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Foi uma vizinha que ia ver dos gatinhos ao pátio que nos levou à fala com Bruce. "Eles trabalham ali e a janela está aberta. É tocar à campainha." "Eles" são Bruce Paulino da Silva e Joana Pinto Oliveira, a dupla do atelier a_c_a_s_t_e_l_o que pensou este projecto artístico a que chamaram Espaço Manobra. A ideia é ter aqui exposições temporárias de artistas seus convidados e também organizar outras intervenções neste espaço exterior.
O projecto artístico está ligado à singularidade do local, um túnel e um pátio que, embora sejam privados, têm as características do espaço público. “Isto aqui é um espaço público, quer dizer, é privado mas é público: as pessoas passam na estrada, aqui o chão é calçada, é pedra, vem o lixo da rua, vem tudo, e é nessa linguagem que nós estamos a explorar os projectos”, diz Bruce. “Nós trabalhamos estas fotografias todas como paste-up, como cartaz de rua, colado na parede, a própria textura da parede entra na linguagem da fotografia e encaixa muito bem.”
André Sirgado e Pedro Jafuno são os dois artistas convidados, ambos ligados à fotografia. Aliás, ambos têm também avôs fotógrafos e ambos são madeirenses. É essa a razão porque, lado a lado com os seus trabalhos, encontramos fotografias da Madeira rural dos anos 50. São de António Coelho, fotógrafo, avô de Pedro Jafuno. Nas paredes há lugar para analógico e digital, fotos de grande e médio formato, de diversas geografias (a belíssima pedra gigante é belga, por exemplo) e de diferentes épocas. Lama Prata foi o nome escolhido, invocando o poder da terra e os sais de prata da fotografia, para esta exposição que também se destaca pela qualidade da impressão.
"Nesta experiência tentamos fazer com que os artistas explorem o seu próprio trabalho, tentem puxá-lo a um nível fora do habitual, do que seria para uma galeria ou para um trabalho que vai ser vendido ou que vai ser entregue a um coleccionador", explica Bruce.
André Sirgado trabalha os grandes formatos em fotografia de paisagem e desde 2014 cruza design e programação. Parte dos grandes formatos que aqui vemos resultam de um trabalho experimental em que testa os limites do algoritmo da panorâmica do telemóvel, o que o algoritmo consegue processar. As fotos são captadas em movimento, com um resultado final de mash-up de dez ou vinte metros reais de fotografia, de onde selecciona as partes que lhe interessam.
Pedro Jafuno é fotógrafo profissional e venceu o Novos Talentos Fnac de 2017 com o projecto Tylco, uma viagem a várias cidades da Europa de Leste que extravasa o convencional relato de viagem. "Habitualmente, o Pedro interessa-se pela natureza humana, retrata a street life nas cidades, mas para este projecto quis trabalhar as naturezas mortas, daí aqueles grandes formatos de pedras e plantas", conta Bruce.
"Achamos que este espaço surpreende as pessoas porque não estão à espera de ver uma exposição aqui, ou algum tipo de trabalho que tenha uma linguagem mais de street art e depois têm aqui um lugar superorganizado dentro da cidade, no meio da Mouraria. Para este primeiro projecto, os artistas decidiram experimentar não colocar nenhuma informação, para ficar um registo silencioso na cidade", conclui Bruce.
Para Outubro têm já um projecto pensado para aqui, e em Novembro, outra exposição, com novos artistas.
Lama Prata, Espaço Manobra. Calçada de Santo André, 33.
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