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É um tema que mete cada vez mais água, mas quando Thomas Vinterberg começou por desenhar os primeiros esboços do argumento de Families Like Ours ainda nem uma pandemia mundial estava na ordem do dia. A minissérie, que passou por vários festivais e se estreou em Portugal no LEFFEST, está a caminho do pequeno ecrã e tem estreia marcada para terça-feira, 19 de Novembro, na grelha do TVCine Edition.
O cineasta dinamarquês Thomas Vinterberg está de volta, quatro anos após ter estreado a longa-metragem Mais Uma Rodada, que lhe valeu o Óscar de Melhor Filme Internacional. Families Like Ours é a sua primeira obra no formato série e embora a descrição do enredo se assemelhe a um disaster movie, o principal foco são as suas personagens e como reagem perante um cataclismo.
Nesta minissérie de sete episódios, a Dinamarca tem de ser totalmente evacuada, deixando inclusive de existir como país, na sequência do acelerar do nível das águas do mar. Todos os cidadãos são convidados a emigrar, tornando-se refugiados climáticos numa Europa já pressionada pela emigração, que começa a implementar sistemas de quotas para os europeus. E se os refugiados, agora, fôssemos nós? Aproveitámos a passagem do realizador por Lisboa para nos sentarmos a conversar.
“Um espelho à nossa frente, enquanto sociedade ocidental”
A série foi idealizada por Vinterberg, que convidou Bo Hr. Hansen para partilhar a escrita do argumento de Families Like Ours – como tinha acontecido há quase três décadas no filme The Biggest Heroes (1996). Mais uma vez, estamos perante uma obra de autor com uma cuidada construção de personagens, que se sobrepõe à solução mais óbvia de explorar imagens catastróficas do desastre climático. Em vez disso, a água surge quase sempre de uma forma subtil, numa abordagem mais simbólica do que avassaladora.
Mas o realismo está lá, na forma como cada uma das personagens reage à tragédia de ter de abandonar um país que nunca mais o será ou a família que inevitavelmente terá de se separar. Apesar de estarmos perante uma espécie de alerta ambiental, Vinterberg confessa que quis evitar “enviar mensagens políticas”, o que teria sido “previsível”. Ainda assim, a minissérie nasce de “uma preocupação genuína sobre o que fizemos ao nosso planeta”, que diz ter crescido desde que fez o filme O Amor é Tudo (2003), que também tem as alterações climáticas como pano de fundo.
Por outro lado, e para os habitantes das chamadas sociedades ocidentais, este pode ser um passo em frente na humanização dos actuais refugiados climáticos, abrindo espaço para uma maior proximidade com as pessoas que tentam encontrar um lugar melhor para viver? “Espero que sim. Há algumas coisas que queríamos fazer, uma delas sendo criar personagens em situações que, esperamos, permaneçam connosco. Esse é, talvez, o melhor que podemos fazer. Talvez possamos colocar um espelho à nossa frente, enquanto sociedade ocidental.”
“E quanto à nossa moral? O que acontece com a nossa ética numa crise como esta? Venderias uma casa a alguém, sabendo que essa pessoa perderia todo o seu dinheiro, se isso significasse proteger os teus filhos? Também é importante criar um elemento de empatia e compreensão para com os milhões de pessoas ao longo da história e, actualmente, também da Ucrânia e de tantos outros lugares, que têm de tomar estas decisões. Pessoas que precisam de deixar a sua cultura e, possivelmente, os seus filhos para trás para sobreviver. Nunca é demais criar esse tipo de entendimento”, defende.
Ao mesmo tempo, Vinterberg receia que “só um trauma internacional, como uma guerra mundial, pode levar as pessoas a mudar as suas vidas” por um planeta mais saudável, embora haja uma mensagem de esperança no enredo que desenhou. “Abrimos o final e perguntámos: como é que estas pessoas vão emergir novamente? Como vão lidar com isto? Como vão reinventar-se neste novo mundo? E isso traz esperança, acho eu.”
Para ajudar a contar esta história, Vinterberg convidou pessoas que trabalharam em Mais Uma Rodada, entre elas a designer de produção Sabine Hviid e o director de fotografia Sturla Brandth Grøvlen. Como é que a linguagem visual da série se conecta, de certa forma, com a do filme? “É semelhante. Mais Uma Rodada foi inteiramente filmado com câmara ao ombro, mas a série teve uma abordagem diferente. Há algumas cenas com câmara ao ombro e outras com planos mais grandiosos. Mas, até certo ponto, tem a mesma linguagem, porque são as mesmas pessoas. Trazem o mesmo estilo, as mesmas ideias”.
Esta é a primeira experiência para televisão do cineasta, mas o método de trabalho não foi muito diferente, uma vez que Vinterberg é conhecido por desenvolver intensamente as personagens e as suas histórias, acabando por, no produto final, não demonstrar na totalidade tudo o que ajudou a construir. A diferença é que agora teve mais tempo de ecrã: “Estive a trabalhar nisto como se fosse um filme longo, suponho, ou um livro”. Families Like Ours estreia-se no TVCine Edition a 19 de Novembro (e fica também disponível no catálogo do TVCine+) e será emitido um episódio a cada terça-feira, num total de sete.
TVCine Edition. Estreia a 19 de Novembro às 22.10
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