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Fausto já tinha uma dúzia de anos de carreira discográfica e cinco discos em seu nome, incluindo um par de clássicos (P’ro Que Der E Vier, de 1974, e Madrugada dos Trapeiros, de 1977), quando Por Este Rio Acima lhe garantiu a imortalidade, em 1982. Quarenta anos mais tarde, é considerado por muitos o melhor disco alguma vez gravado em Portugal, ou pelo menos uma das obras fundamentais da música popular portuguesa. E nos dias 19 e 20 de Novembro vamos ouvi-lo, do princípio ao fim, numa Aula Magna duplamente esgotada.
Editado pelo selo Triângulo da Sassetti, produzido por Eduardo Paes Mamede, escrito, composto e cantado por Fausto, acompanhado por músicos como Júlio Pereira, Pedro Caldeira Cabral ou Rui Júnior, Por Este Rio Acima é um objecto precioso. Ao longo de 16 canções que, inspiradas pela Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, acompanham as viagens marítimas de um povo, ouvimos os ritmos e as músicas tradicionais portuguesas a cruzarem-se e a transformarem-se em algo de novo e progresssivo. Sentimos o passado, o presente e o futuro de um país a tocarem-se e a informarem-se mutuamente. Apesar do anterior Histórias De Viageiros, lançado em 1979 pela Orfeu, já dar sinais do que vinha aí, poucos esperavam um disco assim. Eterno.
Passados 40 anos, continuamos a ouvi-lo com a mesma curiosidade e satisfação, e a escutar os seus ecos e reverberações. Na própria música de Fausto, que acabaria por escrever uma trilogia conceptual sobre as viagens e a diáspora portuguesa, onde se incluem ainda Crónicas da Terra Ardente (1994) e Em Busca das Montanhas Azuis (2011). Mas também, e sobretudo, no trabalho de alguns dos mais determinantes cantores e compositores portugueses dos últimos anos, de B Fachada a Pedro Mafama, passando por Filipe Sambado. Ou os próprios Lavoisier, que vão tocar na primeira parte destes concertos.
É difícil imaginar o que seria a música portuguesa hoje sem Fausto Bordalo Dias e sem Por Este Rio Acima (como é difícil imaginá-la sem as influências de Amália Rodrigues e de José Afonso, de José Mário Branco ou de Sérgio Godinho), mas seria uma coisa diferente. E pior.
Aula Magna. Sáb 19-Dom 20. 21.30. 25€-40€ (lotação esgotada).
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