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Grande parte do prazer na boca está na gordura, no doce e nos hidratos de carbono. Um prato delicioso pode não ter tudo isto, nem muito disto, mas tem de ter alguma coisa disto.
Foi, portanto, de nariz torcido que fui ao Honest Greens. O nome, por si, já me aborrece. E depois fiquei a imaginar montanhas de alface com chia e queijo de cabra pasteurizado (uma rodelita lá no topo), um pesadelo de superalimentos e pasto. Acresce que uma das embaixadoras do restaurante foi a primeira mulher no mundo que manteve um six pack durante a gravidez, o que também assusta.
O espaço fica lado a lado com o Honorato e a pizzaria Zero Zero, virado para a zona ribeirinha do Parque da Nações, naquele descampado de gravilha a sul do Pavilhão de Portugal que pareceu sempre um erro de projecto. Os três restaurantes pertencem à empresa Plateform (ainda que a Honest Greens seja uma marca espanhola), que vê assim aumentar o seu enclave à beira-rio para largas centenas de cadeiras.
O protocolo Covid está bem pensado, com o restaurante a optar por manter a disposição das mesas, mas assinalando as que não estão a uso. Sinalética correcta, gel por todo o lado, espaço e ar livre e até máscara para quem se tenha esquecido. A esplanada é o ex-líbris do sítio, construída em madeira e verga, das mesas aos candeeiros, uma extensa cabana de praia, com lugar para mais de 200 pessoas. O interior é mais curto, mas com metros para aumentar as mesas, tudo florido e fresco, bonito e limpo, no centro a cozinha aberta cheia de legumes a sério e cozinheiros a sério.
As melhores comidas têm por base o grão. Os hummus da casa são razão suficiente para se lá ir. A textura é perfeita, grosseira, encharcada de azeite e ervas, com grãos firmes por desfazer. O meu hummus preferido – mudam todas as semanas – é o de abóbora e curcuma, terroso, profundo e surpreendente, das melhores coisas que provei este ano. A segunda melhor comida são os extraordinários falafel, bolinhos fritos do Médio Oriente, também eles à base de grão. Estaladiços e secos da fritura, vêm com um molho de tahini (pasta de sésamo) leve e aromático. Estamos a falar quase sempre de cozinha feita no momento e em pouco tempo e não de pré-feitos aquecidos, tão típicos dos restaurantes de cadeia. De resto, tudo o que comi era saboroso, da vitela ao salmão, vindo os pratos acompanhados de um montículo de espinafres e rúcula (pouco temperado) e uma torrada fina de pão da Gleba (cá está o hidrato). No capítulo das saladas, por vezes exagerou-se na pilha de verdes para encher o prato, estratégia clássica do healthy food de centro comercial.
Nota também para as magníficas águas infusionadas. Não são baratas (2,5€) mas são muito refrescantes e podemos repetir quantas vezes quisermos. Já pagar o mesmo por água filtrada é que me parece marotice. No capítulo dos doces, provaram-se uma tarte de matcha com malagueta (fraquinha) e uma tarte afrodisíaca de banana, gengibre e chocolate (bastante melhor).
De resto, a playlist é muito boa, um indie solarengo bem seleccionado, bom para dias quentes com o Tejo em fundo. Em síntese, este Honest Greens, mais do que um restaurante fanático da verdura, é um bastião de comida equilibrada, muitas vezes extraordinária, servida rapidamente e com preços justos. Apesar do nome, será menos indicado para vegetarianos letárgicos do que para a malta do gym e da quinoa, do Instagram e do clubbing. Do hummus e do falafel.
Alameda dos Oceanos 21101F (Parque das Nações). 91 011 6522. Dom-Sáb 8.30-00-00.
NOTA: o nosso crítico já voltou a sair à rua e a visitar, anonimamente, restaurantes da cidade, mas guarda a atribuição de estrelas para quando a situação estiver mais regularizada.