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O nome talvez não lhe diga nada, mas no Brasil Carolina Sales tem uma legião de seguidores e tantas provas dadas que não lhe faltam prémios. Não fosse a crescente onda de insegurança do outro lado do Atlântico e a pasteleira continuaria por lá a dar frutos. A ânsia de uma vida mais tranquila acabou antes por trazê-la para Portugal e é em Oeiras que começa agora a dar nas vistas com a sua pastelaria fina.
“Eu já venho tendo laços com Portugal há alguns anos porque vinha dar aulas aqui”, começa por contar à Time Out Carolina Sales, que vivia até então no Rio de Janeiro. “A ideia não era mesmo mudar, a gente resolveu se mudar quando a violência começou a aumentar muito depois da pandemia. A cidade ficou muito violenta, muito mais do que quando eu já tinha medo de sair com os meus filhos para qualquer coisa e aí eu vi que não fazia mais sentido”, continua, admitindo o risco de mudar uma marca tão bem sucedida e já com 12 anos de existência. “É um risco gigantesco, mas, por exemplo, eu já comecei com um movimento hoje que esperaria para daqui a seis meses”, diz, orgulhosa e sem grande admiração.
A confiança de Carolina vem da certeza de quem sabe que está a fazer o melhor com os melhores produtos e condições. A história da marca que criou é prova disso mesmo. Tudo começou quase como uma brincadeira. Com formação em Medicina Veterinária, foi quando depois se decidiu aventurar no curso de Medicina que começou a ocupar parte do tempo “a pintar umas caixinhinhas de artesanato”. “Quando vi já estava com um site vendendo não só as caixinhas, mas outras coisas também. E então havia pessoas que me pediam algo para pôr dentro das caixas”, lembra. Brigadeiros foi a ideia imediata, mas não podiam ser uns brigadeiros quaisquer. “Apesar de ser algo muito forte no Brasil, era também muito coisa de festa infantil e aí criei o gourmet. Comecei a desenvolver sabores, a melhorar a receita, a pôr menos doce e a fazê-los mais bonitos e a coisa explodiu.”
O curso ficou pelo caminho, a cozinha de casa já não servia para tantas encomendas e os brigadeiros começaram a partilhar o espaço também com bolos. “2010 comecei em casa, 2011 abri a primeira lojinha e no final de 2011 eu já estava no Barra Shopping, que é o maior shopping da América Latina. Foi tudo fruto de trabalho árduo. Eu não tinha essa base de confeitaria. Foi preciso muito estudo, fui aprendendo aos poucos”, conta. “Nem tinha essa pretensão, nunca imaginei entrar no Barra Shopping, era muito caro, o investimento lá era altíssimo, mas quando se faz um trabalho diferente começam a te ver e as oportunidades aparecem”, afirma. Foi assim também com os prémios. A marca foi sendo indicada aqui e ali, até que em 2018 a Carolina Sales Café recebeu o título de “Confeitaria do Ano” pela revista Veja.
Quando este ano Carolina decidiu mudar-se para Portugal, tinha já três lojas, uma delas bem grande (um restaurante praticamente), e estava a preparar o franchising para chegar a outras cidades. “Recuei 12 anos e comecei de novo, claro que com um know how muito maior.” Agora tem a vantagem, acredita, da fama. “Aqui não dá para dimensionar, mas lá era muito forte e por isso a maioria que está aqui conhece. A gente teve esse abraço muito forte da comunidade brasileira e os portugueses também vêm junto porque é uma coisa diferente, é uma coisa que não se encontra em todo o lado”, defende.
Se foi com os brigadeiros (1,40€/unidade) que tudo começou, a montra da loja, pintada a cor-de-rosa, faz-se maioritariamente de bolos. Dos mais simples (1,50€/fatia), cujo sabor vai variando diariamente, aos clássicos como o red velvet (2,90€/fatia) ou aos afamados da casa como o três chocolates (3,50€/fatia). Também há várias opções de tartes cremosas (2,90€-3,50€/fatia), bolachas (0,70€) e discos de chocolate (1,50€), uma espécie de belgas com vários sabores, tudo feito ali – a fábrica fica na cave da loja. E nem a linha fit, desenvolvida no Brasil, foi deixada de parte. “São bolos para quem tem restrição alimentar, sem açúcar, sem leite. Na verdade, para quem não tem restrição também servem porque são uma delícia. Quem não tem restrição come todos, quem tem, tem uma boa opção”, explica Carolina, referindo-se, entre outros, ao bolo proteico de laranja (3,90€/fatia), não leva açúcar, farinha ou glúten. O brownie diet quentinho (4,40€/fatia), assim se chama, sem glúten, leite ou açúcar, e a tarte de amêndoas (3,10€/fatia), sem glúten e farinha branca, também são opções.
“Temos uma marca de fabrico próprio com doces realmente pensados e desenvolvidos por mim. Há essa qualidade e esse cuidado de tentar trazer para o cliente um conforto através da pastelaria e da confeitaria. Isto não é só um lugar para pegar um pão e tomar uma bica rápida. É um lugar para relaxar, para criar uma memória afectiva. Foi o que a gente fez a vida inteira”, suspira.
É também um sítio para partilhar conhecimento, algo que Carolina gaba de sempre ter feito. Se eram as aulas que a traziam inicialmente para Portugal, não fazia sentido que não o continuasse a fazer. A vantagem, agora, é que fica tudo no mesmo espaço. É ao lado da fábrica que fica a sua escola onde pretende manter uma agenda bem composta mensalmente. O arranque foi agora em Outubro e até ao final do mês ainda há um workshop de brigadeiros (dia 22, 35€/4 horas) e outro onde se vai ensinar a fazer quatro tipos de massas de bolos (dia 29, 35€/4 horas).
Há menos de meio ano de portas abertas, Carolina Sales não se arrepende da mudança. Oeiras proporcionou-lhe até a primeira loja de rua. "Eu queria muito, mas sei que não é a melhor opção em termos financeiros. Eu gostaria mais de estar, como sempre estive, em centro comercial, garante o cliente que já está lá dentro. Está frio, está calor, eles estão lá. Foi assim a minha vida inteira”, justifica, revelando, porém, que a escolha desta loja não foi um acaso. Foi feita a pensar já num crescimento. “Queria um local que fosse no meio do caminho entre Lisboa e Cascais. Aqui é a nossa fábrica, então daqui eu distribuo. Se eu quiser abrir loja em Lisboa, eu estou bem. Se eu quiser abrir loja em Cascais, estou bem também.” E já há propostas em cima da mesa, mas cada coisa a seu tempo. “Não queremos dar um passo maior que a perna. Ainda estou treinando a minha equipa. Seria uma loucura abrir mais duas ou três lojas.”
Antes disso, ainda está nos planos ampliar a zona de entregas. Até lá, é possível ir levantar à loja, às vezes até sem encomendas, já que há sempre bolos a serem feitos. Isso e várias caixas com doces para presente ou não tivesse tudo começado por aí.
Av. Dr. Francisco de Sá Carneiro, 6A (Oeiras). 910 999 015. Qua-Dom 09.00-20.00
+ Na boutique de Fernando Semedo só há uma coisa no menu: “O melhor bolo de bolacha do mundo”
+ “Não venham para o Red Frog beber café, pedir imperial e beber caipirinha”