Notícias

Há novos telefilmes adaptados de livros portugueses. São “projectos de uma importância incrível”

A partir de 2 de Setembro, a RTP1 irá emitir um conjunto de telefilmes inspirados em obras da literatura nacional, entre clássicos e contemporâneos.

Renata Lima Lobo
Escrito por
Renata Lima Lobo
Jornalista
O Conto do Nadador
©Marginal FilmesMariana do Ó, Ana Lopes e Kelly Bailey, em 'O Conto do Nadador' (2024)
Publicidade

A produtora Marginal Filmes volta a apostar no formato telefilme para levar a literatura aos ecrãs. A partir de segunda-feira, 2 de Setembro, e uma vez por semana, a RTP1 será a casa de seis documentários inspirados em histórias da literatura nacional, publicadas entre 1865 e 2019. E cada produção conta com um realizador diferente.

Na terça-feira passada, no Templo da Poesia, em Oeiras, falava-se de livros. E também de cinema. Foi aí que decorreu a apresentação do novo conjunto de telefilmes emitidos pela RTP1, em parceria com a Marginal Filmes, liderada pelos produtores José Carlos de Oliveira e Ricardo Pugschitz de Oliveira. O projecto que se estreou no canal público em 2020, inicialmente chamava-se Trezes (13 contos, 13 realizadores, 13 autores), mas entretanto foi alargado e hoje dá pelo nome Antologia 27, integrando um total de 27 produções. Histórias que mostram um retrato de várias épocas da sociedade portuguesa, em diferentes contextos políticos, sociais e económicos.

Os filmes desta nova ronda são: O Chefe do Meu Pai Era Um Democrata e Ninguém Sabia, história de Luís Sttau Monteiro, publicada em 1974 no suplemento A Mosca, do Diário de Lisboa, num telefilme realizado por Mónica Santos; Bully, a partir do conto "Miguel Sinal", do livro Daiquiris de Morango e Outras Histórias (2010), num telefilme realizado por Ricardo Pugschitz de Oliveira; A Palavra Mágica, inspirado no conto publicado na antologia Contos (1976), de Vergílio Ferreira, com realização de Pocas Pascoal; O Conto do Nadador, adaptação da obra de Lígia Jorge, publicada em 1992, numa produção realizada por Filipe Henriques; O Anel, conto de Patrícia Maia Noronha que integra o livro O Elo Invisível (2019) e um telefilme realizado por Cláudia Clemente; e, por fim, O Esqueleto, romance de Camilo Castelo Branco com data de 1865 e a única obra desta colecção que não é uma história curta. A realização do telefilme ficou a cargo de João Roque.

O Esqueleto
©Marginal FilmesO Esqueleto

“Cabe-me a mim ver se aquilo é um edifício no final”

“Este projecto nasceu há uns anos. O José Carlos e o Ricardo apareceram-me na RTP quando em 2018 voltei à direcção de programas com uma ideia que fazia sentido”, recordou José Fragoso durante a apresentação. A ideia era a adaptação de histórias contadas por autores portugueses, clássicos e contemporâneos, e que ao longo dos anos se foi expandindo. A equipa da Marginal está ainda a trabalhar em mais um conjunto de telefilmes, alguns ainda em rodagem, outros em pré-produção, e para o início de 2025 José Fragoso promete “mais filmes” na RTP1. Para Ricardo Pugschitz de Oliveira, estes são “projectos de uma importância incrível, fundamentais para a nossa sociedade como objectos culturais, mas também formadores, orientadores de um determinado caminho que todos nós devíamos correr”. Além da plataforma RTP Play, o caminho destas produções também se faz no portal RTP Ensina, onde pode ser consultado por toda a comunidade escolar (e por qualquer pessoa com acesso à internet).

Estivemos ainda à conversa com José Carlos de Oliveira, produtor, mas também experiente realizador, que no âmbito deste projecto dirigiu o filme O Sítio da Mulher Morta, adaptação do conto homónimo de Manuel Teixeira Gomes, publicado em 1935 e cuja adaptação foi emitida pela RTP1 em 2021. Uma produção que tem feito um percurso interessante no circuito internacional dos festivais de cinema. Sobre o processo de selecção das obras, responsabilidade que José Carlos de Oliveira chamou a si, além de terem o objectivo de “ensinar as pessoas”, o produtor explicou-nos que “qualquer um dos contos tem de representar ou permitir uma adaptação que não contraia e não amplie os custos”. O produtor dá um exemplo: “Se me disserem que o personagem apanhou o avião, foi a Nova Iorque e depois caiu no mar, acabou. Este conto não entra, não pode. E, portanto, tive de escolher contos que realmente se encaixassem neste quadro. Não podem disparar os custos, as histórias têm de ser passadas em Portugal estritamente e, a partir daí, têm de ter uma narrativa legível”.

A Palavra Mágica
©Marginal FilmesA Palavra Mágica

Nesta Antologia 27, José Carlos de Oliveira assume também a pasta do “doctoring”: “É um termo informal. Eu trabalho do princípio ao fim, eu escolho o conto e depois estabeleço a minha leitura do ponto do argumentista que junta ao seu talento. E cria coisas que não me tinham passado pela cabeça. E depois cabe-me a mim ver se aquilo é um edifício no final ou se tem umas portas que não encaixam com a escada”. Na breve apresentação de algumas cenas de cada um dos telefilmes, rapidamente se percebeu que estamos perante linguagens visuais bastante distintas. “Esse era um grande objectivo que eu tinha, era que tivessem vários estilos, vários talentos e formas de expressar, presentes num enorme conjunto destes”, explica José Carlos de Oliveira. E confessa que houve pelo menos dois consagrados cineastas que foram convidados, mas que, infelizmente, morreram antes de arrancarem os trabalhos: António da Cunha Telles e António-Pedro Vasconcelos.

Os telefilmes começam a ser emitidos a 2 de Setembro, com O Chefe do Meu Pai Era Um Democrata e Ninguém Sabia, e depois estreia um a cada semana, no mesmo horário.

RTP1. Seg 21.00. Estreia a 2 de Setembro

Está nas bancas a edição de Verão da Time Out

+ O Cinema Ideal faz 10 anos. E, sem festa, apresenta uma série de sessões especiais

Últimas notícias

    Publicidade