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Estava King Princess a aquecer-nos o coração no palco Heineken quando Álvaro Covões anunciava as datas do NOS Alive para o próximo ano: o festival regressa ao Passeio Marítimo de Algés a 11, 12 e 13 de Julho de 2024. O dono da Everything Is New e principal responsável pelo festival não adiantou qualquer nome para o futuro cartaz. A despesa das novidades ficou para o presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, que anunciou a pretensão de expandir o recinto em que o NOS Alive acontece desde os idos de 2007. O objectivo é fazer crescer o terrapleno até ao rio do Jamor, ou seja, até à Cruz Quebrada, o que garantiria uma área disponível de 30 a 40 hectares, segundo o autarca.
Isaltino Morais disse que a obra depende ainda de um despacho do ministro das Infra-estruturas, João Galamba, que exortou a fazer o processo avançar. Não há por isso qualquer calendário para o alargamento do Passeio Marítimo de Algés, mas pelo menos os festivaleiros que estavam atentos ao noticiário puderam levar algo em que pensar para o concerto de Machine Gun Kelly. Uma estreia em Portugal anódina – soporífera! – a merecer divagações amadoras sobre engenharia civil e feng shui, sobre como poderá vir a ser o recinto, de quem estava a vê-lo todo forma e nenhum conteúdo. O presidente da Câmara insistiu ainda na ideia, apresentada já noutros anos, de construir uma ponte pedonal por cima da ferrovia, para facilitar acessos e evitar, como agora acontece, que o público tenha de percorrer a pé parte do IC17 quando sai do festival e o túnel da estação de Algés é encerrado por razões de segurança. Mas sobre isso, que equivalia a pensar sobre o fim dos concertos, ainda era cedo, mesmo para news junkies.
Ainda havia muita coisa por ver no terceiro e último dia deste NOS Alive, o único que não esgotou. Se em cada um dos primeiros dias entraram 55 mil pessoas, no sábado ficaram por vender entre 300 e 400 bilhetes. Num universo possível de 165 mil entradas, é um número residual. Foram, no entanto, 300 a 400 pessoas a menos do que mereceriam os Queens of The Stone Age, que deram o grande concerto da noite no Palco NOS (com um final memorável, à altura do maior fulgor de outros tempos), e depois Sam Smith, com um espectáculo que começou na música, no sing-along e na apologia da felicidade, e acabou na mais tórrida e ímpia provocação. De desafio também se fez a história do palco Heineken no sábado, que foi em crescendo de King Princess para a incontestada Angel Olsen; para a festa de Tash Sultana, tão groovy e sedutora que fez com que uma multidão se atrasasse para Sam Smith (foi porventura a maior enchente da tenda em todo o festival); para a “arrasadora” Rina Sawayama (e o adjectivo foi justamente aplicado pela própria durante o espectáculo). E mais tarde, já em descompressão, com Branko a dar mais razões para dançar por aqui do que junto ao palco principal, onde actuavam os Rüfüs Du Sol.
Este palco acolheu vários outros concertos memoráveis desta 15.ª edição. Na sexta-feira, foi ali que se viu o entusiasmo do público juvenil a atingir níveis estratosféricos (níveis apenas reservados ao público juvenil) com Girl In Red, nome que mascara o da cantora, compositora e brava norueguesa Marie Ulven Ringheim, que perante tamanho arrebatamento mandou a segurança às malvas e arriscou um crowd surfing de uma ponta à outra da tenda. Anunciou e cumpriu, perante o olhar incrédulo tanto dos fãs como da sua equipa. E foi ali que, horas mais tarde, Jorge Palma não conseguiu esconder o quão vaidoso estava por ter casa cheia num sítio ao qual ninguém terá ido de propósito para o ver. Um concerto especial, comovente, e com quase todas as canções entoadas em uníssono do início ao fim. Já no dia anterior, o primeiro, os Ibibio Sound Machine se haviam abarbatado ao público do festival para o pôr a dançar com o seu afro-funk de braços abertos e anca insinuante; e já os Spoon tinham dado ao fim de noite de sexta-feira o conforto necessário para o concerto agridoce que os Red Hot Chili Peppers serviram.
O grande nome para o arranque do cartaz fecharam uma noite irremediavelmente amena no palco principal, onde nada entusiasmou a audiência por aí além – com excepção das jams de Flea e John Frusciante. Nem a sátira alienígena dos Puscifer (umas das encarnações de Maynard James Keenan), nem o rock injectado a blues de The Black Keys (com um som muito aquém do necessário). Sobraram os hits dos Peppers. Uma história diametralmente oposta se escreveu naquele mesmo palco na sexta-feira, com um alinhamento perfeito de concertos: começou em força com Linda Martini, prosseguiu demolidor (e republicano!) com os Idles, dançou e sorriu com Lizzo, subiu ao Olimpo do festival com a entrega imaculada de Arctic Monkeys, e terminou em deboche e celebração da cultura pop com Lil Nas X. Uma noite notável para os anais do NOS Alive.
Fora dos dois palcos maiores, Ana Lua Caiano (no palco WTF) ou Inês Marques Lucas (no coreto, que voltou a ser programado pela Arruada) levaram certamente boas memórias desta edição. Já o Fado Café foi palco de momentos inesperados, fosse Beatriz Felício a cantar Ornatos Violeta, fosse a enchente para (tentar) assistir a Jesus Quisto, o fenómeno televisivo que talvez tivesse ganhado em actuar no Palco Comédia, de dimensão superior e também apropriado para esta banda fictícia. Neste, era impossível entrar. Agora, quem não viu esta e as outras performances não voltará a ver. Forevers and evers.
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