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Entrar no Flores Textile Studio, cujo nome é emprestado pela praça mais pitoresca do Príncipe Real, implica perder algum decoro e tocar em tudo o que a vista alcança. Os tecidos, muito deles produzidos de forma artesanal e dentro do território continental português, têm esse poder — de escusar cerimónias e apelarem ao toque, sobretudo aqui, onde são os grandes protagonistas. Da textura macia do burel da Serra da Estrela à aspereza do ponto de Arraiolos, é possível correr o país só com a palma das mãos.
Emma Pucci e Valentina Pilia são os rostos por trás do espaço. Uma arquitecta e antropóloga franco-suíça, mas que se especializou em design de produção dentro da indústria cinematográfica, e uma designer de interiores italiana, cuja amizade despontou em Paris. Depois disso, correram o mundo — a primeira partiu à descoberta do continente asiático, e chegou mesmo a viver na Índia, enquanto a segunda se mudou para Marrocos, mesmo fazendo parte da equipa do designer Pierre Yovanovitch. Lisboa, contudo, acabou por ser o novo ponto de encontro para as duas amigas.
"Paris está uma loucura", desabafa Emma, antes de nos guiar pelo Flores Textile Studio. Segurança e família são agora as palavras de ordem com a nova vida na capital portuguesa. Em 2019, o projecto a quatro mãos ganhou forma. O showroom abriu portas poucos dias antes do primeiro confinamento. Vários solavancos depois, espaço e projecto ganham ritmo, finalmente.
O Alentejo tem sido a paragem de eleição. Aliás, o Flores Textile Studio nasceu por aquelas bandas, quando a dupla vinda de longe uniu esforços com uma artesã local para a criação dos primeiros têxteis de marca própria. A par com o trabalho junto de quem domina saberes e manualidades tradicionais, a relação com ateliers e designers de interiores é a especialidade de Emma e Valentina. É na bancada, que fica ao fundo do espaço, que as trocas de ideias acontecem. Na estante, o mostruário serve de prova à vitalidade dos velhos teares portugueses — as almofadas, mantas, roupa de cama e de mesa e tapetes são exemplares praticamente únicos, sem stocks. O mobiliário é outra das apostas, com uma linha desenhada e produzida em exclusivo para o Príncipe Real.
Mas o rol de materiais, e de proveniências, não se limita aos territórios a sul do Tejo. Todo o showroom é uma montra do que de melhor é feito em Portugal. Das tapeçarias de Braga aos cestos de junco do projecto Toino Abel, na zona de Leiria, o próximo passo é continuar a subir e redescobrir o Norte do país. "Portugal é um país pequeno, mas tão rico e diverso. Sabemos que é preciso tempo e paciência, até porque é preciso ganhar a confiança destes autores e artesãos. Mas quando acontece, é algo verdadeiramente especial", afirma Emma.
Para criar diversidade na oferta, o espaço também reúne marcas internacionais — Perrine Design Studio, Aïssa Dione e Argile, entre outras —, embora algumas tenham firmado elos com produtores portugueses. É o caso da francesa Marie-Victoire Winckler, cujos últimos trabalhos em vidro foram desenvolvidos na Marinha Grande. Já a marca Amande Haeghen inspirou-se na costa portuguesa para produzir a sua mais recente edição de candeeiros em cerâmica.
Acima de tudo, o Flores Textile Studio quer servir de ponte entre o artesanato nacional e designers e criativos de todo o mundo. Uma interacção que, a partir de Lisboa, Emma e Valentina querem continuar a mediar e a fazer assentar no respeito pelo saber-fazer original, mantido ao longo de gerações, mas também na necessidade de uma visão contemporânea. É também dela que depende o futuro do património português.
Praça das Flores, 53. 93 299 8653. Seg-Sex 10.00-19.00 (Sáb por marcação).
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