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Gustavo Ribeiro: “Lisboa está cada vez melhor. Temos mais skateparks e mais miúdos a andar de skate”

Aos 21 anos, é oficialmente o número um do mundo. Foi aos Olímpicos de 2020 (os primeiros a incluir o skate) e já prepara os próximos. Falámos com Gustavo Ribeiro.

Mauro Gonçalves
Escrito por
Mauro Gonçalves
Editor Executivo, Time Out Lisboa
Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle LimaGustavo Ribeiro
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Gustavo Ribeiro tem uma quota parte de responsabilidade no ressurgimento do skate em Portugal. Há um ano, brilhava em Tóquio – era a primeira vez do skate como modalidade olímpica e o concretizar de um sonho que começou lá atrás. Ficou em oitavo, mas a recuperação não tardaria – por ocasião da conversa com o melhor skater português de todos os tempos, no skatepark de Campolide, Gustavo ocupava a terceira posição no ranking mundial. Hoje, está no lugar mais cimeiro do pódio, depois de ter vencido uma das mais importantes competições da modalidade, a Street League Skateboarding, em Las Vegas. Agora, os olhos estão postos nos Jogos Olímpicos de 2024.

Porque é que escolheste este skatepark?
Infelizmente, em Portugal, não temos muitos [skateparks] indoor. Este tem uma ponte a proteger da chuva e, se estiver muito calor, também protege do sol. Fica mais ou menos no centro de tudo e é um dos que mais gosto. Já passei aqui dias e dias seguidos a treinar para campeonatos. Sempre que volto, é especial.

Essa preparação é um trabalho solitário ou pode ser feito em grupo?
O skate assenta muito no colectivo. Andas sempre com amigos e isso dá-te mais energia para andar, mais vontade. Mas acho que se estiver com algum foco na cabeça, algum campeonato, alguma manobra que tenha de filmar, acabo por ir sozinho. Se for uma situação normal, ando com o meu irmão gémeo, pelo menos, e isso acaba por dar outra motivação.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

E teres entrado na alta competição alterou a tua relação com o skate, ou continuas a ter momentos de diversão?
É um bocadinho das duas coisas. Há dias em que tenho de andar de skate por ser o meu trabalho. Às vezes dói-me o pé ou dói-me a perna e não me apetece andar. Como em todos os trabalhos, temos de fazê-lo, mesmo quando não queremos. Óbvio que, muitas vezes, o skate é massacrante, magoas-te, mas se é o que fazes por amor, tudo faz mais sentido.

Sabemos que a tua história com o skate começou com um presente de Natal. Antes disso, a tua família nunca tinha pensado nessa possibilidade?
Não me lembro muito bem. Acho que nem devia saber o que era um skate na altura. Acho que o meu tio andava a fazer longboard, nem era muito ligado ao skate mesmo. Se calhar, viu aquilo na Decathlon e pensou: 'Vou comprar dois skates e vou oferecer aos meus sobrinhos'. A partir daí, a coisa colou. Eu e o meu irmão entrámos para escolas de skate, começámos a fazer uns campeonatos e, com os anos, a coisa começou a evoluir.

E contaram logo com o apoio da família para investir na modalidade?
A minha família sempre nos apoiou a 100%. O meu pai, no início, até deixou de trabalhar. A minha mãe, que é professora, até faltava à escola para ir connosco a campeonatos. O skate não é o desporto mais caro, mas também não é dos mais baratos. Havia um risco e acho que os meus pais também deviam ter medo, mas se gostas dos teus filhos vais ter de apoiá-los.

Em que momento é que o skate deixa de ser só um passatempo e começas (e à tua volta começam) a perceber que pode haver um caminho profissional pela frente?
Quando tinha sete anos fiz o meu primeiro campeonato e diria que foi aí que comecei a ter mais interesse por competir e a sentir essa energia. Mas quando tinha nove ou dez anos comecei a dar o pulo, a crescer um bocadinho mais, a ganhar mais força nas pernas e a ver que afinal era possível. Que se realmente quisesse e me esforçasse, nada era impossível. E foi nessa altura que comecei a apostar em ser um bom skater.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

Como é que avalias Lisboa no que toca às condições e possibilidades para quem quer aprender a andar de skate?
Acho que Lisboa está cada vez melhor, também a acompanhar a evolução dos últimos cinco anos em termos do skate nacional. Temos cada vez mais skateparks. Além dos skateparks, temos cada vez mais street spots nas ruas. E cada vez há mais miúdos a andar de skate.

Falaste em cinco anos. O que é que aconteceu nesse período?
Foram várias coisas juntas, começando pela entrada do skate nos Jogos Olímpicos. A partir desse momento, as pessoas começaram a olhar para o skate, não como algo marginal, mas como um desporto. Há mais skateparks e mais população a juntar-se e a querer criar. Sinto que, há cinco anos, era muito uns contra os outros, enquanto hoje estamos a tornar-nos mais uma união. Há cinco anos, não havia um português que dissesse que um de nós ia chegar lá. Isto abre os horizontes dos miúdos de hoje em dia – se eu consegui, eles também conseguem.

Sentes que as pessoas deixaram de olhar para o skate como uma subcultura marginal?
Ainda continuam a olhar. Mas, a cada ano que passa, é mais visto como um desporto. Já não é tanto aquela ideia do skater que vai destruir a rua, que é um bêbado e um drogado. O skater é igual a um futebolista, a um basquetebolista, é um desportista.

Há um lifestyle associado ao skate – a forma de vestir, a música que se ouve. Para ti, também foi este pacote completo desde o início?
Tu não podes só andar de skate – vais gostar de ter um estilo próprio, de ouvir uma certa música, são vários complementos. Faz muito parte da cultura urbana, até porque nós não andamos só nos skateparks, andamos na rua. O meu ouvido gosta de tudo um pouco, mas diria que sou uma pessoa um bocado mais calma. Gosto de ouvir jazz, gosto de ouvir reggae e hip hop. O meu artista favorito, neste momento, diria que é o Djodje.

Gustavo Ribeiro
© Mariana Valle Lima

Tens algum plano b para quando o skate deixar de ser uma opção?
Agarrar todas as oportunidades que tiver no plano a e, a partir delas, criar um plano b. Ser esperto e assegurar o futuro, caso o plano a não dê. Gostava muito de abrir uma escola de skate, ou um skatepark privado, o primeiro outdoor de Portugal. Tenho uma paixão grande por cozinha, quem sabe um dia não abro um restaurante.

Gostas de cozinha, assim genericamente, ou tens alguma especialidade?
Não vou dizer que cozinho todos os dias, mas quase. Adoro cozinhar. Dentro da cozinha portuguesa, é o que quiseres. Não sou grande fã de cozinhar peixe, só porque não gosto muito de o comer. Um cozido à portuguesa? Tranquilamente.

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