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Foi a 3 de Novembro que estreou em Portugal, na SkyShowtime, o primeiro novo episódio de Frasier. Emitida originalmente entre 1993 e 2004, a multipremiada sitcom acompanhava a mudança para Seattle de Frasier Crane, psiquiatra que conhecemos em Cheers – Aquele Bar (1982-1993), que se passava em Boston. Em Frasier, o original, o protagonista regressa à sua cidade natal, onde começa a apresentar um programa de rádio, exercendo a profissão a cada chamada dos ouvintes. Ao seu lado tem a colega Roz (Peri Gilpin) e em casa tem o pai Martin (John Mahoney), um polícia reformado que precisa de cuidados. Também em Seattle, conhecemos Niles (David Hyde Pierce), irmão de Frasier, psiquiatra e igualmente snobe, que se apaixona por Daphne (Jane Leeves), a cuidadora do pai e uma inglesa sem papas na língua. É impossível resumir mais de uma década desta sitcom que deu a volta ao mundo e que foi emitida nas grelhas da TVI e da SIC Mulher (e que está hoje integralmente disponível na SkyShowtime). Vinte anos depois, Frasier está de volta. A nova ronda de episódios pode ser vista à moda antiga, ou seja, ao ritmo de um episódio de meia hora por semana, até ao final, que acontece esta sexta-feira, 29 de Dezembro. O momento perfeito para nos sentarmos a falar com Kelsey Grammer por videochamada, sobre o antes, o agora e o depois.
Nesta nova vida de Frasier, a terceira, o protagonista regressa a Boston para passar mais tempo com o filho Freddy (Jack Cutmore-Scott), interpretado na série original pelos actores Trevor Einhorn e Luke Tarsitano. Acaba por arranjar um emprego junto do seu velho amigo de faculdade Alan (Nicholas Lyndhurst), como professor em Harvard, universidade para onde também vai estudar o sobrinho David, um génio optimista e filho de Niles e Daphne. Infelizmente, David Hyde Pierce não se mostrou interessado em regressar ao papel de Niles Crane e John Mahoney morreu em 2018. Mas há quem acompanhe Grammer desde sempre: Bebe Neuwirth regressa ao papel da ex-mulher de Frasier, Lilith, que também conhecemos dos tempos de Cheers. Neste novo enredo, somos apresentados a Eve (a luso-descendente Jess Salgueiro), uma jovem viúva com um bebé nos braços, a quem Freddy, que se tornou bombeiro para desgosto do pai, cede o apartamento e vai viver com Frasier.
Mas que magia é esta que faz com que Frasier continue a agarrar os fãs tanto tempo decorrido? “Penso que o que o mantém relevante é o facto de não querer desistir. Ele mantém-se firme, por mais difíceis que sejam as circunstâncias. E a sua caraterística definidora é o facto de estar na luta pela vida com todo o seu coração. Ele ama com todo o seu coração. Apaixona-se instantaneamente. É um homem de princípios, mesmo quando isso significa que não vai conseguir o que quer. E é isso que eu acho que gosto mais nele. Ele defende algo e nunca desiste. É constantemente derrubado e mesmo assim levanta-se. Continua a tentar no dia seguinte e vai tentar tudo de novo. Acho que as pessoas se identificam com isso”, defende Grammer, descrevendo o personagem que só era suposto entrar em alguns episódios da terceira temporada de Cheers nos idos anos 80. Não só passou a ser um regular do famoso bar, como foi convidado para continuar a vestir o personagem no spin-off, a convite do então presidente da Paramount. Grammer conta que foi há seis anos que começou a pensar numa continuação, na esperança que Frasier ainda fosse “divertido”. Para o actor, o humor da série pode ser definido como uma “sátira absolutamente directa que, por vezes, não é a forma mais elevada do humor”. “Mas estamos a assistir, indiscutivelmente, ao desenvolvimento de uma personagem na qual nos reconhecemos. Vemo-nos nele, na sua família e nas pessoas com quem se relaciona. E apesar de parecer um tipo estranho de outro universo, é um homem comum em muitos aspectos”.
Uma das características mais curiosas deste novo elenco é que Freddy parece chegar para ocupar o lugar deixado vago por Martin Crane, como uma pessoa com os pés mais assentes na terra e de gostos menos sofisticados. E David em substituição de Niles, embora num formato mais descontraído, ou não fosse filho de Daphne. Mas as homenagens às duas grandes ausências do elenco vão mais longe, como nos explica Grammer: “Queríamos ter a certeza que honrávamos as outras personagens da série. Trouxemos o personagem chamado David, em homenagem a David Hyde Pierce, e o bar chama-se Mahoney’s. Foi fundado em 1940, quando John Mahoney nasceu, e o bebé da Eve chama-se John. Portanto, há pequenos presentes no cenário e no contexto da série.” E fala sobre a nova ligação ao filho Freddy. “A relação com o Frederick é o espelho da minha relação com o meu pai na série anterior. E isso sempre fez parte do acordo, queríamos ter a certeza que o Frasier explorava a sua relação com o filho. E encontramos o mesmo tipo de homens crescidos, a aprender a amarem-se um ao outro, como quando estavam a crescer. E esse é o objectivo.”
A segunda temporada não está confirmada, mas Grammer tem ideias para a continuação da história. Certo é que, neste universo, o bar Cheers fechou portas e não se voltará àquele bar. Mas será possível um regresso de alguns conhecidos habitantes de Boston desses tempos, o que só acontecerá se for “importante a nível emocional”. “Acho que seria muito bom para o Frasier sentar-se com a Diane [que em Cheers abandona Frasier no altar] e tomar um café. Uma coisa simples em que eles pudessem ser adultos maduros, como nunca foram antes. E ter uma espécie de momento de saudação bem intencionado à companheira, uma espécie de Deus te abençoe. Amei-te com tudo. Destruíste-me, mas abençoada sejas. Adorava ver algo assim. Veremos.”
Frasier (T1). SkyShowtime
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