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Estrela ressuscita a sua casa do jardim como centro cultural de bairro

No lugar do icónico chalet que foi creche durante 120 anos haverá uma biblioteca, artes performativas, conversas e exposições. É a cultura a juntar-se à natureza e ao ambiente, a partir deste domingo.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Casa do Jardim da Estrela
Francisco Romão Pereira/Time OutCasa do Jardim da Estrela
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A programação arrancou a 21 de Setembro, mas a inauguração oficial é no dia 24. A partir deste domingo, a Casa do Jardim da Estrela estará aberta de terça-feira a sábado, entre as 10.00 e as 18.00, com uma biblioteca e uma programação que inclui exposições, artes performativas, conversas, oficinas, sessões de leitura ou aulas de yoga, na maior parte das vezes com uma ligação aos temas da ecologia e do ambiente. A freguesia da Estrela ganha, assim, um novo centro cultural, o terceiro do género em funcionamento no âmbito do programa Um Teatro em Cada Bairro.

Como refere à Time Out o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Diogo Moura, a Estrela “não tem propriamente muitos equipamentos deste género, que possam receber actividades de artes performativas, oficinas, cinema ou leitura”. Ao mesmo tempo, informa a autarquia em comunicado, “pretende-se que o espaço seja um ponto de encontro e de partilha de conhecimento, e um local de proximidade entre os agentes locais, os artistas e as diferentes comunidades”.

Tanto pela oferta programática como pelo peso do edifício em si, “há uma grande expectativa em relação a esta casa”, admite a coordenadora do espaço, Vanessa Albino. “Ela esteve fechada durante muitos anos, depois esteve em obras e as pessoas perguntavam-se quando iria finalmente abrir. Agora queremos não só corresponder a essas expectativas como surpreender e superá-las.” Uma das apostas da autarquia é unir num só sítio as áreas da cultura e do ambiente, bem como a social. Diogo Moura destaca por isso o simbolismo da iniciativa. “Este é um espaço cultural, sim, mas que não vive isolado da sua envolvência. Tanto pela história do Jardim da Estrela como pela do edifício – que foi recuperado de modo a manter a sua traça original – e também por podermos juntar a isso a cultura e a valorização do ambiente, é um projecto muito simbólico”, qualifica o vereador.

Iniciadas em Janeiro de 2012, as obras de requalificação do chalet foram alvo de polémica, com um grupo de cidadãos a manifestar-se contra a demolição do edifício. A autarquia veio a público justificar que cerca de 70% dos materiais de origem não estavam em condições de serem restaurados, mas que, ainda assim, a traça original seria mantida e respeitada. A histórica casa de madeira foi construída em 1882 e funcionou durante cerca de 120 anos como uma creche progressista, seguindo a filosofia do pedagogo alemão Friedrich Froebel, que defendia uma educação sem barreiras entre os espaços interior e exterior. “É uma marca forte e por isso também queremos continuar essa filosofia na nova casa”, avança Vanessa Albino. Assim, a relação com o Jardim da Estrela, as suas plantas e história, será permanente. Está planeada, por exemplo, a instalação de um conjunto de “estações literárias” — uma proposta que partiu da comunidade, durante um laboratório cidadão organizado pela autarquia — que promove o circuito entre o interior da casa e o jardim.

Ao mesmo tempo, e ao contrário do que carrega a história, esta será “uma casa para crianças e adultos”, com oficinas que tanto poderão explorar o papel das abelhas no ecossistema como produtos feitos a partir de plantas. Para o início de 2024, está prevista, ainda, a abertura de uma xiloteca (uma espécie de biblioteca de madeiras vindas do jardim).

Casa do Jardim da Estrela
Francisco Romão Pereira/Time OutCasa do Jardim da Estrela

Até ao final de Outubro, a Casa do Jardim da Estrela oferece oficinas, aulas de yoga, conversas, leituras dirigidas ao público infantil, entre outros eventos. Na pré-abertura, esta sexta-feira, 22 de Setembro, há um concerto de Mauger (18.30), um projecto entre o jazz, o pop e a bossa nova. No sábado, às 11.30, acontece um passeio botânico e poético e, às 18.30, um concerto do projecto Mesmer, programado pelo Hot Clube de Portugal. No domingo, dia em que a estrutura abre oficialmente (com uma exposição sobre a história do jardim), decorrem uma oficina sobre a importância das abelhas (10.00) para maiores de três anos, uma sessão sobre saúde e cosmética naturais (11.00) e uma aula de movimento (12.00). A festa prossegue às 14.00 com um concerto de Farra Fanfarra, seguido de um espectáculo de Pedro Ramos, da Ordem do Ó, às 15.15. O dia culmina com o concerto de Leguelá (18.00), que leva ao coreto ritmos de São Tomé e Príncipe.

Carnide, Alvalade, Ajuda e Pedrouços são a seguir

Após o Avenidas, no Bairro do Rego, e o Cine-teatro Turim, em Benfica, a Casa do Jardim da Estrela é o terceiro espaço do programa Um Teatro em Cada Bairro a abrir em Lisboa. Os próximos centros culturais a integrar a rede serão a já existente Boutique da Cultura, em Carnide que irá “mais que duplicar o espaço de ensaio e de apresentação” e que deverá abrir em Outubro —, o também já existente Complexo dos Coruchéus, em Alvalade, o antigo lavadouro da Ajuda e o espaço onde hoje funciona a Academia Dramática Familiar, em Pedrouços, estando os dois últimos sujeitos a obras profundas, com inaugurações prováveis em 2025.

Olhando para os equipamentos no seu conjunto, Diogo Moura sublinha que, com o programa Um Teatro em Cada Bairro, a cidade ganha “novas centralidades”, com a cultura a assumir-se como “um motor e um transformador da sociedade”. “Tem sido feito um trabalho com a comunidade, com as juntas de freguesia, com representantes de moradores… Portanto, este é um trabalho cultural, mas também muito social.”

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