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“Muito mais é o que nos une/ que aquilo que nos separa.” Os versos de Rui Veloso bem podiam ter baptizado a Temporada Portugal-França 2022, que até Outubro vai juntar mais de 200 projectos e cerca de 480 eventos em várias cidades portuguesas e francesas. O projecto de intercâmbio foi decidido em 2018 pelo primeiro-ministro António Costa e pelo presidente francês Emmanuel Macron, aquando de uma visita do segundo a Lisboa. O objectivo era aproveitar a sequência de presidências do Conselho da União Europeia (primeiro Portugal, depois França) criando uma ponte com um programa de eventos culturais que unisse os dois países.
Com a pandemia, a Temporada foi atrasada, e acontece agora, mas com uma diferença: em vez de seis meses, passa a durar nove. O objectivo é “marcar o ano de 2022”, explica Emmanuel Demarcy-Mota, presidente da Temporada e director do Théâtre de La Ville.
Em entrevista à Time Out, o luso-descendente destaca o olhar atento da Temporada sobre as “questões da saúde, da igualdade de género, dos oceanos, de grandes temáticas que podem ser partilhadas, além da relação entre França e Portugal”. Isto porque, embora o evento cruze centenas de artistas, não vai falar apenas de arte. “A cultura pode ser também a cultura científica, a cultura da educação, a cultura política, histórica. A cultura é uma palavra que, em muitos casos, usamos só para falar das artes. E não [deve ser assim]. A arte é uma coisa, e a dimensão artística é fundamental, mas aqui dentro desta Temporada estamos a trabalhar num projecto de cultura ao nível global”, garante. Para Demarcy-Mota, mais do que criar uma sequência de eventos culturais, a ambição é fomentar uma “cultura da igualdade”, que passa pela “democratização da cultura para todos”.
Entre os destaques da programação na capital está a exposição “Panteão e Panthéon”, que acontece em simultâneo na capital francesa. Trata-se de uma mostra cruzada nos dois Panteões sobre as semelhanças e diferenças destes edifícios e pontos de referência das cidades (15 Fev-14 Julho). Já no Museu Nacional de História Natural é possível ver, até 18 de Fevereiro, a exposição “Artistas, Património e o Museu”, com obras dos artistas José de Guimarães, Julien Creuzet, Susan Gaudêncio ou Kiluanji Kia Henda. Em Belém, no Museu Coleção Berardo, o tempo é de “Gérard Fromanger. O Esplendor.” A exposição sobre o artista visual francês que faleceu no ano passado pode ser vista de 16 de Fevereiro até 29 de Maio.
Mas há mais eventos, de norte a sul do país, onde está a ser aplicado o orçamento, suportado pelo Estado e por parceiros institucionais. “Calculamos que chegue ao final acima dos dois milhões [de euros], e não do milhão que os dois ministérios que tutelam a Temporada estão a alocar ao projecto”, esclarece Manuela Júdice, comissária pela parte portuguesa. Ao apoio do Ministério da Cultura e Ministério dos Negócios Estrangeiros acresce ainda “investimento do Turismo de Portugal, da Fundação Calouste Gulbenkian, e de outros agentes culturais que estão a participar”, refere.
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