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“Fazer”: uma exposição que também é uma revista de design

Está de regresso à Fidelidade Arte o ciclo Território. Desta vez, a exposição desdobra-se em revista. “Fazer” inaugura esta sexta-feira e está patente até 5 de Janeiro.

Beatriz Magalhães
Escrito por
Beatriz Magalhães
Jornalista
Fazer, Fidelidade Arte
© Col. Estúdio Mário Novais I FCG - Biblioteca de Arte e Arquivos
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“Fazer” é a exposição da quarta edição do ciclo Território. Com curadoria de Frederico Duarte e Vera Sacchetti, esta é, além de um projecto curatorial, uma revista de design. A exposição que inaugura na Fidelidade Arte, em Lisboa, esta sexta-feira, 22 de Setembro, é por isso a “Fazer#1”. Ou seja, é a exposição relativa ao primeiro número da revista. Fica patente até 5 de Janeiro. A “Fazer#2” será apresentada na Culturgest Porto entre 3 de Fevereiro e 12 de Maio. 

Concebida por dois críticos e curadores de design, a “Fazer” propõe focar a atenção nas transformações, protagonistas e processos actuais na prática do design. A revista pretende abordar como as disciplinas do projecto, como a arquitectura, interagem com a tecnologia, o trabalho, o consumo e o exercício da política. A primeira exposição, “Fazer#1”, está pensada enquanto experiência de curadoria como edição e vice-versa, que pretende comunicar de duas formas diferentes, a espacial e a escrita. A exposição pretende antever o primeiro número da revista e, por isso, os artigos são apresentados através de artefactos que incorporam um determinado processo, e por uma sinopse que antevê os temas trabalhados pelos seus autores, sendo que os artigos completos estarão disponíveis apenas na publicação impressa. Ao longo das 15 semanas, as ideias exploradas na exposição serão discutidas em programas públicos. 

Segundo Frederico Duarte e Vera Sacchetti, os temas que fazem parte da “Fazer” ainda não tinham lugar no debate em torno do design em Portugal e, daí, ser tão importante dá-los a conhecer ao público em geral, e especialmente aos alunos da área, que não pensam no design como ali está representado. “Não vão ver nenhumas cadeiras, o que nos faz muito felizes”, brinca Vera Sacchetti, numa visita antecipada à exposição. 

Os conteúdos, dispostos nas salas da galeria, apresentam a mesma ordem com que são abordados na revista. Assim, a primeira sala a visitar inclui a secção do editorial, à qual se junta uma vitrine com alguns objectos que serviram de referência ao design da revista. Na parede oposta, a secção Na Primeira Pessoa reflecte acerca do valor do design, ao pegar numa colecção de tapetes, suspensos no meio da sala, que foram desenhados pela designer espanhola Inma Bermúdez para a empresa Gandía Blasco, e que acabariam por ser vendidos todos pelo mesmo preço apesar do diferente nível de complexidade entre eles. No dia 4 de Outubro, às 18.00, os visitantes podem assistir a uma entrevista com a designer. Ainda na mesma sala, a secção Uma Oportunidade Perdida foca-se em como algo, tendo sido feito de uma forma, poderia ter sido feito de outra. Nesta primeira edição, são apresentados os livros da colecção História do Design Gráfico em Portugal, publicada pelo jornal Público. A 31 de Outubro, às 18.00, reúnem-se várias vozes da área do design gráfico para um debate acerca deste tópico. 

Na sala seguinte, mais pequena, que serve de passagem a outra, é exibido o documentário Contemporary Dialogues, que ilustra e documenta o projecto Fertile Futures, que representou Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza 2023. Além da projecção do documentário, realizado pelo Canal180, estão ainda em exposição os dois volumes do livro do projecto. Fertile Futures reflecte acerca da escassez e gestão de recursos hídricos, a partir do território português. A curadora Andreia Garcia e os curadores adjuntos Diogo Aguiar e Ana Neiva estão presentes para uma conversa acerca do seu projecto a 13 de Dezembro, às 18.00. 

Da propaganda à inclusão

Na terceira sala da galeria, dificilmente, se escapa o outdoor do PCP, que ocupa grande parte do espaço. Segundo a investigação feita para esta secção, Portugal é o único país na Europa em que a propaganda política pode acontecer todo o ano e em que esta é “é uma presença constante no nosso ambiente”, afirma Sacchetti. A partir desta realidade, surge a intenção de reflectir acerca da propaganda política e da forma como os oito partidos com assento parlamentar pensam a sua comunicação política, na secção Propaganda. De duas em duas semanas, o outdoor é trocado por outro de um partido diferente. A 18 e 19 de Outubro, pelas 17.00, os representantes dos partidos são convidados para uma conversa sobre o processo de design destes outdoors. Em parceria com a editora Bikini Books, a revista vai também publicar o ensaio de Susan Sontag sobre o papel dos cartazes políticos, pela primeira vez traduzido em português. 

O movimento dos trabalhadores em arquitectura, que deu origem ao SINTARQ (Sindicato dos Trabalhadores em Arquitectura), também tem um lugar de destaque numa investigação acerca das condições laborais em design e arquitectura em Portugal. Guilherme Sousa, designer e autor do texto, participa numa conversa a 29 de Novembro, pelas 18.00. 

Sobre o mundo dos rótulos de garrafas de vinho, Luís M. Jorge dedica um texto, complementado por uma estante de 50 garrafas de vinho diferentes. A 15 de Novembro, às 18.00, o autor conversa sobre "As Verdades do Vinho”. Tereza Bettinardi conversa, dia 27 de Dezembro, às 18.00, sobre a análise que fez ao Prémio Design de Livro, atribuído desde 2018 pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB). 

Com certeza o “objecto mais objecto” da exposição, segundo Sacchetti, a máquina de café Rise da Delta Q está em exposição, e é central num texto em que se critica todo o sistema de descartabilidade associado à mesma.

A última parte da exposição centra-se na campanha ABCLGBTQIA+, inicialmente pensada para divulgar a série Sort Of da FOX Life, e que, assente num glossário de linguagem inclusiva, foi divulgada em mupis e chegou a ser distinguida com o Grande Prémio do Clube da Criatividade em 2023. Situado num ponto estratégico da galeria, um destes mupis é visível a partir da rua, tornando-se “um chamariz para as pessoas virem ver”, afirma Frederico Duarte.

A 4, 19 e 31 de Outubro, e a 13 e 27 de Dezembro, às 13.00, há visitas guiadas à exposição com os curadores. A 15 e 29 de Novembro, também às 13.00, há visita guiada apenas com Frederico Duarte. No último dia da exposição, a 5 de Janeiro, além de uma visita guiada final com os dois curadores, às 13.00, há uma conversa entre Frederico Duarte, Vera Sacchetti e as designers da publicação e exposição Susana Carvalho e Kai Bernau, do Atelier Carvalho Bernau. A encerrar a exposição, às 19.00, é lançada a edição impressa da revista.

A exposição tem entrada gratuita e pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 12.00 às 20.00.

Fidelidade Arte. 22 Set-5 Jan, 12.00-20.00. Entrada livre

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