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Partimos do princípio de que o Prior Velho não é o destino de compras mais popular da cidade, por isso, o primeiro aviso é: abstraia-se do desvio. Se é verdade que, visto de fora, um grande armazém é só mais um grande armazém, também o é que um bom projecto de arquitectura é capaz de fazer milagres. Quanto à nova casa do Cantinho do Vintage, um colosso com nove mil metros quadrados distribuídos por três andares, o arquitecto parece ter acertado em cheio. Apesar da escala, este armazém está cheio de pinta.
"Hoje em dia, o nosso destaque já é mundial", admite Carlos Silva, o homem que, há oito anos, começou a juntar mobiliário de meados do século XX em pequenas vendas de garagem nos Olivais, com meros 70 metros quadrados de exposição. Diz que os clientes, tal como a mobília, chegam de toda a Europa, sobretudo de Espanha e França, e que não há continente para onde não tenha ainda enviado peças. Com o crescimento do negócio, o espaço de 2.800 metros quadrados, no Beato, tornou-se pequeno.
"Aqui conseguimos ter uma maior diversidade de peças e isso, obviamente, deixa-nos com um maior poder de negociação junto dos fornecedores. Temos bons parceiros. Arrisco-me mesmo a dizer que temos peças vintage garantidas para os próximos 50 anos", continua.
Aqui, foram investidos cerca de cinco milhões de euros e coube a Tiago Silva Dias, o abençoado arquitecto, moldar o grande armazém às expectativas de um comerciante de mobiliário vintage voltado para o mundo. Apenas as paredes ficaram, tudo o resto foi erguido e refeito: janelas, rampas, escadas, soalho, iluminação e mezzanines. A obra durou dois anos. Peças? São às dezenas de milhar e estão dispostas pelo espaço, respiram e criam ambientes acolhedores. Existem agora casas de banho decoradas a rigor, uma zona para crianças (com móveis à venda, mas também passatempos) e uma área reservada a mobiliário de jardim.
The best is yet to come — o letreiro luminoso puxa pelos telemóveis. "É a minha música favorita do Frank Sinatra", responde Carlos. Fora o refrão, há uns quantos motivos de orgulho na mais recente empreitada. "Aquelas tábuas que estão ali foram usadas na construção da Ponte 25 de Abril", afirma, ao apontar para um soalho em madeira de aspecto antigo, mas robusto.
Há cerca de quatro anos, este negócio lisboeta deu um passo de gigante. Além da venda de peças ao público, começou também a fazer projectos de interiores. A Vintage & Friends ganhava forma e com ela uma linha de mobiliário e decoração de fabrico próprio, inspirada nos desenhos dos anos 20, 30, 40 e 50 importados do centro da Europa. Em 2020, a empresa assinou 180 projectos de restaurantes e hotéis, só em Lisboa. Contudo, na loja, as peças novinhas em folha representam só 10% do catálogo, segundo Carlos. A montra continua a ser feita, sobretudo, de achados vintage.
De volta ao melhor que "ainda está por vir", como cantava Sinatra, há planos ambiciosos para o novo Cantinho Vintage. Em 2022, o espaço deverá crescer para um novo piso, ganhando três mil metros quadrados. Carlos também quer potenciar a fruição do espaço aproveitando um dos dois rooftops do edifício. Quem sabe se não pode nascer aqui um novo bar, obrigatoriamente inspirado pelas modas de outros tempos, claro.
Rua 25 de Abril, Armazém 6 (Prior Velho). 92 916 4323. Ter-Sex 10.30-13.00 e 14.30-19.00, Sáb 11.00-19.00.