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“Eu já fui a 109 festivais de música – e isto foi o que aprendi”

O que deve levar na mala? Como organizar a agenda? Um antigo editor da ‘NME’, referência britânica no jornalismo musical, deixa-nos 11 dicas para pôr em prática.

Liv Kelly
Escrito por
Liv Kelly
Contributing Writer
A collage of festival scenes
Image: Time Out / Shutterstock
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Há quem tente ir a pelo menos um festival de música todos os anos. Também há quem passe praticamente todos os fins-de-semana, desde o final de Maio até ao início de Setembro, a dançar ao som de uma miscelânea de cabeças-de-cartaz em recintos espalhados um pouco por todo o lado. Depois, há os fanáticos por festivais: aqueles que já estiveram em tantos que atingiram os três dígitos.

Matt Wilkinson, antigo editor da revista britânica NME, hoje a trabalhar na Apple Music, onde tem um programa de rádio, já passou por mais de 100 festivais – por isso, quem melhor para nos dar conselhos nesta época de festivais sobre como sobreviver ao sol, à ocasional lama e aos inevitáveis conflitos nos alinhamentos?

A Time Out Londres falou com Wilkinson antes de Glastonbury, mas as suas pérolas de sabedoria podem bem servir os festivaleiros que estão a preparar-se para ir ao Vodafone Paredes de Coura, ao C.A. Vilar de Mouros ou ao Sudoeste (só para mencionar os grandes). Aqui ficam.

  1. Cuidado com os piratas dos festivais

“Numa das minhas primeiras idas a Glastonbury, acampei com amigos da universidade, mas o grupo mais alargado era uma louco colectivo com cerca de 100 pessoas – era como estar numa comuna. Alguns, que eu não conhecia, levantavam-se às cinco da manhã e vasculhavam a zona à procura de carteiras, chaves, telemóveis perdidos... Nós não estávamos envolvidos, e eles nunca o partilhavam, mas iam para casa com sacos de lixo cheios de pertences alheios.”

  1. Não se deixe dominar por um horário

Diverti-me mais quando deixei o meu tempo livre. Quando se tem uma janela de três horas e se vai com quem se quer ir, é quando se descobrem as melhores coisas. Particularmente em Glastonbury, é impossível planear – podemos estar a uma hora de distância do próximo palco. Escolho três ou quatro coisas que sei que quero ver naquele dia, mas é só isso.”

  1. Leve pouca roupa – a menos que queira ser famoso

“Uma vez fui a um festival e um tipo não levou mala. Fomos de carro, parámos numa Oxfam pelo caminho e ele comprou um cobertor – foi só isso, mais o cartão bancário e o carregador do telemóvel. Ficou em tendas diferentes, vestiu a mesma roupa, não tomou duche. Quanto mais tempo passávamos lá, mais inveja eu sentia daquele gajo. Sem mala, sem stress.

“No entanto, houve algumas vezes em que ir mais apetrechado valeu a pena. Ver Wet Leg ficou-me na memória porque alguém levou de facto uma chaise longue com eles. Não só isso, mas conseguiu que toda a gente à sua volta a levantasse – foram precisas cerca de 50 pessoas, mas tornou-se uma lenda do festival. Ou quando estava a ver o Brian Wilson dos Beach Boys a tocar a ‘Good Vibrations’ e o sol apareceu, o que já era poético, mas alguém surgiu por cima da multidão numa prancha de surf, que o público transportava de um lado para o outro, mesmo em frente ao Pyramid Stage [de Glastonbury].”

  1. Evitar as bebidas rascas 

“O mais fácil e o mais leve é vinho em pacote, mas é provavelmente o mais nojento também. Isto porque o vinho aquece ao longo do dia e à noite está à temperatura de uma chávena de chá, o que não é de todo o mais agradável. Mas é o mais fácil. No entanto, há algo de muito, muito agradável em estar no campo com uma cerveja acabada de servir, a ver uma banda.”

  1. O protector solar é obrigatório

“Este é muito importante. Estamos fora de portas o dia todo, por isso, mesmo que esteja nublado, é necessário protector solar. O desinfectante para as mãos é outra necessidade. Levei-o para todos os festivais, mesmo antes da pandemia.”

  1. Se quer dormir, durma

“Para dormir, tem duas opções. Pode levar tampões para os ouvidos, que funcionam bastante bem, ou cobrir a cara com o máximo de roupa possível: criar uma situação do tipo almofada a 360 graus, mas o resultado disso pode ser um bocado suado. Em alternativa, pode embebedar-se até ficar cego e desmaiar – o que não é aconselhável. Seja como for, não fique junto à tenda de música electrónica.”

  1. Se quer ficar acordado toda a noite... faz isto

“Confie nos organizadores do festival. Se o entretenimento for suficientemente bom, não precisa de dicas. Eles sabem como programar o melhor tipo de música para a melhor altura do dia – ninguém com bom senso vai programar uma banda de metais para as 4 da manhã, pois não?”

  1. Mantenha-se fiel ao que sabe

“Acho que se aprende [a sobreviver aos festivais] muito rapidamente. Nos primeiros dois festivais a que vamos, parecemos um cachorrinho de olhos arregalados a perder a cabeça, mas depois (espero) percebemos que estamos lá durante quatro ou cinco dias e que devemos ter calma. Cada um deles parece o seu próprio mundo, mas mantenha-se fiel ao que aprendeu desde o início e isso vai ajudá-lo a criar um ritmo.”

  1. Deixe de lado a bandeira – mas encontre um ponto de referência

“Nunca levei uma bandeira para marcar a minha tenda, mas felizmente sou como um pombo-correio, por isso consigo saber mais ou menos onde estou – nunca me aconteceu andar a vaguear durante hora e meia a pensar ‘onde é que pus a tenda?’. O que eu digo é que não precisa de levar uma bandeira porque as outras pessoas o fazem (ver o número três). Pode olhar para as árvores, para os cantos dos campos, para as outras tendas e utilizá-los como pontos de referência – talvez acampar atrás das pessoas com a bandeira que está ao contrário.

  1. Mude de companhia

“Já estive em festivais com apenas uma pessoa e já estive em festivais com grupos enormes, em que nem sequer conheces toda a gente, tipo 50-60 pessoas. É tudo espectacular e é tudo uma experiência ligeiramente diferente. Se não quer que seja sempre a mesma coisa todos os anos, é óptimo alternar um pouco [com quem vai] – isso vai trazer uma visão totalmente nova de um festival, de certeza.”

  1. Prepare-se para abraçar tudo – vai criar memórias para toda a vida

“Sou bastante tímido, mas no festival e conferência musical South by Southwest estava a conversar com Amyl and the Sniffers antes [da sua actuação]. Não sei como, mas eles disseram: ‘Vais subir ao palco connosco esta noite’. Só por causa da atmosfera do festival, pensei: sim, porque não? Quando o espectáculo começou, eu estava bastante perto da frente e a Amy, a cantora, viu-me. Pôs-me às costas e arrastou-me para o palco. Provavelmente não voltaria a fazer isso – só num festival.”

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