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A histórica necrópole do centro da vila, alvo de curiosidade há largas décadas, esteve fechada ao público durante vários anos. Agora, após obras de requalificação, está finalmente aberta a visitas regulares até 30 de Setembro, todos os fins-de-semana e feriados, entre as 14.00 e as 18.00. A entrada é livre.
O monumento fica na margem direita da Ribeira das Vinhas, a cerca de 500 metros da sua foz, na Praia da Ribeira. Mas não vai dar ao Guincho nem à Boca do Inferno como crêem os cascalenses mais velhos, assegura o arqueólogo Severino Rodrigues, responsável pela Divisão de Arqueologia e Património Histórico da Câmara Municipal de Cascais.
A entrada inclui agora duas pequenas salas, uma das quais para a recepção ao visitante, que aí recebe um capacete, de uso obrigatório durante a circulação nas grutas. Nas paredes da primeira antecâmara, foram aplicados painéis com uma breve descrição da formação geológica, do decurso das investigações arqueológicas e do espólio associado, que se complementa com a exibição de um pequeno filme, apresentado num ecrã de grandes dimensões.
No interior, encontra-se um circuito com passadiço construído em plástico, assinalado por uma suave iluminação lateral e limitado por barreiras físicas que não permitem o avanço para áreas não visitáveis. Foi montado ainda um circuito de iluminação LED, que potencia a observação de toda a envolvente. “Em situações pontuais procurou-se reproduzir a iluminação bruxuleante de archotes, que procuram simular um cenário mais sensorial, que nos remete para tempos pré-históricos”, lê-se também em comunicado do município.
Na antecâmara de saída, para além da pintura e limpeza do revestimento das paredes, foram reparados e aumentados os degraus de acesso ao exterior, o que obrigou à execução de uma nova cobertura metálica sobre toda a antecâmara. Já no exterior, no canteiro que se encontra entre as duas antecâmaras, foi também instalada iluminação para potenciar, durante a noite, a imagem do maciço rochoso de calcário, no qual a gruta se encontra inclusa.
A arqueologia cascalense
Considerado o “fundador” da arqueologia cascalense, o geólogo Carlos Ribeiro foi o primeiro a explorar as Grutas do Poço Velho, em 1879. Nessa altura, detectou vestígios arqueológicos que vão desde o Paleolítico até à Antiguidade Tardia. Mas a sua principal ocupação, durante a época neolítica e calcolítica, corresponde à utilização da gruta como necrópole, tendo sido identificada mais de uma centena de enterramentos.
Entre 1945 e 1947, Abreu Nunes promoveu novas intervenções neste sítio arqueológico, então sob a gestão da Junta de Turismo de Cascais. Os trabalhos de escavação permitiram recolher um diversificado conjunto de espólio funerário, que inclui artefactos de pedra polida e lascada, artefactos votivos de calcário, placas de xisto decoradas, elementos de adorno e cerâmica. Algum do espólio recolhido encontra-se em exposição no Museu da Vila de Cascais.
O projecto de recuperação deste monumento e a criação de um circuito de visitação foi criado com o intuito não só de reforçar a atractividade da região mas sobretudo de potenciar, em termos pedagógicos, “uma ferramenta de interesse extraordinário para que as novas gerações possam conhecer e partilhar a memória comunitária municipal”.
Grutas do Poço Velho, Largo das Grutas (Cascais). Até 30 de Setembro, Sáb-Dom e feriados 14.00-18.00. Entrada livre.
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