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Quase 89 anos depois da morte de Fernando Pessoa, os seus versos continuam a ressoar com uma grande audiência. Agora, o trabalho do poeta vai ganhar uma nova vida em cima de palco. Através de composições de Nuno Côrte-Real, a “Ode Marítima” vai ser adaptada para um concerto com a orquestra Cantata Coral Sinfónica, no grande auditório do CCB, a 6 de Dezembro.
A ideia de criar este trabalho em torno do poema épico já existia há vários anos, como explica à Time Out o compositor. Surgiu na sequência de um convite da Ana Proença, fundadora e presidente da Égide – Associação Portuguesa para as Artes, e do maestro Paulo Vassalo Lourenço, a pretexto do Festival de Coros de Verão, para se fazer uma obra coral sinfónica. Esta oportunidade permitiu ao maestro realizar um desejo antigo.
“Veio-me imediatamente a ideia de musicar a ‘Ode Marítima’”, recorda. “Era uma intenção minha de há muitos anos. Considero esta obra como um poema maior da nossa literatura, com muitas características dramáticas, diria até musicais”.
O espectáculo vai ganhar vida através do actor Vítor D’Andrade, responsável pela narração da obra, juntando-se à Orquestra Filarmonia das Beiras, o Coro do Festival de Verão e o Coro Ecce, dirigidos pelo maestro Paulo Vassalo Lourenço, bem como Miguel Amaral (guitarra portuguesa), André Baleiro (barítono) e Filipe Quaresma (violoncelo). A apresentação estará a cargo do actor António Capelo. Nuno descreve este concerto como uma “viagem dramático-musical que tem que ver com o mar, com Lisboa, com o mistério da vida, e com a imaginação”. “A imaginação é o que pode levar-nos onde queremos ir e naquele poema isso é muito visível”, explica.
A intenção é sermos levados através da imaginação do poeta “a sítios bons e maus”. "Existe um contraste entre palavras violentas e ternurentas. Há sempre uma dinâmica de extremos, que é própria do poema e que também é própria da poesia de Fernando Pessoa”, afirma ainda o compositor.
Ficámos intrigados sobre a ligação entre o poeta e a música, por isso, questionámos Côrte-Real sobre qual a ponte que liga estes dois elementos. “Tudo isto acontece a um nível intuitivo porque infelizmente nunca nos cruzámos”, explica entre risos, acrescentado que o escritor é um dos seus “mestres”. "Um dos elementos que adoptei foi o dramatismo intenso naquilo que ele escreve e na forma como faz. Em vários versos ele pode estar com uma grande intensidade psicológica e no seguinte há um contraste. De repente vem um silêncio, ou um sentimento de nostalgia que quebra o sentimento anterior. Em todos estes contrastes há uma música. O que tenho feito é tentar transcrever isto para a minha própria música", justifica o compositor.
Numa altura em que se assinalam os 89 anos da morte do poeta, a 30 de Novembro, a obra deste poeta continua a ser relevante para a sociedade? “A sua poesia tem um contexto socioeconómico e político, atravessou a Primeira Guerra Mundial, a Implantação da República, o despertar da ditadura portuguesa”, começa por explicar. “Porém, o que ele escreveu ultrapassa todos estes acontecimentos, é intemporal. O ser humano, na sua condição existencial, irá sempre viver alguma coisa que Fernando Pessoa escreveu".
Praça do Império (Belém). 6 Dez (Sex) 20.00. 7€-25€
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