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Todos os dias, pontualmente, faça chuva ou faça sol, à uma da tarde, ou mais precisamente às 13:00:00, já que é de precisão cronológica que falamos, ouve-se uma sirene na Ribeira das Naus. Não fora o Tejo estar ali mesmo ao lado e não se avistar navio algum, acharíamos que tínhamos ouvido uma sirene de navio. Mas não, a resposta não está no rio, está em terra.
Mesmo junto à Doca Seca, foi instalado em 2018 um memorial ao Balão da Hora ou Balão do Arsenal, um engenho do Observatório Astronómico da Marinha que, entre 9 de Novembro de 1858 e 31 de Dezembro de 1915, diariamente emitia um sinal horário a marcar a hora legal, o que permitia não só que os lisboetas acertassem os seus relógios, mas, sobretudo, que os navios da marinha de guerra e mercante ancorados no Tejo aferissem com precisão os seus cronómetros antes de partirem.
E poderá saber-se o porquê desta obsessão com a pontualidade?, perguntará o leitor menos versado em lides náuticas e já esquecido de que nem sempre existiram satélites e GPS. Pois, só com um relógio acertado pela hora legal é possível determinar com precisão a longitude e assim traçar e manter um rumo em alto mar, onde não existem referências de terra.
Era esta a função do Balão da Hora, num ritual que se cumpria todos os dias. Tal como os seus dois antecessores, este novo aparelho é constituído por uma torre onde se encontra um globo que começa a subir até meia haste 15 minutos antes das 13 horas, acompanhado de um curto toque de sirene. Cinco minutos antes da hora, novo toque a avisar que o momento se aproxima, enquanto o balão ascende ao topo. Às 13 horas em ponto, acompanhado de um derradeiro toque, o balão deveria despenhar-se até ao ponto de partida. Deveria... mas manteve-se lá no topo. Inquirimos um marinheiro que passava. "Devia, devia... mas está inop", esclareceu ele.
Fazemos votos de uma rápida recuperação do Balão da Hora. Gostaríamos de voltar a ver todo o ritual, mas com o seu desfecho catártico.