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O género pós-apocalíptico parece ainda não ter gastado os cartuchos todos. Nem as adaptações de videojogos, que parecem ser uma das actuais fórmulas para o sucesso de uma produção em episódios. O próximo título que junta estas duas premissas é Fallout, série que adapta o popular jogo criado em 1997, por um tal de Tim Cain. Estreia a 11 de Abril, na Prime Video.
Depois de The Last of Us (HBO Max) ou Twisted Metal (Prime Video), ambos com origem na Playstation, chegarem aos catálogos do streaming, é a vez de outra não menos popular saga de videojogos merecer uma adaptação para o pequeno ecrã – igualmente ambientada num cenário pós-apocalíptico. É a era dos jogos que se tornam séries, ou das séries que tentam captar audiências já educadas para certos e determinados cenários, neste caso com uma estética retro-futurista dos anos 40 do século passado (com banda-sonora a combinar), que nos transporta para um futuro pós-nuclear. E com muito humor à mistura, para não destoar dos videojogos.
No universo Fallout, um conflito termonuclear entre os Estados Unidos da América e a China deu cabo de tudo. A única esperança de sobrevivência reside numa série de caixas-fortes construídas no subsolo pelo governo norte-americano, onde algumas franjas da população conseguiram encontrar um espaço seguro, sem radiação. Mas nem todos tiveram a mesma sorte. Ora, a acção da série Fallout arranca cerca de 200 anos depois do apocalipse, altura em que os dois mundos – o subterrâneo e o que ainda vive à superfície – se confrontam.
As gerações que vivem nas caixas-fortes pouco conhecem do mundo exterior e o mundo exterior ignora que os moradores do subsolo ainda mantêm as suas comunidades. Até que Lucy (Ella Purnell), uma optimista habitante de um abrigo perto do que outrora foi a cidade de Los Angeles, se vê obrigada a vir à superfície para salvar o pai Hank (Kyle MacLachlan), supervisor do Refúgio 33, onde vivem, e um homem que sonha transformar o mundo num local melhor para viver. O que pode ser complicado, já que ao longo de dois séculos o mundo exterior se encheu de mutantes e pessoas sem modos, moral ou higiene.
O choque entre os dois mundos torna-se claro no confronto entre a inocente Lucy e um experiente caçador de prémios ambíguo conhecido como O Ghoul (Walton Goggins). A bem do contexto, nos videojogos, os “ghoul” são humanos mutantes afectados pela exposição prolongada à radiação mas que, apesar de um aspecto zombificado, podem ter uma esperança de vida bastante elevada. Assim, este personagem funciona não só como uma espécie de anti-herói, mas também como uma ligação entre a realidade anterior ao apocalipse e a posterior: O Ghoul foi em tempos Cooper Howard, um pai de família aparentemente feliz e um vendedor astuto que vendia espaço nas caixas-fortes em que os sobreviventes se refugiavam. Numa conferência de imprensa que aconteceu em Março, e citada por vários meios norte-americanos, Goggins explica que, para si, o personagem é como o poeta Virgílio no “Inferno” de Dante. “É o guia, por assim dizer, desta paisagem infernal que encontramos neste mundo pós-apocalítico”, disse, descrevendo o personagem como “pragmático e implacável”, com códigos morais próprios e “um sentido de humor perverso”. Na série, há flashbacks para o seu passado, no qual vemos “uma pessoa muito diferente” que ajuda a compreender o tempo antigo “através da sua experiência”.
O irmão Nolan
Os criadores de Fallout são Jonathan Nolan e Lisa Joy, fundadores da produtora Kilter Films e também responsáveis pela série Westworld. De sublinhar que Nolan – também realizador dos três primeiro episódios – partilhou com o irmão Christopher a escrita de argumentos de filmes como Memento (2000), Cavaleiro das Trevas (2008) ou Interstellar (2014). Em entrevista à Vanity Fair, Nolan faz uma ponte não entre o passado e o presente, mas entre a ficção e a realidade. “Os jogos têm a ver com a cultura da divisão e dos que têm e dos que não têm, o que, infelizmente, se tem agravado cada vez mais neste país e em todo o mundo nas últimas décadas”, lamenta. E dá o exemplo de Lucy, uma personagem “encantadora, corajosa e forte” que se confronta com uma realidade que coloca em causa “as coisas supostamente virtuosas com as quais cresceu”.
E depois há Maximus (Aaron Moten), outro dos personagens em destaque nesta adaptação, um jovem soldado que pertence a um grupo militarizado chamado Brotherhood of Steel (A Irmandade de Aço), que chama a si a missão de manter a lei e a ordem no mundo pós-nuclear. Nolan descreve esta força como uma mistura entre o Corpo de Fuzileiros Navais e os Cavaleiros Templários, alimentada por “uma versão mutante de patriotismo, religião, lealdade e fraternidade”: “Na ausência de um governo federal, havia equipamento militar espalhado por todo o lado. Quem o obteria e como manteria o controlo sobre ele?”. Uma coisa é certa: este mundo balança entre o bem, o mal e tudo o que há pelo meio, como sublinha o produtor: “Quem quer que fossem os bons e os maus, destruíram o mundo inteiro. Por isso, agora estamos numa zona muito mais cinzenta.”
Desde 2007, os direitos de Fallout pertencem à Bethesda – entretanto adquirida pela Microsoft – e um dos produtores executivos da série, vindo da Bethesda Game Studios, é Todd Howard, o realizador dos jogos Fallout 3 (2008) e Fallout 4 (2015). Também à Vanity Fair, Howard recorda o processo de adaptação da estética e tom do franchise à televisão. “Tivemos muitas conversas sobre o estilo de humor, o nível de violência e o estilo de violência [...]. Fallout pode ser muito dramática, sombria e pós--apocalíptica, mas é preciso introduzir um pouco de humor... E acho que eles conseguiram fazer isso muito bem na série”.
Prime Video. Estreia a 11 de Abril (T1)
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