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Há razões para viver no meio do desespero? Ivo Canelas tem toda uma lista

Escrito por
Miguel Branco
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Todas As Coisas Maravilhosas, de Duncan Macmillan, é um monólogo que Ivo Canelas leva ao Estúdio Time Out a partir desta segunda-feira. Isto é para aprender a crescer sem antidepressivos. 

Listas. Todos precisamos de listas. Aquelas que discriminam as cenouras e o vinho branco na ida ao supermercado, as outras que nos impedem de esquecer da roupa interior e do carregador de telemóvel antes de uma viagem, ou ainda aquela, quase sempre mais mental do que efectiva, das coisas que temos de fazer antes de morrer. Em Todas As Coisas Maravilhosas, texto do dramaturgo inglês Duncan Macmillan que Ivo Canelas leva ao Estúdio Time Out a partir desta segunda-feira, há uma lista que se relaciona com a morte, mas celebra a vida.

À nossa frente um personagem adulto conta-nos que aos sete anos, quando a sua mãe tentou suicidar-se pela primeira vez, começou a fazer uma lista de todas as coisas maravilhosas que há na vida. Ideia que lhe apareceu em conversa com um casal de velhinhos simpáticos ao lado de uma máquina de chocolates no corredor do hospital. Velhinhos simpáticos é um dos tópicos dessa lista, ao qual se juntam gelados, guerras de água, poder ficar a ver televisão à noite depois da hora estipulada, coisas com riscas, pessoas aos trambolhões, entre tantos outros.

Tudo isto com interpretação de Ivo Canelas, que assume este monólogo em diálogo estreito com o público, num cenário simples, onde cadeiras pretas se arrumam em arena: “O Macmillan procura um formato que não ponha ninguém a dar lições a ninguém, estamos todos à vista, vemo-nos todos, há um lado que não controlo que é o público, mas isso fragiliza-nos a todos e obriga-nos a encontrar uma verdade qualquer que é comum a nós todos”, explica Ivo Canelas.

Ao longo de mais de uma hora de espectáculo (ou conversa, como prefere chamar-lhe Canelas) vai-se percorrendo a história deste miúdo que vai crescendo com esta dificuldade de lidar com o suicídio, mistura-se ficção e realidade e isso está preto no branco, ou seja, quem nos conta a história assume por vezes que esta era a forma como ele gosta de lembrar aquele determinado episódio, passando depois a contar-nos o que se passou verdadeiramente.

A lista vai sendo recordada, são intervalos ou tropeções nos diversos capítulos deste enredo. E estando nós num terreno denso, pesado, que pede respeito e contenção mais do que de sorriso, não podemos, segundo Ivo Canelas, deixar de tentar: “O que é louco aqui é, tendo em conta a história desta pessoa, tendo em conta as circunstâncias, é isso não significar que a nossa vida seja miserável. Há momentos incríveis, isso também tem que acontecer aqui, não se exclui a felicidade, torna-se a felicidade mais desafiante”.

De Duncan Macmillan. Criação e interpretação Ivo Canelas

Estúdio Time Out. Seg-Ter 21.00. 16€.

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