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“Finalmente!” Funicular que une Mouraria à Graça começou a andar

Obra do Funicular da Graça começou em 2016. Inauguração, esta terça-feira, é “momento histórico para a cidade”, diz Moedas.

Rute Barbedo
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Rute Barbedo
Jornalista
Funicular da Graça
Francisco Romão PereiraFunicular da Graça
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Para os 78 anos de Amélia, moradora da Mouraria que bebe o seu "galão clarinho" na Pastelaria Lagares, a entrada em funcionamento do Funicular da Graça "quase parece um milagre". "Primeiro disseram que era há uns anos, depois ficou pronto e nunca mais abria. Desde o ano passado que andávamos aqui a contar os dias e sempre a olhar pelo portão. Finalmente!", desabafa. A construção do equipamento, que liga a Rua dos Lagares ao Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen, começou em 2016, mas tornou-se uma espécie de obra de Santa Engrácia, primeiro devido aos achados arqueológicos que obrigaram ao redesenho do projecto e, mais recentemente, a atrasos na entrega de materiais. Os trabalhos terminaram no Verão passado, mas entre testes, licenciamentos, certificações, inspecções e formações, a inauguração aconteceu esta manhã, a 12 de Março. 

A funcionar todos os dias, das 9.00 às 21.00, e com uma capacidade máxima de 14 pessoas, o funicular amarelo circula numa via única. Quanto à frequência, "avança quando está cheio e, não estando cheio, parte ao fim de 10 minutos" (deixando entrar bicicletas, desde que haja espaço), explica à Time Out o presidente da EMEL, Carlos Silva, que opera o transporte integrado no Plano de Acessibilidade Suave e Assistida à Colina do Castelo, lançado em 2009 pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Nas proximidades, as alternativas de mobilidade para a população (à excepção dos autocarros que dão voltas maiores) são as múltiplas escadas do Caracol da Graça ou a íngreme (e muitas vezes escorregadia) Calçada do Monte. Como diz um dos arquitectos do projecto, João Simões, sendo Lisboa uma cidade de sete colinas, "há pontos que podem parecer muito próximos no mapa, mas que obrigam a um grande esforço de caminhada". "É preciso andar a pé e ver onde esses bloqueios existem, para que sejam criadas soluções. É uma espécie de acupuntura na cidade", explica à Time Out.

Funicular da Graça
Francisco Romão PereiraFunicular da Graça

Questionado sobre a demora na entrada em operação do funicular, o presidente da EMEL explicou que, após as interrupções geradas pelos achados arqueológicos (a obra chegou a estar parada cinco anos), a pandemia e a guerra na Ucrânia geraram "paragens nas cadeias de distribuição dos materiais". Concluída a obra em Setembro, a expectativa sobre a inauguração do equipamento arrastou-se durante seis meses. "Nestas coisas há uma infinidade de procedimentos", justificou Carlos Silva, considerando que, neste caso, "até foi bastante rápido". 

Após um período inicial em que o Funicular será "gratuito para todos", como assegurou o presidente da Câmara, Carlos Moedas, o seu uso passará a estar incluído na rede de transportes coberta pelo passe Navegante. Já "os turistas pagam, e é normal que paguem, porque eles têm de ajudar a cidade", frisou o edil. 

Projecto de vários mandatos

O Plano de Acessibilidade Suave e Assistida à Colina do Castelo, que inclui equipamentos como as Escadinhas da Saúde (escadas rolantes que partem do Martim Moniz, mas que denunciam deficiências visíveis, estando constantemente paradas) ou o Elevador da Sé, data de 2009, com o ex-autarca Manuel Salgado destacando-se como um dos seus principais impulsionadores, durante o mandato de António Costa. Na inauguração do Funicular da Graça, Carlos Moedas não se esqueceu disso. Cortou a fita mas também reconheceu o trabalho dos executivos anteriores. "É preciso agradecer a todos os que me antecederam", afirmou o presidente da CML, na primeira inauguração pública após as eleições legislativas de 10 de Março. 

Logo em 2016, o ano de arranque da obra, e já com Fernando Medina como presidente, os trabalhos de prospecção revelaram um troço da muralha pertencente à Cerca Fernandina, obrigando à interrupção imediata do projecto. Algo "absolutamente normal em cidades como Lisboa, Roma ou outras com esta antiguidade", como sublinha à Time Out o arquitecto João Simões, que em dupla com João Favila Menezes desenhou o Funicular da Graça. Dada a complexidade do caso, chegou a pensar-se em abandonar a obra, mas em Julho de 2021 (ainda com Medina), ela recomeçou.

Arquitectos portugueses, cabine suíça

Além dos entraves arqueológicos, "o mais difícil foi perceber por onde o funicular poderia ir e como poderia chegar aqui [à boca do Largo da Graça] desta forma subtil", explica João Simões. Chegou a pensar-se noutros desenhos de percurso e também em recuperar a estética dos "São Franciscos", os característicos funiculares históricos da cidade, "mas vivemos na contemporaneidade", argumenta João Simões. A cabine amarela que agora sobe e desce entre a Mouraria e Graça, construída na Suíça – "são especialistas, é só lembrar as cabines de ski", nota João Simões – leva 14 pessoas e destaca-se dos restantes funiculares pelas linhas minimalistas. Evoca, ainda assim, o passado histórico da cidade, através do tecto de madeira ripada e da cor característica. "Pedimos o pantone à Carris", refere João Favila Menezes, trazendo à conversa um "paralelo claro com o elevador da Bica", bem como o diálogo com "as pré-existências do espaço", como a Igreja da Graça ou o miradouro todos os dias frequentado por turistas.

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