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“Considerava-a uma mãe adoptiva quando era uma criança queer [a crescer] numa cidade pequena do Sul de Itália”, diz à Time Out o artista e activista Paolo Gorgoni sobre a maneira como a cantora Raffaella Carrà marcou a sua infância. “Quando ela faleceu, fiz um verdadeiro luto. Chorei muito, porque foi como perder um símbolo e uma luz. [Ela] conseguiu quebrar muitos tabus, apoiou sempre a comunidade LGBTQIA+ e posicionou-se a favor da liberdade pessoal em inúmeras ocasiões e até nas letras de algumas músicas.”
Raffaella Carrà, uma das homenageadas esta semana na Festa do Cinema Italiano, morreu em Julho, aos 78 anos. “Um ícone LGBT+”, lia-se praticamente em todos os títulos das notícias da sua morte. Cantora, actriz e apresentadora, teve direito a um funeral transmitido em directo na televisão italiana, com milhares de fãs com fotografias suas, flores e cartazes nas ruas de Roma. Ao lado do seu caixão estava uma bandeira LGBT.
Carrà enfureceu o Vaticano e a Itália conservadora dos anos 70 quando apareceu na televisão com o umbigo à mostra. Foi a primeira mulher a fazê-lo. Em 1978, lançava uma canção, “Luca”, também com uma versão em espanhol, sobre um rapaz gay que desaparece misteriosamente. Tornava-se um ícone tanto do feminismo como da comunidade gay em várias partes do mundo e vendeu mais de 60 milhões de discos.
Em 2011, a sua antiga canção “A Far L’Amore Comincia Tu”, de 1978, ganhou um novo fôlego e chegou a outros públicos com um mix de Bob Sinclair que foi incluído na banda sonora do filme vencedor de Óscar A Grande Beleza, de 2013, de Paolo Sorrentino.
Em Madrid, onde viveu também nos anos 70, já anunciaram que irão baptizar uma praça com o seu nome no bairro gay, a Chueca. Em Portugal, a homenagem surge esta semana, no Festival do Cinema Italiano. No próximo sábado, 6, há uma festa de tributo a Raffaella Carrà na Fábrica do Pão, no Hub Criativo do Beato, em Lisboa. A festa de italo-disco inclui uma performance da drag queen Paula Lovely, alter ego do activista Paolo Gorgoni, para quem Carrà é uma inspiração desde sempre.
“Quisemos homenageá-la a pedido da organização porque foi um ícone de liberdade, de expressão artística e até de empoderamento feminino”, conta Paolo. “Criámos uma banda ad hoc, Lovely and The Gang, e vamos estar em palco com as performers e artistas de burlesco Louise L’Amour e Veronique Divine.”
A festa acontece no sábado das 21.00 às 02.00 e é de entrada gratuita. O festival também irá exibir no mesmo dia o filme Explota, Explota, do espanhol Nacho Álvarez, às 16.30, no El Corte Inglés (repete na quarta, 10, às 21.30).
Fábrica do Pão (Beato). Sáb 21.00-02.00. Entrada gratuita.