de castas nos EUA, na Alemanha nazi e na Índia.
O restante top 10 inclui o romance histórico Wolf Hall, que Hilary Mantel dedica a Thomas Cromwell. Segue-se The Known World, de Edward P. Jones, sobre um escravo negro da Virgínia que veio a ser, ele próprio, proprietário de escravos; Correcções, de Jonathan Franzen, uma saga familiar que é também um retrato dos EUA na viragem do milénio; e, entre Bolãno e Sebald, A Estrada Subterrânea, de Colson Whitehead, que se centra na vida dos escravos negros nas plantações dos estados sulistas. Em 9.º e 10.º lugar, respectivamente, surgem Nunca Me Deixes, de Kazuo Ishiguro, prémio Nobel da Literatura de 2017, e Gilead, de Marilynne Robinson, uma narrativa epistolar que narra a autobiografia ficcionada de um pastor congregacionista do Iowa.
Como é que foi criada a lista?
A ideia era que cada um dos 503 votantes fizesse uma selecção dos dez melhores livros do século XXI, seguindo uma única regra: tinham de ter sido publicados nos EUA, em inglês, a partir de 1 de Janeiro de 2000. “Depois de votarem, os inquiridos tiveram a possibilidade de responder a uma série de perguntas em que escolhiam o seu livro preferido entre dois títulos seleccionados aleatoriamente. Combinámos os dados destas perguntas com as contagens de votos para criar a lista dos 100 melhores livros.”
Além dos autores já mencionados, a lista conta ainda com nomes como Joan Didion (em 12.º, com O Ano do Pensamento Mágico), Cormac McCarthy (em 13.º, com A Estrada), Chimamanda Ngozi Adichie (em 27.º, com Americanah), Zadie Smith (em 31.º, com Dentes Brancos), Annie Ernaux (em 37.º, com Os Anos), Donna Tartt (em 46.º, com O Pintassilgo), Marjane Satrapi (em 48.º, com Persepolis) e Lucia Berlin (em 79.º, com Manual Para Mulheres de Limpeza).
Outra curiosidade: os livros mais recentes na lista são todos de 2022. Confiança, de Hernán Diaz (50.º lugar); Lealdade, de Hua Hsu (58.º lugar); Demon Copperhead, de Barbara Kingsolver (61.º lugar); De Amanhã em Amanhã, de Gabrielle Zevin (76.º lugar); e a septologia de Jon Fosse (78.º lugar).
Se quiser, a lista completa está disponível online, no site do The New York Times, onde é possível descobrir em quem votaram os seus autores favoritos, bem como submeter a sua própria selecção dos dez melhores livros do século XXI.
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