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Evan Hansen quer ter um bom dia, mas “este musical não é sobre brilhos”

Rui Melo adapta a obra multi-premiada de Steven Levenson acerca da ansiedade, da depressão e do suicídio. Para ver no Teatro Maria Matos, entre 11 de Setembro e 3 de Novembro.

Beatriz Magalhães
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Beatriz Magalhães
Jornalista
Querido Evan Hansen
DRQuerido Evan Hansen
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“Querido Evan Hansen, hoje vai ser um dia bom.” É com este desejo que começa a história de Evan. Sentado ao computador, com um braço engessado, é a si mesmo que dirige esta carta. Mas, o que começa por ser um exercício simples recomendado nas sessões de terapia, acaba por se tornar o gatilho que desencadeia uma mudança repentina na vida de Evan. Está no último ano do secundário, não tem muitos amigos, o que na prática equivale a um, e é um rapaz tímido que sofre de ansiedade. Apesar de tudo, não deixa de ser um adolescente como os outros, com as mesmas preocupações e problemas. Não deixa de gostar de Zoe, uma colega da escola (embora tenha tenha demasiada vergonha para falar com ela), e de manter vivas as aspirações para o futuro, mesmo que esse futuro não parece sempre o mais promissor.

É no Teatro Maria Matos que Querido Evan Hansen ganha vida. Da autoria do norte-americano Steven Levenson, a peça, que já obteve vários prémios, entre eles seis Tony, três Lawrence Oliver e um Grammy, é posta em cena pela mão de Rui Melo. O actor e encenador, que garante não ser um “grande fã” de musicais apesar de contar com alguns no seu repertório, confessa que foram as músicas que o conquistaram. Depois de ler o texto, consolidou-se a vontade de adaptar a obra. “Este espectáculo fala sobre muitas coisas. Não fala só sobre ansiedade, depressão e tentativas de suicídio na adolescência, fala também sobre a culpa da paternidade que está sempre presente”, reflecte Rui Melo, após um ensaio. Além de Evan e Connor, colega de Evan que se suicida no começo da história, os pais de ambas as personagens também tomam lugar central, quer seja no que toca à experiência de perder um filho, ou quando não estão presentes para os filhos.  

Querido Evan Hansen
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O facto de Evan viver nos dias de hoje, também tornou importante mostrar como a presença nas redes sociais pode ter um papel crucial nas novas gerações. “Interessou-me desconstruir esta complexidade do que é a vida online e transpô-la para uma versão ultrassimplificada em palco, sendo objectivamente um contraste. Isto não pretende ser uma cura para nada, isto só pretende [ser], ou pelo menos gostava que fosse, um reconhecimento de que a juventude está um bocado perdida. Perdida no sentido de estar sem rumo, sem norte, e as redes sociais e a internet, de uma forma geral, estimulam isso ainda mais.” A cenografia procura então pôr em evidência o tal contraste que se impõe entre a vida que levamos e aquilo que partilhamos nas redes sociais. 

Querido Evan Hansen
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Não há nada em palco a não ser uns quantos adereços que vão surgindo à medida que são necessários para a narrativa. Uma cama, uma mesa de jantar, umas cadeiras, e um banco de jardim são trazidos e levados entre cenas ou canções. Por cima das cabeças dos actores, estão suspensos ecrãs de diferentes tamanhos e posições que vão passando vídeos e imagens de forma a replicarem ecrãs de telemóvel. Ao contrário de outras adaptações da peça, tal como acontece em Londres, que são providas de “muito brilho, cor e movimento”, esta quis ser mais simples e passar uma mensagem clara. “Na minha perspectiva, este texto pedia outra coisa, ou pelo menos gostava de apresentar uma visão diferente. Este musical não é sobre brilhos e não pode ter artifícios, não pode ter isso. O que me interessa é essencialmente o trabalho dos actores, o que eles estão a dizer”, explica o encenador.

Os temas abordados, que passam pela depressão, ansiedade, suicídio, luto, relações familiares, pelo amor e amizade, são temas que carregam um certo peso, especialmente quando são postos diante o público num ambiente que se assemelha tanto à realidade. É importante vê-los em palco e falar sobre eles, mas para Rui Melo este trabalho não passa por chamar à atenção para estes temas. Antes, o encenador quer pôr-nos a pensar sobre eles. “O meu objectivo não é apresentar soluções para nada, eu não gosto de apresentar soluções para nada. Eu gosto muito do efeito espelho que o teatro pode ter. Vou apontar um espelho para as pessoas que estão a assistir e, depois, se elas virem ali o seu reflexo, então façam como quiserem.”

Querido Evan Hansen
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E, se o diálogo já não foi fácil de adaptar, as canções também não o foram. Tanto pela complexidade dos temas como pela linguagem utilizada, visto que a maioria das canções são interpretadas na pele de adolescentes. No fundo do palco, esconde-se no escuro uma banda, composta por seis pessoas, que acompanha as vozes dos actores. Só no fim, quando o fundo preto atrás dos músicos se torna azul, é que os vemos mais claramente. Nesse momento, é também Evan que vemos mais claramente. Sem gesso no braço e tudo.  

Teatro Maria Matos. 11 Set-3 Nov. Qui-Sáb 21.00, Dom 17.00. 20€-22€ 

Contactos de apoio e prevenção do suicídio

SOS Voz Amiga (15.30-00.30)
213 544 545
912 802 669
963 524 660

SOS Estudante (20.00-01.00)
915246060
969554545
239484020

Telefone da Amizade (16.00-23.00)
222 080 707

Conversa Amiga (15.00-22.00)
808 237 327
210 027 159

Voz de Apoio (21.00-00.00)
225 506 070

Vozes Amigas de Esperança de Portugal (16.00-22.00)
222 030 707

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