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Europa-América renasce como editora de ficção contemporânea

A histórica chancela é agora detida pela EA/CZ Editora, que quer apostar em autores emergentes. A primeira publicação é da jovem peruana Claudia Ulloa Donoso.

Raquel Dias da Silva
Jornalista, Time Out Lisboa
Claudia Ulloa Donoso
© Tomás Melo GonçalvesClaudia Ulloa Donoso
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A Publicações Europa-América declarou insolvência em 2019. Quatro anos depois, a principal chancela da histórica editora, agora detida pela EA/CZ, regressa ao mercado com uma nova imagem e um novo logótipo, para apostar em autores de ficção contemporânea, europeus e americanos, nunca antes editados em Portugal. A jovem peruana Cláudia Ulloa Donoso assina a primeira publicação, Eu matei um cão na Roménia. Já disponível online e nas principais livrarias, trata-se do romance de estreia da autora.

“Em 2021, a EA/CZ Editora comprou não a empresa, mas várias marcas da Europa-América”, diz à Time Out Lisboa Alexandre Rezende, o único sócio do novo grupo editorial, que é gestor de formação e não tem qualquer ligação prévia ao sector. “O que me levou a investir foi uma relação emocional com a marca enquanto leitor, porque sou um leitor acima de tudo e acho que a Europa-América teve um papel muito importante no acesso e na democratização da leitura em Portugal. Tenho 40 anos e a minha geração lembra-se certamente dos livros de bolso, dos Apontamentos Europa-América e de haver um catálogo gigante, no qual encontrávamos obras que não encontrávamos noutra editora.”

Fundada em 1945, pelos irmãos Francisco e Adelino Lyon de Castro, a Publicações Europa-América era uma das mais antigas editoras portuguesas. Antes do 25 de Abril, manteve uma linha editorial assente na edição de autores perseguidos pelo regime de Salazar, como os portugueses Soeiro Pereira Gomes e Alves Redol, ou que lhe eram pouco caros, como Gabriel García Márquez e Jorge Amado. Além disso, publicou também vários autores até então inéditos em Portugal, como William Faulkner, John Steinbeck e Vladimir Nabokov, e distinguiu-se na democratização da leitura, com o lançamento de livros de bolso e a publicação de géneros como espionagem e ficção científica, bem como de colecções de temas políticos, sociais e económicos.

“Para já, a ideia é relançar a marca e publicar literatura contemporânea, que fale das grandes questões do nosso tempo, com a linguagem do nosso tempo. Focamo-nos obviamente num público que gosta de livros de qualidade e com uma edição, tradução e revisão cuidada”, esclarece Rezende sobre a renovada Europa-América, que pretende, por um lado, posicionar-se como uma editora de referência na publicação de ficção literária contemporânea de novos autores; e, por outro, ter um papel activo na divulgação de autores portugueses noutros mercados, contribuindo para a internacionalização da literatura nacional. Numa primeira fase, a aposta é em autores estrangeiros, europeus e americanos, nunca antes editados em Portugal, mas a editora tenciona publicar também autores portugueses a partir de 2025.

“O plano é publicar 12 livros de autores estrangeiros até ao final do próximo ano, mas também queremos promover a criação artística nacional, com o lançamento de novos autores portugueses, que possam chegar a novos públicos, nomeadamente a um público mais jovem que agora tem estado a puxar muito pelo mercado livreiro. Ainda não temos o alinhamento [das primeiras doze publicações] fechado, mas os próximos livros, um de um autor brasileiro e outro de um autor mexicano, devem sair em Fevereiro e Março de 2024. Depois, o objectivo é publicar mais ou menos um por mês. Não é uma regra, mas a ideia é essa”, adianta Rezende, que trabalha com serviços subcontratados. “Queremos ser sustentáveis, no sentido de que este seja um projecto duradouro, pelo que ainda não temos empregados, mas procurámos rodear-nos de consultores editoriais e tradutores, bem como de empresas de design, como a Ferrand, Bicker & Associados. Neste momento, gostava de, no prazo de um ano, ter aqui um editor a sério.”

Com tradução de Cristina Rodriguez e de Artur Guerra, Eu matei um cão na Roménia (18,80€), da escritora peruana Claudia Ulloa Donoso, é o primeiro livro editado pela nova Europa-América. A protagonista, uma mulher latino-americana que ensina norueguês a imigrantes, está a lidar com uma depressão. Querendo evitar o pior, o seu melhor amigo decide levá-la consigo à sua terra natal na Roménia. É aí, entre blocos de cimento e letreiros de néon, que a jovem professora – amparada por álcool e analgésicos e cercada por uma língua que não conhece – se confronta directamente com a morte.

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