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Fomos descobrir os tesouros do Museu Nacional do Azulejo

A Direcção-Geral do Património Cultural propôs a classificação de “tesouro nacional” para vários painéis do Museu Nacional do Azulejo. Quisemos ver com os nossos olhos.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Painéis do Museu Nacional do Azulejo
Mariana Valle LimaPainéis do Museu Nacional do Azulejo
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Oficialmente, os “tesouros nacionais” são, na verdade, considerados bens de interesse nacional (BIN), classificação prevista na Lei de Bases do Património. Mas a palavra “tesouro” acaba por carregar uma carga emocional que desperta algo mais forte no imaginário colectivo. E é disso que falamos. De bens móveis que, um pouco por todo o país, nos vão contando a nossa história, através da arte de antigos mestres cujas obras ainda hoje se conservam. São os nossos tesouros e são de todos. E tudo indica que a lista vai crescer.

A 8 de Agosto, a DGPC publicou em Diário da República uma proposta de designação de “tesouro nacional” de várias obras em azulejo que fazem parte do acervo do Museu Nacional do Azulejo. Não são os primeiros, e provavelmente não serão os últimos tesouros encontrados neste museu. A proposta, baseada num parecer da Secção de Museus, da Conservação e Restauro e do Património Imaterial do Conselho Nacional de Cultura, com data de 19 de Maio, foi assinada pela subdiretora-geral do Património Cultural, Rita Jerónimo, que propôs à secretária de Estado da Cultura, Isabel Cordeiro, a classificação como BIN, com a designação de “tesouro nacional”, de mais de 20 painéis do museu. Uma classificação que, segundo a Lei de Bases do Património Cultural, determina “a protecção legal dos bens culturais móveis” que possuem “um valor cultural inestimável”.

No Museu Nacional do Azulejo há bastantes tesouros, entre a exposição permanente e as reservas, como explicou o nosso guia e conservador do museu, Alexandre Pais. A primeira paragem foi junto ao Painel de Azulejos de Atena ou Minerva”, uma das peças que faz parte da proposta da DGPC. Datado do século XVIII, veio da Colecção Comandante Ernesto Vilhena (1876-1967), antigo administrador da extinta Companhia de Diamantes de Angola e grande coleccionador de arte. No jardim do seu palacete na Rua de São Bento, 183-187, criou um verdadeiro museu privado, com valiosos painéis de azulejos, numa colecção que foi posteriormente doada ao Estado português. Esta é uma peça rara de dimensões generosas, circunscrita por uma moldura e considerada uma Figura de Convite, peças muito particulares da azulejaria barroca portuguesa, que enviavam uma mensagem de prestígio dos mais abastados que instalavam estes painéis nas entradas e acessos das suas casas e palácios. Originalmente estaria instalada num espaço interior, só não se sabe qual.

Com morada anterior conhecida, está também em vias de classificação o “Conjunto de seis painéis de azulejos representando Musas e fragmento de um painel denominado Parnaso”. Este conjunto foi encontrado durante uma obra num palacete próximo, onde “perceberam que os painéis tinham sido reaplicados e faltavam azulejos”, lamenta Alexandre Pais. “São nove, mas só temos seis e restos da sétima”, contabiliza. Os painéis representam as Musas das Artes: no Museu Nacional do Azulejo encontramos Melpómene, Polímnia, Euterpe, Tália, Érato e Clio, estando em falta Urânia e Calíope. Já o painel Parnaso, o Monte das Musas, que faz parte deste conjunto, não está em exposição por só existir “uma secção” da obra de arte. Trata-se de um conjunto do século XVII, criado entre 1660 e 1690, uma datação descortinada através das cores, uma vez que no período pós-Restauração havia menos dinheiro e, por isso, menos acesso ao azul cobalto, um pigmento mais caro. “Isto ou era de um jardim ou de uma sala dedicada às artes”, desconfia o conservador.

Outro conjunto proposto pela DGPC para classificação inclui os painéis de azulejos “Baptismo de Cristo e Cura do Cego”. “Apareceram nas nossas reservas, não sabemos a origem deles, tal como os painéis do Apocalipse”, explica Alexandre Pais, referindo-se também a outro conjunto em vias de classificação que se encontra guardado nas reservas. No caso destes dois painéis em exposição permanente, datados do século XVIII, o conservador descreve que “estariam num ciclo”, ou seja, acompanhados por outras peças que contam uma mesma narrativa, neste caso ligada à vida de Jesus Cristo. E foram desenhados para serem observados de baixo para cima, graças a um efeito de perspectiva conhecido como escorço.

Mas há mais tesouros à vista neste museu, já classificados como BIN. É o caso do divertido painel “O Casamento da Galinha”, uma singerie (macacaria) do século XVII, oriunda da Quinta de Santo António da Cadriceira, no Turcifal; ou do famoso “Grande Panorama de Lisboa”, originalmente instalado num palácio em Alfama, da autoria de Gabriel del Barco (1649-1703), um mestre espanhol que retratou a cidade antes do terramoto de 1755. Pode ver esta peça em pormenor no site do projecto Lisboa em Azulejo antes do Terramoto de 1755, resultado de uma investigação do Instituto de História da Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

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