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Não nasceu em Cabo Verde, mas sente-se filho da terra. Luis Levy Lima, nascido em Lisboa em 1986, cresceu no seio de uma família de cabo-verdianos, muitos ligados ao mundo das artes, e entre telas, música e cachupas, foi imaginando um Cabo Verde só seu até o conhecer melhor, pelos próprios olhos, no virar de século. E nunca mais o abandonou.
A pandemia afastou-o dessa que também considera ser a sua terra e foi durante os meses de confinamento que começaram a surgir as dez obras que compõem "Téra Longi", uma das partes que integram "Djuntu", o nome escolhido para celebrar a exposição em dose dupla no Centro Cultural de Cabo Verde. A outra parte é "Músicos de Cabo Verde", uma mostra que celebra o património cultural e musical cabo-verdiano através dos seus artistas. Esta última, uma colecção privada e desde 2017 à guarda do Hotel Pestana Trópico, na Cidade da Praia, saiu pela primeira vez do país, em direcção a Lisboa.
Filho de mãe portuguesa e pai cabo-verdiano, Luis sente-se acima de tudo um cidadão do mundo, mas defende que nele vivem as duas culturas, em simultâneo, e não gosta que lhe peçam para escolher entre uma e outra. Mas é visível que Cabo Verde tem servido de principal inspiração no seu trabalho. “Vivi esta pandemia a lembrar-me de quando era criança e tinha de esperar para conhecer Cabo Verde. Era quase como um amor proibido e senti isso durante estes tempos. Queria ir lá e não podia, tinha de viver à distância e fui obrigado a revisitar muitas coisas [da infância], boas e más”, diz o artista que, ainda assim, não é grande fã de “viver a tristeza”.
"Téra Lonji" é uma exposição carregada de nostalgia, de memórias e da saudade da “morabeza”, uma palavra que explica descrever um jeito de ser de um povo que se caracteriza pela alegria de viver e que, diz o dicionário, também pode ser traduzida para ‘gentileza’. Com "Téra Longi" matou saudades de Cabo Verde, enquanto lidava com novos sentimentos que o assolaram durante os meses em que esteve confinado no seu atelier. “O meu trabalho mudou muito durante a pandemia. Era muito colorido, porque gosto que o meu trabalho faça as pessoas felizes, mas a pandemia fez-me sentir uma impotência que nunca tinha sentido na minha vida”, desabafa. As telas foram ganhando novas tonalidades, como o preto, cinzas, fuligem, “cores duras, lixadas”, abraçando um lado “mais realista, menos onírico e sem filtros” nas suas obras.
Também a colecção "Músicos de Cabo Verde" representa um momento único. Aos já conhecidos retratos de Bana, Cesária Évora, Paulino Vieira, Lura, Ildo Lobo, Tito Paris, Mayra Andrade, Luís Morais, Manuel d’ Novas, Celina Pereira, Dino d’Santiago e Ferro Gaita, a exposição integra quatro novas obras com as figuras de Humbertona, Élida Almeida, Armando Tito e Orlando Pantera, feitas para esta exposição, mas que fazem parte da mesma colecção privada. No total, são 16 telas, o que a tornam na maior colecção de Luis Levy Lima até hoje.
"Téra Lonji" estará patente até 17 de Outubro, enquanto "Músicos de Cabo Verde" fica mais tempo e pode ser vista até 17 de Dezembro. Entretanto, aproveite para conhecer melhor o trabalho de Luis Levy Lima no seu site oficial em luislevylima.com.
Centro Cultural de Cabo Verde. Rua de São Bento, 640. Seg-Sex 10.00-17.00. Entrada livre.
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