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Em Agosto, foi pedida uma autorização à então Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) para intervir no património classificado da Grande Cervejaria Solmar, estabelecimento emblemático de Lisboa, nas Ruas das Portas de Santo Antão, destacado pela arquitectura dos anos de 1950 de Luís Bevilacqua, Francisco Botelho e Luís Curado, pelo painel de azulejos de José Pinto e pelo mobiliário Olaio. Um mês depois, o organismo autorizava a intervenção, com condicionamentos, e exigia um relatório final de obra assim que estivesse concluída. Esta semana, uma parte do painel cerâmico que representa o mar foi retirada, operação que o Fórum Cidadania Lx estranhou, por não existir qualquer aviso de obra no exterior do estabelecimento. Mas, ao que tudo indica, os procedimentos estarão de acordo com a lei e as recomendações da antiga DPCG.
Entre sacos de entulho, um colchão velho e mobiliário empilhado, visíveis através das grades metálicas que protegem o estabelecimento, o espaço continua a degradar-se, pelo que "urge uma intervenção que trave a origem das infiltrações e que colmate as anomalias patentes que afectam os valores patrimoniais em presença", pode ler-se num despacho da Património Cultural, a que a Time Out teve acesso.
Há, portanto, um projecto de intervenção na Cervejaria Solmar, que fica no rés-do-chão do Palácio Povolide, anos depois de ali terem ocorrido intervenções fora da lei. No mesmo edifício, também funcionava o Ateneu Comercial de Lisboa, que hoje pertence a diferentes proprietários, um dos quais a Vogue Homes, e que actualmente se encontra em obras. Chegou a falar-se que ali nasceria uma residência sénior de luxo, mas a Vogue assegura à Time Out que, embora a curiosidade sobre o palácio em decadência seja "grande", "ainda não foi desenvolvido nenhum projecto" para o local.
Da mesma forma, para a vizinha Solmar (que não é dos mesmos proprietários, mas dos originais, os irmãos António e Manuel Paramés), desconhece-se o que lhe está reservado e se as intervenções em curso servirão unicamente para proteger o património da degradação ou se haverá um novo projecto pensado para o estabelecimento. Depois de terem ocorrido obras ilegais no interior da antiga marisqueira em 2017 e de, em 2019, 2020 e 2021, consecutivamente, a DGPC ter emitido despachos de não aprovação dos projectos para ali propostos, um conflito judicial ditou a incerteza sobre o que viria a acontecer. Em Junho, ter-se-á chegado finalmente a acordo e o que se sabe, agora, é que está em curso a conservação do património cerâmico, depois de terem sido retirados, um a um, mais de 50% dos azulejos do painel, sobretudo da lateral direita e das fileiras mais baixas.
As obras em curso circunscrevem-se ao interior do antigo restaurante e símbolo da Baixa lisboeta, até porque o exterior depende dos proprietários do restante Palácio Povolide. Problemas relacionados com humidade e a existência de sais que danificam a estrutura (há no espaço um grande depósito de água do mar que era bombeada num sistema engenhoso para gerar a sua oxigenação) também carecem de resolução, segundo o documento da Património Cultural.
Criada em 1956, a Cervejaria Solmar deve ser protegida "enquanto testemunho do nosso modernismo tardio, relevando o seu significado e relevância para a história da nossa arquitectura do século XX e, sobretudo, para a história moderna dos nossos interiores e do design", considera a entidade que identifica e zela pelo património nacional. Independentemente do futuro da Solmar, "é de particular importância a salvaguarda das características que definem a espacialidade e originalidade do seu interior, enquanto exemplar único de arquitectura total".
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