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‘Gilded Age’ reabre os salões da História. “Há lições para nós no passado”

Do criador de ‘Downton Abbey’, ‘Gilded Age’ é uma incursão pelo mundo dos super-ricos da Nova Iorque do século XIX, durante a chamada Era Dourada. A segunda temporada estreia a 30 de Outubro na HBO Max e a Time Out ouviu Julian Fellowes.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
Gilded Age
©DRGilded Age
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Em 1882, após a morte do pai, a jovem e falida Marian Brook (Louisa Jacobson) muda-se da Pensilvânia para a casa das suas tias ricas, Ada (Cynthia Nixon) e Agnes (Christine Baranski), localizada na 61st Street de Nova Iorque. Agnes é viúva de Arnold Van Rhijn, da alta sociedade nova-iorquina da altura, oriundo de uma família abastada há várias gerações, assim como os Brook, antes de o pai de Marian ter levado a família à falência. Mas a vida corre-lhes bem, fazem parte do restrito círculo das velhas e milionárias famílias da Grande Maçã, até que começa a chegar dinheiro novo à cidade. Em particular, o de Bertha e George Russell (Carrie Coon e Morgan Spector), que se mudam para o outro lado da rua, para uma sumptuosa casa, a partir da qual Bertha insiste em subir a escada social. Mas a bem estabelecida elite não quer andar de braço dado com os novos ricos.

Este é o ponto de partida de Gilded Age, que está de regresso à HBO Max a 30 de Outubro para uma segunda temporada. A série é o mais recente drama histórico de Julian Fellowes, criador da série Downton Abbey (2010-2015) e também argumentista oscarizado por Gosford Park (2001).

Excessos, materialismo, aparências, corrupção. Gilded Age continua a acompanhar o confronto entre velhos e novos costumes das classes mais abastadas, numa altura em que a América, e em particular Nova Iorque, vivia a chamada Era Dourada (Gilded Age). Um período compreendido entre o final da Guerra Civil (ou Guerra da Secessão), que opôs Norte e Sul numa batalha pelo fim da escravatura, e o início do século XX. O termo foi popularizado em 1882, com a publicação do romance Gilded Age: A Tale of Today, escrito por Mark Twain (criador de Tom Sawyer e Huckleberry Finn) e o seu amigo, também romancista, Charles Dudley Warner. Era uma sátira à sociedade de então, brilhante por fora, corrupta por dentro. Se por um lado a industrialização do país prometia prosperidade e desenvolvimento, por outro o dinheiro ia ficando nos bolsos de uma poderosa elite que enriquecia a grande velocidade, em particular os grandes barões dos caminhos de ferro. Ao mesmo tempo, as desigualdades sociais eram claras e o descontentamento dos mais desfavorecidos resultava em greves e protestos da classe operária. “Penso que há lições para nós no passado. Aqueles que não conhecem o passado estão condenados a repeti-lo e penso que muitas vezes é difícil perceber porque é que os políticos tomam certas decisões. Se tivessem estudado o passado dessa situação específica durante dez minutos, não teriam feito o que fizeram”, defendeu Julian Fellowes, durante uma conferência de imprensa por videoconferência, em que a Time Out esteve presente.

Taissa Farmiga, Carrie Coon e Morgan Spector
©DRGladys, Bertha e George Russell (Taissa Farmiga, Carrie Coon e Morgan Spector)

De resto, há muitas ligações ao mundo real neste enredo. Por exemplo, a família Russell é inspirada nos Vanderbilt, magnatas da ferrovia que enriqueceram mais do que quaisquer outros durante a Era Dourada (na primeira temporada, alguém diz que os Russell “têm mais dinheiro do que Deus”). E a personagem secundária Sylvia Chamberlain (Jeanne Tripplehorn) tem muitos traços em comum com Arabella Huntington, filantropa com um passado obscuro que foi considerada uma pária social após a morte do marido, o magnata Collis Potter Huntington, na sequência de rumores de que tinham iniciado a relação durante o primeiro casamento deste. E depois há personagens mesmo reais, como é o caso da socialite Caroline Astor (Donna Murphy), principal guardiã do grupo dos 400, uma lista publicada pelo The New York Times que integrava as 400 pessoas consideradas membros da alta sociedade nova-iorquina. Uma lista que excluía os novos ricos e que foi oferecida ao jornal por Ward McAllister, amigo da poderosa Sra. Astor, e mais uma figura que chegou à lista de personagens de Gilded Age (interpretada por Nathan Lane). Outra é Mamie Fish (Ashlie Atkinson), excêntrica anfitriã das mais inusitadas festas da alta sociedade da altura.

O que também salta à vista são os cenários, muitos filmados em mansões que sobreviveram ao passar do tempo, além de rodagens em localizações como Nova Iorque, Rhode Island ou Troy. No entanto, as imagens da 61st Street são resultado de um cenário erguido ao ar livre, com alguns toques de CGI (Computer-Generated Imagery). Também a fazer jus à época, Gilded Age prima pelo guarda-roupa, vencedor de um Emmy na última edição dos prémios atribuídos pela Academia de Artes & Ciências Televisivas.

Julian Fellowes revelou ainda que os fãs podem esperar algumas alterações na dinâmica entre personagens nesta segunda temporada. E dá um exemplo que pode ser um bocadinho spoiler, mas aqui vai. “Alterámos a relação entre Agnes e Ada, as irmãs, simplesmente mudando quem tem o dinheiro. E isso, claro, altera a dinâmica entre elas e significa que têm uma reacção ligeiramente diferente a mais ou menos tudo do que teriam tido na primeira temporada, porque a estrutura de poder foi alterada”, afirmou o criador, confessando que gosta de explorar a mudança de comportamentos de personagens de acordo com a alteração de circunstâncias do quotidiano, tal como acontece na vida real. Sobre a possibilidade de Gilded Age seguir para uma terceira temporada, Fellowes não fecha a porta, mas tudo depende dos números. “Tenho a certeza de que não se tornará uma realidade se a segunda temporada não correr bem. Mas acredito na segunda temporada, acho que correu muito bem e penso que as pessoas vão gostar.”

Gilded Age é uma série bonita de se ver, ouro sobre azul para fãs de dramas de época, mas também uma boa oportunidade para quem quiser perceber melhor uma era que acabou por moldar o futuro dos Estados Unidos da América.

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